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Última esperança dos DEM, Rosalba esconde Serra da campanha no RN

Os 52,7 mil quilômetros quadrados do Rio Grande do Norte poderão se tornar, a partir do próximo ano, o último refúgio no país para o DEM. Entre os 2,2 milhões de eleitores potiguares — ao contrário do que ocorre com todos os outros estados em que o partido disputa o governo —, quem lidera as pesquisas é uma integrante da sigla.

Aos 58 anos, a senadora Rosalba Ciarlini, pertencente a uma das oligarquias políticas mais longevas do Brasil, ganharia o governo estadual no primeiro turno, se as pesquisas feitas pelo Ibope, Ipespe e Vox Populi no fim de agosto estiverem corretas.

Sempre de cor de rosa nos atos públicos, a senadora mostra desenvoltura no palanque. Em dois minicomícios na noite de segunda-feira, no bairro das Rocas, em Natal e em Canguaretama, cidade de 30 mil habitantes a 70 quilômetros da capital, Rosalba demonstrou que sua linha de raciocínio com o microfone na mão está a uma distância sideral do discurso nacional de seu partido.

"Olha, gente, o Brasil melhorou muito nos últimos anos, não é? E o nosso estado? Como está a saúde, a educação, a segurança?", indagou, fazendo uma pausa e ouvindo algumas manifestações da plateia. "O nosso estado não pode continuar sendo o estado das perdas.”

Bem ao gosto do DEM, a candidata cita nada menos que a Veja para justificar um dos eixos de sua campanha: “Vocês já ouviram falar da revista Veja? Viram a matéria que ela publicou colocando Mossoró como uma das cidades que mais se transformaram no país?".

Nova pausa, após a referência a um levantamento do país que destacou, junto a dezenas de outros municípios, a cidade em que foi prefeita por dois mandatos e meio. A senadora conclui pedindo votos também para a reeleição ao Senado de Garibaldi Alves (PMDB) e José Agripino Maia (DEM). Nenhuma palavra foi dita sobre o candidato do PSDB, José Serra.

Serra apareceu com minguados 22% no levantamento do Ibope, ante os 61% obtidos pela candidata Dilma Rousseff, da coligação Para o Brasil Seguir Mudando. A mesma pesquisa mostrou uma aprovação local ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva de 86%. É essa discrepância que explica o oportunismo de Rosalba?

"Votei no Lula no primeiro e no segundo turno em 2002. O Serra é o melhor candidato e eu o apoiaria este ano em qualquer circunstância, como de fato apoio. Mas não há como negar que o governo Lula teve muita coisa boa, sobretudo o programa Bolsa Família", desconversa.

O Bolsa Família virou um dos eixos centrais da campanha no Rio Grande do Norte. Na quarta-feira, o governador e candidato à reeleição Iberê Ferreira (PSB) — que apareceu com 25% no Ipespe e no Ibope — enviou para a Assembleia Legislativa um projeto de lei instituindo um subsídio adicional de 15% sobre o valor que os atuais beneficiários do programa federal recebem. Os recursos sairiam de um aumento de dois pontos percentuais na alíquota do ICMS sobre a energia elétrica.

Rosalba contra-atacou em duas frentes. Seu candidato a vice, o presidente da Assembleia Legislativa, Robinson Faria (PMN) apresentou uma emenda elevando o subsídio para 25% e cortando o aumento tributário. No programa de rádio e TV, um locutor afirmou que a proposta de Iberê era eleitoreira.

A oligarquia

Rosalba Ciarlini é casada com o ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, filho do antigo governador Dix-Sept Rosado, falecido no exercício do cargo em 1951. Sua irmã, Ruth Ciarlini, é a vice-prefeita de Fátima Rosado, prima de seu marido. Seu cunhado, Betinho Rosado, é deputado federal e candidato à reeleição. Dois tios de seu marido, Dix-Huit e Vingt Rosado, foram deputados federais.

O avô de Rosalba, o engenheiro Pedro Ciarlini, foi um assessor do avô do marido da senadora, Jerônimo Rosado, cacique político de Mossoró e autor da exótica ideia de batizar parte de seus 21 filhos com numerais franceses. O engenheiro Ciarlini também foi particularmente prolífico: Rosalba conta com 36 tios paternos.

A descendência oligárquica é colocada por Rosalba como um trunfo, em um dos estados com uma das elites políticas mais fechadas do país. Se eleita, Rosalba será a primeira governadora fora da região metropolitana de Natal desde a redemocratização, ainda que hoje more em um imponente edifício na beira-mar da capital.

"A chave para a dianteira de Rosalba é a regional. Mossoró teve uma melhora de infraestrutura considerável durante a gestão dela e isso fez com que ela fosse eleita em 2006", disse José Agripino. Cidade com 160 mil eleitores, mais próxima de Fortaleza do que de Natal, Mossoró é a segunda maior recebedora de royalties da exploração de petróleo e cidade polo de um núcleo de fruticultura irrigada. Desde que a Constituição de 1988 aumentou as transferências para os municípios, Rosalba ganhou diretamente três eleições municipais e elegeu-se senadora.

Mídia atuante

Principal liderança da chapa adversária, a ex-governadora Vilma de Faria (PSB) adiciona outro elemento para explicar a dianteira da candidata, além da estrutura partidária, da boa administração em Mossoró, da sua desenvoltura no palanque, da força do interior e da ausência de um discurso oposicionista em relação a Lula.

"Eles controlam, diretamente ou indiretamente, as principais cadeias de televisão e rádio. Frequentaram os programas de entrevistas antes do início dos calendário eleitoral e contam com um exército de locutores e comentaristas para criticarem incessantemente o governo estadual. Foi assim que ganharam a prefeitura de Natal em 2008", afirmou.

Em 2008, a então governadora Vilma apoiou a deputada Fátima Bezerra (PT) para a prefeitura. A petista contou com o apoio do governo municipal e do governo federal em grande estilo, com direito a presença de Lula em seu palanque atacando seus adversários diretos. O resultado foi a vitória em primeiro turno de Micarla de Sousa, do PV, mas totalmente ligada a Agripino. Micarla é da família proprietária da rede Ponta Negra, que retransmite a programação do SBT e conta com uma série de programas locais.

Em 2006, Vilma reelegeu-se com dificuldade, batendo Garibaldi Alves no primeiro turno por 0,9 ponto percentual de diferença e no segundo turno por quatro pontos percentuais. Até mesmo aliados da governadora reconhecem que a imagem de Vilma se desgastou em um segundo mandato em que geriu várias crises. A falta de um investimento nacional de impacto, como ocorreu em Pernambuco e Maranhão, com refinarias, e no Ceará, com a siderurgia, alimentou o discurso de Rosalba de que o situacionismo federal de Vilma não carreou recursos para o estado.

Rosalba prefere não comentar sobre qual rumo dará a sua carreira política caso torne-se a única governadora do DEM em um governo federal com hegemonia petista-peemedebista. "Nunca parei para pensar sobre isso. Só sei que como, prefeita de Mossoró, jamais me senti discriminada por Lula", afirmou. "Oposição de verdade, aqui, é só o Agripino. A Rosalba nunca fez oposição para valer. Difícil para eles será segurá-la", aposta Henrique Eduardo Alves.