PCdoB coordena debate sobre defesa em encontro do Foro de SP
As tensões entre a Colômbia e a Venezuela – provocadas ao apagar das luzes do governo Uribe – e a insistência da direita brasileira, num ato de desespero eleitoral, de trazer para o debate interno brasileiro o conflito colombiano fez com que as discussões sobre aspectos relacionados à segurança e à defesa tivessem destaque no 16º Encontro do Foro de São Paulo. A reunião ocorreu na semana passada, em Buenos Aires, Argentina.
Publicado 24/08/2010 20:01
O debate enfatizou a importância de as forças progressistas da região terem como bandeira a defesa da América do Sul como uma zona de paz. O Foro de São Paulo é a principal articulação da esquerda latino-americana e caribenha, reunindo dezenas de partidos políticos da região, dentre eles os que lideram as experiências progressistas à frente de governos nacionais na América Latina e Caribe.
Por indicação do Grupo de Trabalho – instância de coordenação do Foro de São Paulo –, Ronaldo Carmona, da Comissão Internacional do PCdoB, coordenou e introduziu os debates sobre Defesa no 16º Encontro.
A mesa contou com a exposição de Alfredo Forti, vice-ministro de Defesa da Argentina e recém nomeado como primeiro diretor do Centro de Estudos Estratégicos do Conselho Sul-Americano de Defesa da Unasul (União das Nações Sul-americanas). Fernando Azcoaga, do ILSED (Instituto Latino-Americano de Segurança e Democracia) ajudou na coordenação da mesa, que reuniu dezenas de participantes de vários países da região, no histórico Palácio San Marti, sede da chancelaria argentina.
A discussão repercutiu em órgãos da grande imprensa nacional. Na Agencia Estado, por exemplo, apareceu que “para o coordenador da comissão que discute as políticas de defesa regional e continental do Foro, Ronaldo Carmona, da Comissão de Relações Internacionais do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), o conflito entre Colômbia e Venezuela também será um ponto de destaque do documento (que foi aprovado ao fim do encontro). ‘Vamos enfatizar a necessidade de uma negociação pacífica entre os dois países e em defesa da paz na região’, disse”. (1)
Na abertura da mesa, o representante do PCdoB observou a importância da esquerda latino-americana debater temas estratégicos, num contexto de redefinição do papel da América Latina e, em especial, da América do Sul no mundo. Carmona destacou que o fato de questões de defesa serem debatidas entre as forças progressistas e de esquerda da América Latina é um demonstrativo de que a questão nacional passa a ter crescente centralidade na luta pelo avanço dos projetos nacionais de desenvolvimento em curso na região.
O representante do PCdoB valorizou o recente Acordo de Teerã, assinado entre Irã, Brasil e Turquia, como parte da luta dos países em desenvolvimento por desconcentrar poder no mundo. Carmona também destacou, como principal problema de segurança e defesa da América do Sul, a constante instabilidade provocada pelo governo da Colômbia, que reiteradamente apresenta fatores de tensão na região – que tradicionalmente caracteriza-se como uma zona de paz, perturbada pela presença de atores extra-regionais – como os Estados Unidos na Colômbia e no Peru – junto à intensa presença da OTAN no Atlântico Sul, através de ilhas-bases, localizadas em frente às costas brasileira e argentina.
Ronaldo Carmona denunciou o cerco geográfico ao Brasil, advindo das bases colombianas cedidas aos Estados Unidos – em relação à Amazônia brasileira –, e das ilhas britânicas bases da Otan no Atlântico Sul – como ameaça direta à Amazônia Azul. Tal cerco representa assim, graves problemas para a segurança nacional na América do Sul.
Nesse sentido, ele destacou, como exemplo importante de resistência, a recente definição da Estratégia Nacional de Defesa Brasileira, que atualiza desafios estratégicos do país, e a constituição do Conselho Sul-Americano de Defesa, no âmbito da Unasul.
O representante do PCdoB concluiu ressaltando a importância de constituir pensamento geopolítico e estratégico próprio da América do Sul, adequado aos desafios contemporâneos, e abandonando os velhos preceitos pan-americanistas do período da guerra fria.
Esse debate contou com importante contribuição de Alfredo Forti. O vice-ministro apresentou como grande desafio para a Defesa na região a constituição do que ele chamou de “pensamento geopolítico nitidamente sul-americano”.
As conclusões da discussão sobre Defesa, no 16º Encontro do Foro de São Paulo, foram posteriormente apresentadas, em plenário, ao conjunto dos delegados presentes ao evento.
Questões importantes que apareceram no debate sobre Defesa, como a situação da Colômbia, o novo Conselho Sul-Americano de Defesa e a questão das Malvinas foram incorporadas na Declaração Final do 16º Encontro.
(1) http://www.estadao.com.br/noticias/internacional,foro-de-sao-paulo-comeca-com-apoio-a-manuel-zelaya,596433,0.htm
Da redação, com informações da Secretaria de Relações Internacionais.