Justina Iva: "Natal nunca esteve nos últimos lugares"

O destaque potiguar fica por conta do município de São João do Sabugi, uma cidade de quase seis mil habitantes localizada há 242 quilômetros de Natal. Mesmo com o tamanho reduzido, e a pouca participação na economia do Estado, São João do Sabugi ficou com os melhores índices.

O que se pode perceber com a análise do Ideb nos últimos anos?
Justina Iva – Primeiro que não é verdade que Natal está com os piores índices do Estado. Mas antes de entender isso, é preciso entender outra coisa. Não existe um único Ideb, não é essa a metodologia do Governo Federal ao avaliar as escolas. Então, não dá pra fixar o Ideb de cada cidade assim no geral, como uma generalização. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais divide em três níveis: anos iniciais e anos finais do Ensino Fundamental e ensino médio. Então, isso tem que ficar claro para a população não ser enganada. Quando dizem: o Idep do município tal é 3 ou 4, não é verdade. Provavelmente, se refere ao índice de um desses níveis. O Ideb tem duas variáveis: o resultado de exames com o Prova Brasil e o rendimento escolar, que diz respeito aos dados de evasão escolar, aprovação, reprovação, etc.

Em quais desses níveis, a situação está melhor para o RN?
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Aqui conseguimos chegar mais próximos, ou não ficar tão longe, da média nacional. Quando vai se focando nos outros níveis, os resultados vão ficando piores até chegar ao Ensino Médio, onde o Estado do Rio Grande do Norte tem média 2,8 quando a escala vai até cinco e a média nacional é 3,6. Estamos falando de média. É possível encontrar escolas no Estado com resultado igual a 2,3, ou seja a metade da média nacional. Isso significa, em outras palavras que essas crianças não estão aprendendo quase nada.

Em relação a Natal, o resultado não é tão ruim?
A capital do Estado nunca esteve nos últimos lugares. Tivemos bons desempenhos, mas de 2007 a 2009 os índices se mantiveram os mesmos. Ou seja, em dois anos não houve melhoria. Caso a bagunça na educação municipal continue, esses índices devem piorar nos próximos anos. O Ideb é medido de dois em dois anos, sempre nos anos ímpares. A próxima medição será em 2011.

Analisando os números no Estado, os primeiros lugares são sempre de municípios do interior, com poucos recursos. Isso significa que nem sempre a fartura de verbas significa melhorias no ensino?
Sim. A empolgação dos professores, o envolvimento da comunidade e uma boa gestão ainda são fatores muito importantes. Em 2009, o destaque da educação no RN foi o município de São João do Sabugi. Lá tivemos a melhor nota dos anos iniciais do Ensino Fundamental e a segunda melhor dos anos iniciais. Em ambas acima da média nacional. São: 5,3 nas iniciais contra 4,6 no Brasil inteiro; e 4,5 nas finais, contra 4 em todo o país. Devo ir até lá para ver in loco os avanços, mas o que podemos dizer? Sem dúvida, deve existir um orgulho e uma vontade muito grandes dos professores. Isso faz a diferença. Então, você vê uma cidade como Mossoró, uma das mais ricas do Estado, que não consegue chegar a esses índices. Ou a capital que também não vai tão longe. Olha que Mossoró é alardeada como um dos melhores Ideb do RN, mas isso é somente nas séries iniciais. No que diz respeito às séries finais, houve uma regressão.
 

Jornal Tribuna do Norte,
de 15 de agosto de 2010