Sem categoria

Dieese refuta Fiesp: aumento real dos salários ajuda, sim, o país

O processo de crescimento da massa salarial em curso no Brasil é positivo não só para os trabalhadores — mas também para a economia nacional. É o que garante o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em reportagem publicada nesta quinta-feira (30) no jornal Valor Econômico.

“Vejo um ciclo virtuoso no aumento da massa salarial. Há um chororô de alguns setores, devido ao aumento no custo da mão de obra, mas isso é normal”, afirma o economista da instituição, Sérgio Mendonça.

A Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, divulgada na quarta-feira, mostra que o rendimento médio real (descontada a inflação) dos ocupados em sete regiões do país subiu 1,8% em julho, chegando a R$ 1.289. Para os assalariados, o incremento foi de 1,5%, com a renda atingindo R$ 1.340. A massa salarial cresceu 1,9% para os ocupados e 1,4% para os assalariados, “refletindo aumento do rendimento médio real, uma vez que o nível de ocupação permaneceu relativamente estável”.

A valorização irritou as entidades empresariais. No começo da semana, o presidente da Federação das Indústrias do Estados de São Paulo (Fiesp) e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, declarou que a “questão salarial será uma bomba de efeito retardado”. Em lamentável atitude, ele classificou a melhoria na renda dos trabalhadores como “um exagero se comparado ao resto do mundo” e resmungou que, “se nós não cuidarmos, teremos grandes problemas no curtíssimo prazo”.

Balela pura. Conforme lembra Mendonça, do Dieese, a expansão da renda impulsiona o consumo, induz o aumento em investimentos e pode levar a um crescimento nas importações . “Isso poderia ter algum impacto sobre o balanço de pagamentos, mas há outros pontos a se considerar para equilibrar essa equação”, diz o economista.

Segundo Mendonça, o Brasil só vai conseguir elevar significativamente o consumo com aumento da massa salarial. Essa mudança obriga as empresas a se preocuparem com a qualificação e a retenção de profissionais — questões até então pouco consideradas devido à farta oferta de mão de obra.

“É preciso ter em mente que taxa de lucro não é imutável. A questão é que os juros no Brasil são altos e a carga tributária, pesada. Isso acaba empurrando para cima a taxa mínima de lucro para que o negócio seja viável”, avalia.

Nada de "excessos"

Mendonça também ressalta que, apesar da melhora nas condições de emprego e renda, o Brasil ainda está muito longe das condições apresentadas pelas grandes potências. De acordo com ele, a massa salarial nos países desenvolvidos varia de 60% a 70% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil, gira em torno de 40%.

Atualmente, a renda média dos trabalhadores de São Paulo é mais baixa que a verificada dez anos atrás. Em julho, o rendimento real dos trabalhadores foi de R$ 1.353, valor 16% inferior aos R$ 1.604 registrados em julho de 2000. “Não dá para dizer que há excessos salariais”, conclui o economista.

Da Redação, com informações do Valor Econômico