A um mês das eleições, analistas apostam na vitória de Dilma
Faltando um mês para as eleições nas quais será eleito o novo presidente do Brasil, poucos duvidam da vitória da governista Dilma Rousseff (PT), ao ponto de o opositor José Serra (PSDB) ter mudado seu slogan para "É a hora da virada". Mas, segundo analistas políticos, Serra já perdeu a eleição e só um fato muito bombástico poderia mudar o rumo da campanha.
Publicado 03/09/2010 16:21
Apenas um mês separa o futuro presidente do Brasil de sua consagração pelas urnas, e o desempenho do atual ocupante do cargo, até agora apontado como decisivo para efetivar Dilma Rousseff (PT) como a primeira mulher a ocupar a Presidência, não deve mais ser o único fator a impulsionar a ascensão da candidata, que se delineia desde o fim de maio. O adversário José Serra (PSDB), por sua vez, enfrenta as dificuldades de uma campanha que agora aposta em uma virada nas urnas, feito considerado improvável diante da atual conjuntura.
Em quase três meses de campanha, em uma disputa polarizada entre as duas candidaturas, Serra viu seu nome deixar a dianteira e, hoje, luta pelo segundo turno. Já Dilma despontou auxiliada pela alta popularidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Sempre que Dilma apareceu junto a Lula de forma massiva, ela mudou de patamar. A aprovação recorde de Lula é o pano de fundo dessa eleição”, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.
Crescimento contínuo
Segundo Paulino, a influência de Lula foi reforçada junto ao eleitor graças à televisão, o meio de comunicação mais presente na vida dos brasileiros, com o início da propaganda eleitoral gratuita e da cobertura dos candidatos pelos telejornais. “Chamamos de disparada, mas é um crescimento contínuo, que até aqui foi constante em todos os setores. Dilma cresceu inclusive nos redutos tradicionais de Serra, como São Paulo e a região Sul”, diz.
Avaliação semelhante tem o cientista político Claudio Couto, da FGV-SP. "É super nítida a subida da Dilma, mas ela é resultado de uma continuidade, essa subida já vinha acontecendo há muito tempo. A entrada da televisão na campanha acentua esse processo. E esse crescimento era previsível porque ela é a candidata de um governo extremamente popular, na figura do presidente Lula", avalia.
Sem chances de virada
No dia 25 de maio, o Datafolha mostrou pela primeira vez um empate técnico entre os então pré-candidatos. Em agosto, após o início da propaganda na TV, não só Dilma estava isolada nas pesquisas, como a percepção do eleitor era a de que a candidata seria eleita. Naquele mês, Dilma cresceu em todos os Estados, e Serra só mantinha a liderança no Sul. A vantagem passou existir inclusive no segundo maior colégio eleitoral do país, a Minas Gerais daquele que recusou a oferta de vice do tucano, o aspirante ao Senado Aécio Neves.
Em uma estratégia definida por petistas como errática, Serra mudou o tom. Engrossou as críticas, sem atacar diretamente Lula. E até mudou o slogan da campanha. “O Brasil pode mais” tornou-se “É a hora da virada”. A aparição de Lula em eventos públicos com Serra chegou a ser explorada pela sigla, sob a voz de um locutor que defendia: "Serra, a vivência que a Dilma não tem". O reflexo nas pesquisas, porém, não veio.
“Luz própria”
O principal motivo, segundo Paulino, é o de que a imagem de Lula, por si só, não transmite votos. “Com o horário eleitoral gratuito, Dilma ganhou voz e passou a ter uma identidade própria. Essa fase de associação a Lula está esgotada. Hoje, ela é considerada pelo eleitor como a candidata à Presidência, e não mais a candidata do presidente. Ela já se afirma com uma luz própria”, avalia.
A presença na televisão também se mostrou ineficaz desatrelada de outros fatores. A candidata Marina Silva frustrou as expectativas do PV, que contava com um crescimento automático após as aparições de sua representante em cadeia nacional. A candidata praticamente não oscilou desde que as inserções tiveram início.
Para Couto, soma-se a isso o que chama de "campanha catastrófica". "Seria difícil conter a escalada de Dilma, mas a queda de Serra se deve ao caráter errático e ambivalente dessa campanha, inclusive com perda de votos do tucano para a petista. É uma candidatura que se apresenta ao mesmo tempo como lulista e com um discurso de direita. É contraditório, difícil de o eleitor acreditar", afirma.
Voto de Dilma é o mais consolidado
Ainda que Dilma tenha um crescimento considerado constante, para Paulino, é difícil prever o desenrolar das pesquisas, mas, segundo ele, é improvável que o quadro se reverta até o dia 3 de outubro. Há ainda, no entanto, um alento à esperança tucana de conseguir impedir uma derrota de primeira. “Em 2006, Lula tinha uma vantagem sobre Alckmin quando surgiu o escândalo dos aloprados [a suposta compra de um dossiê contra Serra por petistas em SP], e o tucano conseguiu tirar alguns votos e levou para o segundo turno”, afirma.
O ponto contra é a atual popularidade do presidente que, até então, não era tão alta. “Hoje é mais difícil, porque Lula dá esse respaldo a sua candidata. E o voto dela é o mais consolidado. Mas esse problema com a Receita Federal está tomando conta das manchetes. Precisa ver se isso se reflete nas próximas pesquisas”, aponta.
Já Claudio Couto é enfático. "Serra só vai ganhar se descobrirem que Dilma está envolvida na morte de Eliza Samudio [ex-amante do goleiro Bruno]."
A próxima pesquisa Datafolha será divulgada neste sábado (4). Na mais recente, Dilma aparece com 49% das intenções de voto, contra 29% de Serra (margem de erro de dois pontos). A pesquisa foi publicada no dia 26 de agosto.
O voto entra pelo bolso
"O voto entra pelo bolso, alimenta o estômago e chega ao coração". É com essa frase que o especialista em marketing político e eleitoral Gaudêncio Torquato define o caminho do voto no processo eleitoral brasileiro. Com essa mesma ideia, o consultor político defende que o candidato à presidência da República pelo PSDB, José Serra, precisa de um um "grande acontecimento" para alavancar sua campanha.
Questionado, então, sobre o impacto de denúncia de quebra de sigilo da filha do candidato, Verônica Serra, Torquato afirmou que o caso tende a não ter grande relevância para a campanha. "Eu acho que o povo não vai se incomodar muito com isso, porque não está dentro daquela equação que, na minha opinião, norteia o voto no País". Para o especialista, o caso da quebra de sigilo corrobora as posições das alas que já tomaram partido. "Isso enraivece a oposição e deixa os governistas mais cautelosos", analisou o professor, na quinta-feira (2), durante palestra sobre a Realidade Brasileira, no Hotel Grand Hyatt, em São Paulo.
Com agências