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Desenvolvimento humano casado com o econômico pontua debate em SP

A Fundação Maurício Grabois e o PCdoB seguem o debate sobre os caminhos para um novo Brasil com o lançamento do livro Desenvolvimento, ideias para um projeto nacional. Organizada por Aloísio Sérgio Barroso e Renildo Souza, especialistas em economia, a publicação foi lançada na noite desta sexta-feira (20) com a presença do economista Luiz Gonzaga Belluzzo na sede do partido, em São Paulo. A tônica dos debates foi a importância da evolução humana no contexto do crescimento econômico.

Mesa lançamento livro Desenvolvimento - Priscila Lobregatte

Beluzzo, um dos autores participantes do livro, começou sua palestra lembrando que os modelos de desenvolvimento transformaram-se juntamente com as mudanças sofridas pelo capitalismo ao longo das últimas décadas, exigindo que o projeto atual seja diferenciado daqueles de outrora. Um dos pontos ressaltados foi a evolução humana.

“Não é automática, como se julgava, a conquista da autonomia do homem com o avanço puro e simples das forças produtivas. No caso dos anos 1970, o milagre econômico foi acompanhado de retrocessos políticos e sociais”, lembra Belluzzo.

No Brasil dos dias de hoje, “tivemos muitos avanços que trouxeram consigo novas questões, questões essas que os chineses souberam enfrentar concomitantemente”, disse Belluzzo, referindo-se à preocupação com o crescimento econômico casado com ações sociais e culturais que permitiram uma evolução harmônica entre a economia e os aspectos humanos no país asiático.

 
  Belluzzo: FHC não compreendeu o fenômeno da globalização

“Hoje é possível pensarmos nessas outras esferas porque conseguimos ultrapassar aquela política nitidamente desfocada aplicada durante os anos FHC. Ele não compreendeu o fenômeno da globalização, não entendeu a relação entre o nacional e o global e quis igualar tudo”, explicou o economista.

No caso da China, ao contrário, “o país se abriu ao capital estrangeiro de maneira articulada com as empresas estatais, mantendo o controle sobre o comércio exterior, a taxa de câmbio e o sistema de crédito público e ampliando os investimentos internos e o incremento da infraestrutura. Tudo isso casado garantiu um nível de desenvolvimento elevado”.

Belluzzo disse ainda que hoje o formato do desenvolvimento para o Brasil deve seguir a linha da integração independente com um raio de manobra internacional. “Essa foi a percepção dos chineses que puderam crescer a taxas de em média 8% integrando o povo a esse processo de desenvolvimento”, colocou.

No contexto brasileiro atual, o economista disse que é preciso haver a transição entre políticas assistencialistas – que foram importantes nos últimos anos e ganharam uma dimensão mais profunda com o governo Lula – para uma fase de integração da população ao crescimento econômico. “Na Europa, há um desemprego enorme especialmente na faixa entre 16 e 25 anos. E o Brasil não está livre disso. A saída é absorver essas pessoas à atividade produtiva com políticas de geração de emprego para setores deficitários, tais como educação, cultura, saúde e meio ambiente”.

Para Belluzzo, o “capitalismo não dá conta dessas que são áreas importantes para a sociedade. Por isso, é preciso que o Estado aposte em políticas de criação de emprego e administre esses setores de forma pública”.

Segundo ele, é preciso, primeiramente, “fazer com que a economia nacional seja autônoma frente ao mundo”. O contraponto a isso é a economia norte-americana, que mostrou ser “um modelo fracassado, onde o endividamento sobe enquanto a renda desce. E o país não conseguirá recuperar as empresas que deixaram o país”. Esta “não é uma crise meramente conjuntural ou financeira, mas estrutural do capitalismo. A economia capitalista não soube resolver seus problemas e foi empurrando-os com a barriga”, pontuou.

Belluzzo voltou a reafirmar a importância da questão humana. “Nossa juventude tem uma formação cultural, humana e educacional muito ruim e dentre os responsáveis por isso estão o mass media e a desestruturação familiar. O resultado é o individualismo grosseiro de nossa sociedade”.

Por fim, salientou: “o desenvolvimento humano precisa ser cuidado coletivamente porque ele não vai decorrer naturalmente do desenvolvimento econômico”.

Temática de longo prazo

 
Barroso: é inegável a melhora do país  

Durante o evento, Aloísio Sérgio Barroso, um dos organizadores do livro, destacou que no momento atual “devemos perseguir a vitória (eleitoral, com Dilma Rousseff) e desdobrá-la para a questão do desenvolvimento”. Para o dirigente do Comitê Central do PCdoB, “a construção do desenvolvimento nacional, em todas as suas esferas, deve ser uma preocupação de longo prazo”. 

Segundo Barroso, é “inegável a melhora pela qual o país passou nos últimos oito anos” e o livro é uma contribuição para “levantarmos elementos críticos que demonstram a necessidade de continuar e aprofundar esse caminho no rumo da aplicação de um novo projeto nacional de desenvolvimento”.

Nas palavras do presidente da Fundação Maurício Grabois, Adalberto Monteiro, “os dois mandatos de Lula possibilitaram criar alicerces para um desenvolvimento robusto e duradouro com distribuição de renda, valorização do trabalho, integração regional e continental, equilíbrio entre produção e meio ambiente e a constituição de uma sociedade realmente humanista”.

 
  Monteiro:  saúde é um drama humano pungente

Para ele, “a riqueza adquirida deve ser canalizada para o florescimento da educação, da cultura e da saúde. A saúde, especialmente, é um drama humano pungente que não pode ser naturalizado”. Para o dirigente comunista, “o Gigante está se erguendo, dando passos, e esses passos podem ser acelerados com um novo projeto nacional de desenvolvimento em que o desenvolvimento humano esteja inserido. É dessa forma que nos aproximamos do socialismo”.

O livro Desenvolvimento, idéias para um projeto nacional pode ser adquirido na editora Anita Garibaldi

De São Paulo,
Priscila Lobregatte