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Comitê Central diz que PCdoB só tem um caminho: crescer

Na abertura da 4ª reunião da direção comunista, Renato Rabelo diz que a grande responsabilidade do Partido é crescer numa campanha muito favorável ao nosso campo político. O Partido precisa atuar para corresponder a este desafio

O tom otimista em relação à campanha presidencial das forças de esquerda e da candidata Dilma Rousseff marcou o discurso de Renato Rabelo na abertura da 4ª Reunião do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil neste sábado (21). Ele vinha embalado pelo desempenho favorável da candidata mostrado pelas pesquisas de opinião, e pelo acentuado declínio do candidato da direita, o tucano José Serra, e já se desenha no horizonte a vitória de Dilma já no primeiro turno da eleição em 3 de outubro próximo. O potencial de crescimento de Dilma é muito grande, o povo vai compreendendo o papel chave que ela desempenhou no governo e ela é a candidata de Lula. “Na medida em que o povo compreende isso”, disse o presidente nacional do PCdoB, “seu crescimento é inevitável” principalmente na nova e decisiva fase da campanha iniciada pelo horário eleitoral gratuito.

Leia a íntegra da resolução da 4ª reunião da direção comunista

O candidato da oposição, José Serra, “entrou na contramão”, disse Renato Rabelo. Além de ter um projeto estrategicamente condenado, ele pensou de forma errada quando supôs que a situação seria favorável a ele por não ter Lula como candidato adversário e por imaginar que o presidente não transferiria votos para Dilma; Serra também não levou em conta a tendência de continuidade que prevalece no eleitorado – fatores que, aliás, o PCdoB já havia assinalado há bastante tempo.

Adotando um método impositivo e auto-suficiente, Serra dividiu seu partido (o PSDB), entrou em atrito com o governador mineiro Aécio Neves e impôs sua própria candidatura ao rejeitar uma prévia interna para definir o candidato tucano à Presidência da República. Acumulou dificuldades também com seu principal aliado – o DEM – e chocou-se com obstáculos na definição do candidato a vice em sua chapa. A trajetória de Serra indica uma sucessão de ilusões sucessivamente desfeitas. Acreditaram que a candidatura de Marina Silva (PV) poderia ser uma terceira via, mas ela não decolou. Depois, falou sucessivamente em unir o Brasil, apresentou-se como pós-Lula, depois como sucessor de Lula, e o “mais preparado” entre os candidatos. Agora, não sabe o que fazer nem como se apresentar e oscila entre a crítica ao Lula e a adulação ao presidente.

As ilusões tucanas se desfizeram sucessivamente até porque o povo sabe quem é o continuador de Lula, disse Renato Rabelo e Serra está – como disse o jornalista Élio Gaspari, num galope em direção ao nada. Revela uma perda de controle que é sinal da derrota iminente, disse Renato Rabelo.

Esse otimismo, que tem base real, tem provocado alguns ruídos na campanha de Dilma Rousseff, como a tendência à valorização excessiva do papel do PT na direção da campanha, reduzindo de certa forma o papel do Conselho Político da Campanha, em cujo âmbito aliás já foi aprovada a proposta de governo para o mandato de Dilma Rousseff. É uma situação diferente daquela que ocorreu na eleição de 2006, na qual o Conselho Político da Campanha teve um papel mais ativo.

A eleição deste ano reuniu uma extensa frente ampla em torno de Dilma constituída por partidos de esquerda e outros que formam a base do governo. Ela dá suporte ao discurso pragmático de Dilma Rousseff e exprime também a decisão de apoiar a candidata tomada por parte da burguesia brasileira. Aliás, acentua Renato Rabelo, a experiência da campanha revela a existência de um grande setor da burguesia brasileira embandeirada da necessidade de fortalecer a nação e que, nesse sentido, apoia a eleição de Dilma Rousseff e defende um programa desenvolvimentista, compreendendo que, face às grandes ameaças de nosso tempo, é o destino da nação está em jogo.

A linha ascendente da campanha permite também que se almeje outro objetivo, o de quebrar o domínio que as forças conservadoras mantêm no Senado e na Câmara dos Deputados. E que coloca no alvo eleitoral alguns dos oposicionistas mais ácidos no parlamento brasileiro. Além da eleição da presidente, o campo formado pelos partidos de esquerda, progressistas e nacionalistas tende a crescer, colocando no horizonte político a possibilidade real de uma importante mudança na correlação de forças nacional. Partidos conservadores como o PSDB, DEM e PPS poderão sair das urnas muito fragilizados, com risco inclusive de afundamento para um ou outro, avalia o presidente nacional do PCdoB.

O pano de fundo dessa mudança é a estabilidade econômica que o país vive, sem grandes problemas econômicos imediatos. O problema em perspectiva, disse o dirigente comunista, é o déficit em contas correntes externas; as pressões inflacionárias parecem ter cedido e o crescimento econômico foi retomado. Uma questão que freqüenta o noticiário diz respeito ao valor dos barris de petróleo que a Petrobrás deve pagar à União e que tem provocado um debate cuja questão não declarada é qual a Petrobrás que se quer, e se a União deve ou não exercer mais controle sobre ela. Na opinião de Renato Rabelo é mais correta a linha defendida pela ANP, pois defende uma Petrobrás mais estatal.

Focos de tensão mundial

Este desenvolvimento da situação interna de nosso país ocorre num quadro internacional em que os impasses que o imperialismo enfrenta vêem acompanhado do acirramento dos focos de tensão e ameaças de guerra. O Iraque e o Afeganistão se transformaram em verdadeiros pântanos nos quais se afunda a aventura guerreira do imperialismo; no Afeganistão, o imperialismo tem sido incapaz de derrotar a resistência, que controla grande parte do território do país.

Mas a natureza agressiva do imperialismo é fonte de novas tensões e há ameaças guerreiras contra o Irã e a República Democrática da Coreia. Na América do Sul, essa situação parece estar sendo contornada depois do fim do governo do direitista Álvaro Uribe, na Colômbia; depois da reunião entre os presidentes venezuelano e colombiano, respectivamente Chavez e Santos,  surgem sinais de um esforço para o encontro de uma saída para o conflito entre os dois países e isso aponta para o esvaziamento da tensão no continente. Na Europa, ao contrário, o quadro continua sendo de estagnação e crise, principalmente em países como Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e Itália, onde os efeitos da crise econômica ainda são devastadores.

PCdoB

A responsabilidade do PCdoB, na eleição de outubro, é crescer. Renato Rabelo foi enfático a este respeito. A palavra chave é crescer, disse. E será um retrocesso se o Partido não crescer. É um desafio muito grande a ser enfrentado pelos comunistas; a disputa é acirrada e a desigualdade é grande e desfavorável para o PCdoB principalmente pela disparidade de acesso aos recursos materiais cada vez mais necessários em campanhas eleitorais caras como as brasileiras.

Mesmo assim, o potencial de crescimento eleitoral do Partido é grande. Mas seu aproveitamento exige um esforço acentuado na reta final da campanha, com o objetivo de levar o Partido a um novo patamar na Câmara dos Deputados, alcançando a condição de partido médio. Nas campanhas proporcionais –Senado e governos estaduais – as possibilidades também são inéditas, com a chance de fortalecimento da bancada comunista na câmara alta, hoje formada apenas pelo senador Inácio Arruda, existindo a possibilidade concreta de eleição de Netinho de Paula cuja candidatura tem, em São Paulo, forte repercussão entre as massas, e de Vanessa Graziotin, no Amazonas, que as pesquisas de opinião mostram em empate técnico com o tucano Arthur Virgilio. E no Acre Edvaldo Magalhães é um dos nomes ao Senado na chapa apoiada pelas principais forças políticas do estado.

No Maranhão os comunistas vivem a situação inédita de, pela primeira vez na história, disputar com chances um governo estadual. É uma questão importante perante a qual o partido coloca-se como força política destacada no Maranhão, diz Renato Rabelo. A conjuntura política é difícil e contraditória e seu desdobramento levou à formulação de uma candidatura, a de Flávio Dino, que intensifica sua campanha que vem ganhando grande dimensão num estado onde crescer o anseio de renovação e mudança.

José Carlos Ruy, de São Paulo