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Niko Schvarz: O triste exemplo das execuções nos Estados Unidos

Teresa Lewis, uma avó de 41 anos foi executada com uma injeção letal na prisão de Greensville, no estado da Virgínia, Estados Unidos, às 21h13 (hora local (22h13 de Brasília) na última sexta-feira. Todos os pedidos de clemência levados por várias organizações de Direitos Humanos e por cidadãos do país e do estado ao governador da Virgínia foram desconsiderados, e na terça-feira a Corte Suprema recusou um recurso de último momento para suspende a execução.

Pouco ou quase nada sobre este caso foi informado nos meios de comunicação internacionais antes da execução. Pela CNN não vimos quase nada, e consumada a execução, a informação se limitou a alguns detalhes mórbidos (quantas injeções deveriam ser ministradas para que morresse) e a resenhar com minúcias o que comeu em sua última ceia: peito de frango frito, ervilhas com manteiga, refrigerante e torta holandesa.

Por outro lado, foi registrada uma campanha internacional muito intensa e prolongada sobre a condenação à morte de uma mulher iraniana, Sakineh Mohammadi Ashstianí. Mas esta condenação não foi executada e Teerã avisou que a pena será revisada. Disso, pouco se falou, ou se escreveu em letras pequenas em cantos escondidos. Uma particularidade é que as acusações às duas mulheres são semelhantes: participação no assassinato do marido.

Um analista escreveu: "A execução ontem nos Estados unidos de Teresa Lewis, uma mulher com um coeficiente mental limitado condenada à morte pelo duplo homicídio de seu marido e enteado, voltou a colocar na cena a polêmica sobre a pena capital, dias depois que a sentença de morte contra uma mulher iraniana, cuja condenação será revisada, suscitou uma repercussão enorme. Se trata da primeira mulher executada nos Estados Unidos desde 2005 e a primeira executada no estado da Virgínia em quase um século". A anterior chamava-se Virginia Christian, uma estadunidense de 17 anos, negra, justiçada na cadeira elétrica em 1912.

Os advogados de defesa de Teresa Lewis alegaram até o último momento que o coeficiente mental da presa (à beira do limite legal de deficiência mental) a impedia de planejar uma "estratégia assassina". Mas foi em vão. Claire Hogenauer, advogada penal, afirmou a respeito desta execução que "somos testemunhas do assassinato mais premeditado que se deu em qualquer lugar do planeta".

Próximo do centro penitenciário, ativistas contra a pena de morte protestaram contra a aplicação da pena de morte à prisioneira e denunciaram a "injustiça" do sistema estadunidense.

Teresa estava no "corredor da morte" desde 2003. Na mesma situação se encontram hoje nada menos que 3.200 presos, à espera da execução. É um cifra pavorosa. Deles, 32 são mulheres. A estatística indica que Teresa Lewis é a décima segunda mulher executada nos Estados Unidos desde o restabelecimento da pena capital em 1976.

Nesse período, foram executados 1.215 homens. Virgínia é o segundo estado no número de executados, correspondendo o primeiro lugar ao estado do Texas, no qual George W. Bush bateu todos os recordes dessa triste questão enquanto foi governador.

Duas caras

O analista nota que o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, em sua participação na cúpula dos Objetivos do Milênio em Nova York, que precedeu a atual Assembleia Geral da ONU, assinalou as duas caras da política dos Estados Unidos em relação aos dois casos das mulheres acusadas e chamou os meios de comunicação ocidentais de "hipócritas" a esse respeito.

De passagem, em sua intervenção no debate da Assembleia Geral, o presidente iraniano ratificou a validade do acordo de Teerã, assinado por seu país, Brasil e Turquia, em junho passado, como base de um diálogo internacional baseado no respeito e na justiça, o que havia sido antecipado pelo chanceler brasileiro Celso Amorim, que em nome de seu país abriu, como sempre, as sessões da Organização das Nações Unidas.

Nestes dias tivemos outra prova flagrante de como os Estados Unidos administram sua Justiça, além das torturas aberrantes em Abu Ghraib e nas prisões secretas da CIA na Europa. Nos referimos à base ilegal de Guantânamo.

Ali, cerca de 50% dos detidos são cidadãos iemenitas. O grupo especial estabelecido por ordem do presidente Obama aprovou a repatriação de 36 iemenitas, e designou outros 30 para um futuro traslado.

Não obstante, somente 8 foram repatriados e, em dezembro de 2009, todas as transferências foram suspensas.

Em 21 de julho de 2010, o juiz Henry Kennedy, do tribunal federal de Washington, ordenou a soltura imediata do iemenita Adnan Farhan Abdul Latif, preso desde janeiro de 2002 sem acusações nem processo algum.

O detido denunciou torturas e cometeu várias tentativas de suicídio por causa de sua situação insuportável. Mas o Departamento de Justiça apelou contra a ordem de libertação e Latif pode seguir preso e torturado indefinidamente.

Fonte: La República