Assis Melo quer ampliar representação dos trabalhadores na Câmara

Gaúcho de origem simples nascido em 1962 na pequena cidade de Monte Alegre dos Campos, Assis Melo superou suas próprias expectativas. Profissional soldador-montador, formou-se no ensino médio aos 43 anos. Aos 46, foi eleito o vereador mais votado de Caxias do Sul e hoje disputa uma das 513 vagas da Câmara Federal. Com uma trajetória marcada pela luta sindical e pelo socialismo, ele diz que no Congresso espera poder “ocupar o vazio que ainda há na representação dos trabalhadores”.

Assis Melo - Marcio Schenatto

A entrada de Assis Melo na política teve início no chão da fábrica. O comunista metalúrgico, funcionário da Marcopolo, logo se tornou sindicalista e, pouco tempo depois, assumiu a presidência de uma das mais importantes entidades de sua categoria no país, o Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, que representa cerca de 50 mil trabalhadores.

A Serra Gaúcha concentra grandes indústrias, mas apesar da riqueza da região, os problemas sociais comuns às demais cidades brasileiras também estão presentes. Entre eles, dois têm chamado mais a atenção de Assis: infraestrutura e educação para a juventude. “Não temos, por exemplo, um aeroporto de cargas, apesar de existir demanda devido à indústria bastante diversificada que temos na região. Outro ponto é a mobilidade urbana – o transporte para a população ainda está aquém das necessidades”. À frente da Comissão Pró-extensão da Universidade Federal da Câmara caxiense, Assis tem lutado para a implantação de faculdade pública na região, bandeira que pretende também levar ao Congresso Nacional.

Nesta entrevista ao Partido Vivo, Assis fala sobre sua experiência e sobre as ideias que pretende levar ao Congresso. “Este é um compromisso que assumi desde o início de minha trajetória sindical e partidária e tenho procurado trabalhar sendo coerente com esses princípios: reafirmando uma política que radicaliza do ponto de vista das ideias, mas que tem amplitude para ouvir as pessoas e propor alternativas”, diz.

Partido Vivo: Você foi o vereador mais votado na história da cidade. Isso influenciou sua atuação na Câmara Municipal de Caxias do Sul?
Assis Melo: A votação nos possibilitou chegar à Câmara numa posição bastante positiva. De 17 vereadores, o PCdoB tem dois [o próprio Assis e Renato José Ferreira de Oliveira]. Conseguimos traçar uma atuação ligada ao nosso povo, fazendo o que era melhor para a cidade. O prefeito é do PMDB e lá o PT é oposição, mas nós nos definimos, ao chegar à Câmara, por manter o nosso espaço fazendo a nossa própria política. Fizemos um trabalho justo e coerente em cima de uma visão mais ampla, uma política de votar a favor daquilo que interessasse à população. Agora, é importante ressaltar que o parlamento, embora seja conhecido como espaço do povo, na verdade ainda tem muito individualismo, o que por vezes dificulta a implantação de um projeto político.

Partido Vivo: O que sua vivência no mundo sindical – tendo que negociar com o patronato de um dos principais polos metalúrgicos do país, ao lado dos trabalhadores em grandes batalhas sindicais – trouxe para sua atuação parlamentar na Câmara de Caxias e o que pode acrescentar à sua atuação como deputado federal?
AM: Acrescenta muito, especialmente porque minha atuação como vereador e como líder sindical é fruto de uma política coerente do partido que ajudei a aplicar e da credibilidade adquirida não somente diante da categoria, mas também dos empresários principalmente no setor metalúrgico. Sempre fiz aquilo com que me comprometi, sempre soube dialogar com os empresários, bem como com os metalúrgicos, opinando no sentido de defender os trabalhadores. Este é um compromisso que assumi desde o início de minha trajetória sindical e partidária e tenho procurado trabalhar sendo coerente com esses princípios: reafirmando uma política que radicaliza do ponto de vista das ideias, mas que tem amplitude para ouvir as pessoas e propor alternativas para o desenvolvimento de nossa região, estado e país. Do ponto de vista partidário, isso significa dialogar com as demais forças políticas sem abrir mão das convicções do PCdoB.

Partido Vivo: É mais difícil ser sindicalista ou ser parlamentar?
AM: Com certeza, a luta sindical é mais difícil, ainda que seja preciso que os parlamentares tenham cada vez mais comprometimento com a sociedade. A luta sindical é diária, permanente e difícil porque envolve sempre interesses econômicos; portanto, é uma luta muito repetitiva, mas também necessária. Na vida parlamentar você tem um peso político maior e não tem necessidade de “matar um leão por dia” como ocorre no movimento sindical, onde o trabalhador quer e precisa de respostas imediatas. No entanto, saliento que a maior facilidade em lidar com a carreira política não significa ter menos responsabilidade com suas ações.

Partido Vivo: Como tem sido a receptividade ao seu nome?
AM: Nossa candidatura partiu da percepção do PCdoB de que era necessário ampliar seu espaço na Câmara Federal. E identificamos que ainda faltam lideranças ligadas aos trabalhadores, que se identifiquem mais diretamente com essa classe. Os metalúrgicos, por exemplo, têm uma representatividade boa na região da Serra Gaúcha, onde somam cerca de 50 mil trabalhadores. Ao analisar tudo isso e com base na votação que tive como vereador e no trabalho à frente do sindicato, o PCdoB viu que era importante lançar meu nome para deputado federal para podermos ocupar esse vazio que ainda há na representação dos trabalhadores e defender no Congresso propostas dirigidas a essa numerosa fatia da população, colocando bandeiras que temos levantado há anos, tais como a redução da jornada de trabalho, o fim do fator previdenciário, o reajusta aos aposentados, além de podermos contribuir para a construção de um país mais desenvolvido, soberano e justo.

Partido Vivo: Além da defesa dos trabalhadores e aposentados, você também tem defendido uma maior atuação em prol da juventude…
AM: Hoje na Câmara de Caxias do Sul já estamos trabalhando com a juventude dentro de uma bandeira essencial que é a implantação da universidade federal em nossa região, que reúne 48 municípios, e é uma das mais importantes do estado. Lá, estou à frente da Comissão Pró-extensão da Universidade Federal; esta é uma luta nova que travamos nesse período em que estou na Câmara e que teve forte apelo e contou com a sensibilidade da sociedade como um todo. Estamos lutando muito por isso e uma vez na Câmara Federal, poderei trabalhar ainda mais por esta bandeira e pela educação de nossos jovens.

Partido Vivo: Quais são as principais demandas de Caxias do Sul e região e como poderia, na Câmara Federal, contribuir para respondê-las?
AM: Nossa região, embora seja desenvolvida e rica em recursos, tem muita carência ainda na questão da infraestrutura. Não temos, por exemplo, um aeroporto de cargas, apesar de existir demanda devido à indústria bastante diversificada que temos na região; a logística de transporte aqui sofre certa dificuldade. Outro ponto é a mobilidade urbana – o transporte para a população ainda está aquém das necessidades. Estas são algumas das questões que precisam ter uma melhor intervenção federal. Além disso, é essencial lutarmos por um projeto nacional de desenvolvimento para o país, no qual a região se inclui. Temos muito trabalho pela frente para se estabelecer uma política que reflita as necessidades da região.

Partido Vivo: Que avaliação faz do governo de Yeda Crusius (PSDB)?
AM: O nosso estado, infelizmente, passou os últimos quatro anos estagnado. Tivemos muita dificuldade porque Yeda não soube construir um projeto de estado vinculado ao desenvolvimento de nosso país. Mas, queremos recuperar esse tempo perdido. Temos o projeto de governo com Tarso Genro, apoiado por PT, PSB, PCdoB e PR, que pode retomar a direção do estado e colocar o Rio Grande nos trilhos do desenvolvimento, incluído num projeto de nação.

Partido Vivo: O que o fato de Lula, torneiro mecânico, ter sido eleito, reeleito e aprovado pela maioria da população trouxe para os trabalhadores, especialmente para aqueles que, como você, quer partir para a atuação política?
AM: Lula foi muito importante porque entre outras coisas elevou a auto-estima de nosso povo de maneira geral. Mas, mais do que isso, Lula conseguiu desenvolver o país, colocando o Brasil numa posição respeitada no exterior, trazendo melhores condições de vida ao nosso povo. Além disso, o trabalhador percebeu que alguém como ele pode ter uma visão política que seja positiva para a maioria da nação. Isso nos favorece muito para poder desenvolver nossa política e mesmo disputar essa vaga na Câmara Federal.

Partido Vivo: Que papel tem Dilma Rousseff no processo aberto por Lula?
AM: Dilma tem um papel fundamental porque sabe que o país precisa dar prosseguimento ao projeto iniciado por Lula, mas não só isso; é preciso aprofundar essas transformações. E nosso papel como agente político é trabalhar nesse mesmo sentido.

Partido Vivo: Como casar a defesa de objetivos estratégicos para o PCdoB, como o novo projeto nacional de desenvolvimento, com as necessidades de sua região?
AM: É possível fazer esse “casamento” desde que tenhamos visão sobre o que está ocorrendo em cada momento. O Brasil precisa cada vez mais de desenvolvimento e este é um caminho que precisa ser trilhado. Então, no momento em que se desenvolvem bandeiras democráticas – como as reformas que temos defendido – podemos alcançar avanços importantes para todo o país. É preciso, portanto, ter uma visão tática, mas sem abrir mão do princípio estratégico do PCdoB: a luta pelo socialismo.

Da redação,
Priscila Lobregatte