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Serra faz demagogia com deficit em conta corrente

O deficit nas transações do Brasil com o exterior bateu novo recorde em valores nominais e alcançou o maior patamar na comparação do PIB (Produto Interno Bruto) desde 2002. Segundo dados do Banco Central, o resultado ficou negativo em US$ 2,86 bilhões no mês passado, maior valor para meses de agosto da série iniciada em 1947. Para setembro, a expectativa é de um deficit de US$ 3,8 bilhões.

O comportamento negativo das contas correntes foi criticado de forma demagógica pelo candidato tucano, José Serra. Ele disse que o saldo negativo aumenta o endividamento brasileiro, mas parece ter se esquecido que o deficit nesta conta foi bem mais dramático e desastroso durante o governo FHC, quando ultrapassou a casa dos 4% do PIB (em 1998), quebrando o Brasil e levando a gestão tucana a cair no colo do FMI, cuja orientação obstruiu o caminho do crescimento econômico e engendrou crises que desaguaram na derrota do PSDB e vitória de Lula em 2002.

Não é prudente desprezar os riscos embutidos nos resultados da conta corrente, que efetivamente provoca a ampliação do passivo externo do país. Mas a situação hoje é diferente, o rombo é menor como proporção do PIB e as reservas somaram US$ 269.454 milhões nesta segunda-feira (20), de acordo com informações do Banco Central. Constituem um confortável colchão contra a possibilidade de crise cambial, que de resto não está à vista num horizonte de curto prazo. Além disto, até o momento o fluxo de investimentos estrangeiros tem sido suficiente para financiar o deficit, com certa folga conforme sugere o superávit no balanço de pagamento (que reúne as contas correntes e de capital), de 4,4 bilhões de dólares em agosto. Na época do tucano FHC, as reservas eram menores, constituídas de capitais voláteis, e evaporaram na fuga de capitais e no pagamento da dívida externa. Por estas e outras, o tucanato não tem moral para falar do problema.
45,8 bi em 12 meses
No acumulado em 12 meses, o deficit chega a 2,32% do PIB, no pior resultado desde setembro de 2002 (2,57%). Em termos nominais, o resultado alcançou o recorde de US$ 45,8 bilhões. O BC espera fechar o ano com um deficit de 2,49% do PIB ou US$ 49 bilhões. Para 2011, deve chegar a US$ 60 bilhões (2,78%).
O resultado negativo é determinado basicamente pelo aumento das remessas de lucros e dividendos pelas transnacionais e dos gastos com serviços como transportes, aluguel de equipamentos e turismo no exterior.
"Chegaríamos a 2,78% do PIB em 2011, o que não é algo explosivo. Já tivemos valores mais elevados no passado, quando tínhamos uma carga de juros mais elevada", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Com efeito, no governo FHC o rombo, como proporção do PIB, foi bem maior.
Investimentos em baixa
O BC projeta para setembro uma entrada de US$ 2,7 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Até hoje, já entraram US$ 2,1 bilhões.
Hoje, a instituição revisou para baixo a previsão de investimentos neste ano, de US$ 38 bilhões para US$ 30 bilhões.
"Esperávamos fluxos mais forte que não ocorreram. Mas esses projetos não foram abortados, foram postergados. Na medida em que haja uma recuperação da economia internacional, esperamos que esses investimentos voltem a fluir", disse Altamir.
Segundo o BC, os setores que mais postergaram em relação aos anúncios feitos foram metalurgia, automotivo e petróleo e gás.
Turistas
O aumento dos gastos dos turistas brasileiros no exterior bateu novo recorde no acumulado de janeiro a agosto, atingindo seu maior saldo negativo desde 1947, início da série histórica do Banco Central.
E a autoridade monetária já espera um aumento no deficit gerado pela diferença entre o que os brasileiros gastam lá fora e o dinheiro que o país atrai com turistas estrangeiros.
Nos oito primeiros meses do ano, os brasileiros gastaram lá fora US$ 6 bilhões a mais do que os estrangeiros trouxeram para o país. O número é a diferença entre gastos de US$ 9,9 bilhões e uma receita com turistas estrangeiros de US$ 3,9 bilhões.
O resultado levou o BC a aumentar a previsão desse deficit de US$ 8 bilhões para US$ 10 bilhões neste ano. O número é recorde e é um dos fatores que contribuem para o resultado negativo que o país registra nas suas transações com o exterior. Para 2011, é esperado novo recorde, com um resultado negativo de US$ 11,5 bilhões.
Sangria
A principal causa do déficit é a remessa líquida de renda para o exterior, promovida pelo capital estrangeiro, que somou US$ 3 bilhões no mês, com elevação de 25% em relação a agosto do ano anterior. As saídas líquidas de renda de investimento direto totalizaram US$2,2 bilhões (remessas de lucros), ante US$1,1 bilhão em agosto de 2009. As remessas líquidas de renda de investimentos em carteira atingiram US$526 milhões, ante US$1 bilhão no período comparativo. A despesa líquida de renda de outros investimentos somou US$296 milhões, recuo de 19,1% em relação ao mesmo mês do ano passado.
De acordo com o BC, as despesas líquidas totais de lucros e dividendos e de juros atingiram, na ordem, US$ 2,5 bilhões e US$ 526 milhões, com variações respectivas de 32,5% e de -3,8%. A sangria da mais-valia aqui extraída pelas transnacionais (incluindo bancos) responde, portanto, por mais de 100% do deficit em conta corrente. O crescimento das remessas de lucros e dividendos refletem tanto o aumento do passivo externo resultado dos investimentos diretos provenientes do exterior quanto a crise nos países mais ricos, que leva as multinacionais a ampliarem as remessas para cobrir prejuízos nas matrizes.

Da redação, Umberto Martins, com agências