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Justiça argentina retoma caso de DNA de herdeiros do Clarín

Nesta semana, a Justiça da Argentina retoma o caso de paternidade dos herdeiros do grupo Clarín, definindo os rumos da investigação para descobrir se os filhos adotivos da empresária Ernestina Herrera de Noble foram crianças sequestradas na época da ditadura militar.

Há oito anos, a verdadeira identidade de Marcela e Felipe Noble Herrera é questionada por organizações defensoras de direitos humanos na Argentina, principalmente a Associação das Avós da Praça de Maio.

Durante a última ditadura argentina (1976-1983), muitos filhos de prisioneiros políticos e desaparecidos foram adotados ilegalmente por militares ou por simpatizantes do regime. Com a redemocratização, entidades de direitos humano e movimentos como as Mães e as Avós da Praça de Meio lutaram para reencontrar as crianças tiradas das famílias. Até agora, 101 pessoas foram localizadas.

Nesta segunda-feira (2), a promotoria pediu que a Justiça decida “com urgência” se amostras de sangue que haviam sido retiradas em dezembro de 2009 podem ser examinadas para um teste de DNA.

As amostras estão no Instituto Médico Legal e não podem ser examinadas sem decisão judicial porque Felipe e Marcela, na época, autorizaram somente a comparação com o material genético de duas famílias que suspeitavam de parentesco. A promotoria pede que as amostras sejam comparadas com todas armazenadas no banco de dados genéticos nacional.

No fim do mês de junho, o banco de dados genéticos da Argentina informou que os exames de DNA de herdeiros do Clarín eram inválidos porque foram adulteradas. Nas peças de roupas entregues por Marcela e Felipe, havia material de mais pessoas. A extração de amostras genéticas foi ordenada pela Suprema Corte da Argentina após uma longa batalha judicial. Os herdeiros do Clarín sempre se recusaram a fazer os exames.

Suspeitas

A ativista de direitos humanos María Isabel Chorobik Marian (conhecida como "Chicha"), fundadora das Avós e da Associação Anahí, é uma das pessoas que suspeitam ter parentesco com Marcela. Ela acredita que a menina seja sua neta, Clara Anahí, filha de Diana Teruggi Mariani, morta em novembro de 1976.

Quando Clara tinha três meses e meio de idade, sua casa foi invadida pela polícia, sua mãe foi assassinada e criança foi levada. O pai, Daniel Mariani, foi morto pela polícia em agosto do ano seguinte.

Outra família sustenta a suspeita de que Marcela pode ser na realidade filha de Bárbara Miranda e de Roberto Lanuscou, militantes da guerrilha Montoneros, dados por mortos em um tiroteio com militares em setembro de 1976.

Uma terceira família quer esclarecer se Felipe é filho de María del Carmen Gualdero, sequestrada em junho de 1976, quando estava quase dando à luz, e que desapareceu depois de ter sido levada para uma prisão clandestina em Buenos Aires.

Adoção

Felipe e Marcela Noble, ambos de 33 anos, foram adotados em 1976 por Ernestina, viúva de Roberto Noble, fundador do Clarín.

Segundo documentos da adoção, em 13 de maio de 1976, Ernestina Herrera de Noble foi à Justiça com um bebê que chamou de Marcelam contando que a encontrara 11 dias antes em uma caixa abandonada na porta de sua casa. Ela apresentou como testemunhas uma vizinha e o caseiro da vizinha, cujos depoimentos foram desmentidos em 2001.

No caso do Felipe, Ernestina declarou que foi entregue, em 7 de julho de 1976, pela suposta mãe, Carmen Luisa Delta, que não podia ficar com o bebê. No mesmo dia, sem ter provas determinando as circunstâncias do nascimento, a Justiça concedeu a segunda guarda à dona do Clarín. Anos depois, foi descoberto que Carmen Delta nunca existiu.

Fonte: Opera Mundi