Jornalistas: Negociação avança na 1ª reunião da campanha salarial

Respondendo à minuta de reivindicações entregue pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará, no último dia 12 de agosto, o Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Ceará apresentou contraproposta de reajuste salarial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), a manutenção de todos os direitos dos jornalistas de impresso previstos na Convenção Coletiva de Trabalho da categoria e a adoção de uma nova cláusula, a da campanha de sindicalização.

Campanha Salaria Jornalistas 2010

A contraproposta foi apresentada no dia 9 de setembro, na sede da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE/CE), durante a primeira negociação da Campanha Salarial 2009/2010, mediada pela auditora fiscal do trabalho Jeritza Jucá.

A reposição da inflação medida pelo INPC dos últimos 12 meses – índice ainda não fechado mas estimado preliminarmente pelo Banco Central em 5,54% – valeria para reajustar o piso dos jornalistas de impresso, hoje em R$ 1.293,00 e os demais salários; o preço da reportagem especial (atualmente em R$ 104,04 por lauda padrão, e R$ 52,02 por foto aproveitada) e o seguro por acidente de trabalho (de R$ 31.443,40). O sindicato laboral propôs a criação de um calendário para implantação da nova cláusula, a da Campanha de Sindicalização – já presente na CCT de Rádio e TV.

O Sindijornais deixou em aberto outras três cláusulas pleiteadas pela categoria: Vale refeição/Alimentação no valor de R$ 10,00 (Cláusula 58ª), Saúde do Jornalista (59ª) e dos Cursos de Capacitação (61ª). Estas cláusulas serão discutidas na nova rodada de negociação, agendada para o dia 17 de setembro, às 8h30, na SRTE/CE.

O presidente do Sindjorce, Claylson Martins, afirmou que aposta em uma nova conduta nas relações entre os sindicatos laboral e patronal. "Eleitos com respaldo da categoria, nós que fazemos a nova diretoria do Sindjorce apostamos na construção de um diálogo respeitoso, na certeza de que podemos chegar a um consenso, contemplando os interesses dos trabalhadores e agregando à nossa CCT cláusulas que também tragam benefícios às empresas", disse.

Uma destas cláusulas é da da Saúde do Trabalhador, que havia sido proposta na campanha salarial anterior e teve o aval do Sindijornais para que fosse criada uma comissão paritária de saúde, para avaliar as condições de trabalho dos profissionais de impresso. "Sabemos que a sobrecarga de trabalho imposta aos jornalistas, por receberem salários tão baixos, acaba infuenciando negativamente na sua saúde. Com a comissão paritária, queremos avaliar a questão de perto e propor medidas capazes de prevenir problemas como LER/DORT, isquemias, infartos, entre outros", lembrou Claylson Martins.

Nesse ponto, as empresas assumiram uma postura contraditória: na campanha salarial passada, os jornais aceitaram discutir a nova clásusula em uma comissão paritária formada por trabalhadores e patrões. Agora, ameaçam recuar da decisão alegando não se responsabilizar pela saúde dos jornalistas. “Não podemos nos responsabilizar pela saúde do trabalhador. Não temos ideia do que os jornalistas fazem nas outras 18 horas diárias que estão fora das empresas, pois a nossa carga média é de seis horas de trabalho”, foi a justificativa dada pela comissão patronal.

A comissão de negociação do Sindjorce é composta, além do presidente, Claylson Martins, pelos jornalistas Samira de Castro (secretária-geral), Marina Valente (diretora de Comunicação e Cultura), Mirton Peixoto (diretor de Ação Sindical), Lúcia Damasceno (suplente da diretoria) e Francisco Ferreira Gatto (Conselho Fiscal). “Temos integrantes na nossa mesa que participam do movimento sindical e estão acostumados com as negociações de outras categorias, como bancários e comerciários”, frisou o presidente do Sindjorce.

Economia ajuda

Para Claylson Martins, a pauta de reivindicações apresentada pelo Sindjorce é enxuta, facilitando a negociação, sobretudo nas cláusulas econômicas. "As negociações coletivas no país estão em sitonia com a evolução dos indicadores econômicos. No caso do Ceará, o PIB cresceu quase 9% no primeiro semestre deste ano, acima da média nacional, numa clara sinalização de superação de qualquer resquício da crise de 2009", disse. Ele acrescentou que, segundo o IBGE, a venda de jornais, revistas e livros no Ceará cresceu 20,1%, nos últimos 12 meses terminados em junho, superando e muito o índice de 9,3% alcançado nacionalmente.

Conforme levantamento do Dieese, aproximadamente 63% dos reajustes salariais em 2010 resultaram em ganhos reais (acima da inflação), com destaque para a faixa de reajustes acima de 5% de ganho real, que triplicou de 2009 para este ano. Além do bom momento econômico brasileiro, o real está valorizado, o que traz vantagens às empresas jornalísticas, que conseguem importar papel jornal a um custo mais baixo. "Assim, acreditamos ser exequível o reajuste de 10,16%, proposto para pisos e demais salários, além da reportagem especial e seguro de vida", reforçou o presidente do Sindjorce.

No tocante ao Vale refeição/Alimentação, Claylson Martins argumentou que categorias com menor envergadura econômica no Estado já disponibilizam o benefício aos seus trabalhadores. E o Diário do Nordeste, informalmente, concede um vale de R$ 4,00, na cantina, ou quentinha no mesmo valor, para os jornalistas que trabalham à noite na redação, departamento fotográfico e outros setores da empresa. "Este mês, o refeitório do Grupo Edson Queiroz está em reforma e a empresa concedeu vale de R$ 11,00 por dia para os trabalhadores, até que a obra seja concluída. Queremos estender o benefício às demais redações de impresso, melhorando a qualidade da alimentação do trabalhador", frisou.

Por fim, em relação à cláusula Cursos de Capacitação, o presidente do Sindjorce apontou nova contradição no discurso patronal. A cláusula, reivindicada há vários anos pelo sindicato laboral e que chegou a ser defendida na campaha salarial passada pelo próprio presidente do sindicato patronal, agora é questionada pelos prepostos dos patrões. “Nossa proposta é de que as empresas promovam cursos para os trabalhadores, por meio de parcerias com entidades públicas e privadas, tendo em vista as demandas que se apresentam para o futuro, quando Fortaleza sediará grandes eventos esportivos, como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014. Jornalistas mais qualificados, sem dúvida, vão elevar a qualidade aos jornais cearenses", defendeu o presidente do Sindjorce.

Fonte: Sindjorce