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Paz sim! NATO não!*

Estamos a cerca de dois meses da realização da cimeira da Otan em Lisboa, dias 19 e 20 de novembro. O movimento da paz em Portugal, reunido na Campanha “Paz sim! Otan não!”, entra na fase derradeira da preparação das iniciativas que manifestarão o repúdio pela realização e pelos objetivos desta cimeira, de que são exemplo a jornada nacional anunciada para 6 de outubro e a manifestação promovida e organizada pela campanha que se realizará dia 20 de novembro, em Lisboa.

Pedro Guerreiro**

Entretanto o Governo PS continua a desfiar o novelo das suas profundas responsabilidades e cumplicidades.

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Depois de considerar o relatório elaborado por Madeleine Albright (recorde-se, ex-secretária de Estado na administração Clinton, que foi responsável pelos bombardeamentos da Otan à Iugoslávia) que serve de base à reelaboração do conceito estratégico da Otan como ‘muito bem elaborado’, o Governo do PS apressa-se a oferecer os seus préstimos.

Colocando inaceitavelmente o país ao serviço da Otan, o atento e prestável Governo PS alerta que o relatório ‘não presta’ atenção suficiente ao Atlântico Sul, apontando que este deve ser para a Otan ‘um objetivo estratégico para a próxima década’. Espera o Governo PS que esta sua preocupação seja contemplada na proposta do secretário-geral da Otan que deverá ser apresentada no final de setembro e discutida na reunião ministerial de Defesa e Negócios Estrangeiros da Otan, a 14 de outubro.

Para o Governo PS esta é “a contribuição que países como Portugal podem acrescentar ao debate”, explicando que “países como Portugal acrescentam ao debate transatlântico a potencialidade de saberem dialogar com o Sul e olhar para o Sul”. Isto é, uma vez mais, o Governo PS subalterniza, submete e condiciona a política externa portuguesa à estratégia do imperialismo.

A crescente colocação das forças armadas portuguesas ao serviço da Otan e da sua estratégia de ingerência, de crescente militarização das relações internacionais e da guerra contra os povos – isto é, ao serviço dos interesses e ambições de domínio dos EUA e das grandes potências da União Europeia –, tem sido apanágio da política de direita levada a cabo nas últimas três décadas, como o demonstra a sua participação no desmembramento e agressão à Iugoslávia e posterior ocupação do Kosovo, na agressão e ocupação do Afeganistão e do Iraque ou na ingerência e ativa presença militar no Médio Oriente e em África.

Se o PSD na sua recente proposta de revisão constitucional pretende, entre outras inadmissíveis pretensões, retirar do Artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa a consagração do 'desarmamento geral, simultâneo e controlado' e a 'dissolução dos blocos político-militares' como princípios fundamentais que deveriam nortear a política externa portuguesa, o PS na sua prática política faz destes letra morta.

Como é referido no dossiê ‘Otan: instrumento de agressão e guerra do imperialismo’ editado no último ”O Militante”, “o nosso país vai de novo servir de anfitrião aos senhores da guerra, numa clara afronta à aspiração do povo português de uma relação de amizade e de paz com todos os povos do mundo. Aspiração demonstrada e conquistada em 25 de abril de 1974 e consagrada na Constituição da República”.

Pelo que, tal como no passado, os comunistas portugueses saberão estar à altura das suas responsabilidades na luta pela paz, empenhando-se através das suas iniciativas próprias na denúncia da Otan e dos seus objetivos e apelando à participação no conjunto de ações de protesto e luta que a Campanha ‘Paz sim! Otan não!’ realizará nas próximas semanas.

* O título desta matéria corresponde ao mote de campanha, com mesmo nome, que está sendo desenvolvida em Portugal contra a realização – nesse país – da reunião de cúpula da Otan, em novembro próximo.

** Pedro Guerreiro foi deputado no Parlamento Europeu na última legislatura.

Este texto foi publicado originalmente no jornal Avante