Dieese refuta Fiesp: aumento real dos salários ajuda, sim, o país
O processo de crescimento da massa salarial em curso no Brasil é positivo não só para os trabalhadores — mas também para a economia nacional. É o que garante o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), em reportagem publicada nesta quinta-feira (30) no jornal Valor Econômico.
Publicado 30/09/2010 18:54
“Vejo um ciclo virtuoso no aumento da massa salarial. Há um chororô de alguns setores, devido ao aumento no custo da mão de obra, mas isso é normal”, afirma o economista da instituição, Sérgio Mendonça.
A Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese, divulgada na quarta-feira, mostra que o rendimento médio real (descontada a inflação) dos ocupados em sete regiões do país subiu 1,8% em julho, chegando a R$ 1.289. Para os assalariados, o incremento foi de 1,5%, com a renda atingindo R$ 1.340. A massa salarial cresceu 1,9% para os ocupados e 1,4% para os assalariados, “refletindo aumento do rendimento médio real, uma vez que o nível de ocupação permaneceu relativamente estável”.
A valorização irritou as entidades empresariais. No começo da semana, o presidente da Federação das Indústrias do Estados de São Paulo (Fiesp) e da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch, declarou que a “questão salarial será uma bomba de efeito retardado”. Em lamentável atitude, ele classificou a melhoria na renda dos trabalhadores como “um exagero se comparado ao resto do mundo” e resmungou que, “se nós não cuidarmos, teremos grandes problemas no curtíssimo prazo”.
Balela pura. Conforme lembra Mendonça, do Dieese, a expansão da renda impulsiona o consumo, induz o aumento em investimentos e pode levar a um crescimento nas importações . “Isso poderia ter algum impacto sobre o balanço de pagamentos, mas há outros pontos a se considerar para equilibrar essa equação”, diz o economista.
Segundo Mendonça, o Brasil só vai conseguir elevar significativamente o consumo com aumento da massa salarial. Essa mudança obriga as empresas a se preocuparem com a qualificação e a retenção de profissionais — questões até então pouco consideradas devido à farta oferta de mão de obra.
“É preciso ter em mente que taxa de lucro não é imutável. A questão é que os juros no Brasil são altos e a carga tributária, pesada. Isso acaba empurrando para cima a taxa mínima de lucro para que o negócio seja viável”, avalia.
Nada de "excessos"
Mendonça também ressalta que, apesar da melhora nas condições de emprego e renda, o Brasil ainda está muito longe das condições apresentadas pelas grandes potências. De acordo com ele, a massa salarial nos países desenvolvidos varia de 60% a 70% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil, gira em torno de 40%.
Atualmente, a renda média dos trabalhadores de São Paulo é mais baixa que a verificada dez anos atrás. Em julho, o rendimento real dos trabalhadores foi de R$ 1.353, valor 16% inferior aos R$ 1.604 registrados em julho de 2000. “Não dá para dizer que há excessos salariais”, conclui o economista.
Da Redação, com informações do Valor Econômico