PSDB admite que fator Lula-Dilma deve alavancar Mercadante em SP
O peso da campanha presidencial pode alterar os rumos da corrida para o governo de São Paulo. É o que começam a admitir, reservadamente, tucanos ligados à campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) — que já preveem um possível crescimento do petista Aloizio Mercadante nas pesquisas e a probabilidade de segundo turno na disputa ao governo.
Publicado 26/08/2010 16:04
Segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (26), a presidenciável Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando, acaba de ultrapassar o tucano José Serra no eleitorado paulista. Em São Paulo — estado governado por Serra até abril e por tucanos há 16 anos —, Dilma saiu de 34% na semana passada e está com 41% agora, enquanto o ex-governador caiu de 41% para 36%. Já na capital paulista, administrada por Gilberto Kassab (DEM), aliado de Serra, Dilma tem 41% e ele, 35%.
Outro trunfo de Mercadante é a alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo. Nos programas de rádio e TV, o PT tem se utilizado de mensagens de Lula para alavancar a candidatura de Mercadante. Nas ruas, com agenda turbinada no estado, Lula pediu a criação de "fatos políticos" para que o petista cresça e vá para o segundo turno.
Oficialmente, os tucanos têm afirmado que as incursões de Lula na propaganda eleitoral de Mercadante são "o retrato da falta de discurso e de propostas" do candidato do PT. E que o presidente tenta passar uma "senha" ao propor, em eventos públicos, a criação de "fatos políticos". Contudo, o clima no partido, segundo outro tucano, é de cautela.
Em avaliações internas, o patamar de votos de Alckmin pode até se manter, mas a probabilidade de crescimento de Mercadante é considerada alta. "Trabalhamos com a hipótese de que o PT tem um porcentual no Estado de São Paulo maior do que aquele que vem sendo apresentado pelo Mercadante", observou o presidente do PSDB paulista, deputado Mendes Thame.
Na sondagem do Instituto Datafolha de 21 de agosto, Alckmin apareceu com 54% da preferência do eleitorado, contra 16% de Mercadante. A manutenção desses porcentuais, considerada difícil, garantiria ao tucano vitória ainda no primeiro turno. "O fato é que a gente não analisa a pesquisa no momento, mas dentro de um contexto histórico", avalia um dirigente tucano.
Nas ruas
Na quarta-feira (25), em clima pós-debate Estadão/TV Gazeta, Mercadante foi a Taubaté e Pindamonhangaba, no Vale do Paraíba, região de forte influência política de Alckmin, para fazer corpo a corpo. O petista declarou que, caso vá ao segundo turno, pretende buscar o apoio dos demais candidatos. "De certa forma, todos os que saíram candidatos são contra o PSDB no governo de São Paulo. Vamos fazer uma ampla frente para vencer as eleições."
O esforço do PT nacional e do governo Lula, na atual etapa da campanha, é trabalhar para derrotar o PSDB nos dois maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e Minas Gerais. Nos planos do comando da campanha do PT, derrotar o tucanato em São Paulo seria uma vitória tão espetacular quanto eleger Dilma em primeiro turno.
Esta é a razão do rolo compressor que passou pelo estado no último fim de semana, quando Lula e Dilma tiveram várias agendas eleitorais, iniciadas com um comício na noite de sexta-feira e concluídas com um evento de forte simbolismo na porta da fábrica da Mercedes-Benz, em São Bernardo do Campo, onde Lula surgiu para o sindicalismo e para o cenário político nacional .
Lula reclamou da falta de diálogo entre a campanha de Mercadante e da candidata do PT ao Senado, Marta Suplicy e da falta de entusiasmo da militância. Rebateu o discurso de que “o esforço agora é tentar chegar ao segundo turno”.
O presidente sabe que o crescimento de Mercadante, mesmo que não seja suficiente para assegurar a vitória para governador, significa mais pontos para Dilma. "Se o Mercadante for eleito, ótimo, é um aliado fiel nosso. Mas o nosso objetivo é a Dilma derrotar Serra em São Paulo", explicitou um integrante do núcleo da campanha.
“Fatos políticos”
Na sexta à noite, em discurso em Osasco, Lula anunciou que sua prioridade na eleição é o estado. Para conquistar um triunfo no maior colégio eleitoral do país, ele cobrou da coordenação da campanha Mercadante a criação de uma lista de temas políticos para atacar a gestão tucana.
Os assuntos não deverão ser muito diferentes do que Mercadante tem criticado dos governos tucanos, como educação e segurança. No discurso, o presidente citou o primeiro deles: os pedágios. Disse que os valores cobrados nas estradas paulistas são "um roubo".
Ainda na noite de sexta, Lula conversou com Mercadante, com o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, coordenador da campanha ao governo, e com o presidente do PT-SP, Edinho Silva. Segundo Lula, suas participações na campanha no estado, por meio da TV e de comícios, não são suficientes para virar a disputa — é preciso haver "fatos políticos" para atacar os tucanos.
Da Redação, com agências