Jô Moraes: "a esquerda não se rende neste estado"

Na festa da vitória, Jô Moraes faz uma avaliação do processo das eleições 2010 em Minas Gerais ao Portal Vermelho e apresenta os desafios do segundo turno no Brasil. Em uma entrevista interrompida diversas vezes para que os apoiadores manifestassem suas parabenizações e até declarações de amor à candidata, Jô Moraes falou também das conquistas do PCdoB no estado.

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Com 99,92% das urnas apuradas e 105.965 votos, Jô Moraes está praticamente eleita deputada federal pelo PCdoB de Minas Gerais. O partido conseguiu fazer ainda o terceiro suplente da chapa e elegeu dois deputados estaduais. Para o Senado, Zito Vieira obteve 1.485.124 votos, o que representa 7,75% do eleitorado mineiro presente às urnas neste 3 de outubro.

Portal Vermelho: Quais desafios a militância terá que enfrentar no segundo turno da eleição presidencial?

Jô Moraes: O desafio é mostrar que houve uma artificial exacerbação do papel da Marina Silva nos setores conservadores instrumentalizando a própria causa ambientalista. Em segundo lugar, há uma artificial dosagem de preconceito contra a figura da Dilma, sua história e sua condição de mulher.

Portal Vermelho: E o que você tem a dizer sobre o resultado das eleições para o governo do estado em Minas Gerais?

Jô Moraes: Minas Gerais hoje, e particularmente a sua capital, votou intimidada, em silêncio… não se via uma bandeira na rua, não se via o natural movimento das pessoas perto dos locais de votação. Parece que as pessoas, mesmo os que tinham certeza da vitória, tinham vergonha do seu voto. Isso demonstra que há em Minas Gerais um poder autoritário ainda não percebido pela sociedade, que pode tudo porque usa a caneta das obras e dos tributos como um instrumento de hegemonia. Aqui, diferente do nível nacional, a oposição não consegue se expressar; aqui a cooptação é prática corriqueira. O sentimento de oposição, forjado nas lutas, como a dos professores e dos setores econômicos discriminados pelo governo Aécio, não conseguem espaço de expressão. Vários militantes foram presos no dia da votação… Minas Gerais foi um dos estados com maior número de prisões no dia da eleição. Esse resultado é também uma herança dos equívocos de parte da esquerda de Belo Horizonte em 2008.

Portal Vermelho: Qual a sua avaliação sobre o processo dessas eleições?

Jô Moraes: O governador Aécio Neves quis mostrar ao seu partido que ele era e é a opção para confrontar o projeto democrático popular. Há setores da esquerda que achavam que podiam neutralizá-lo. Ele mostrou, nesta eleição, que é um homem de oposição ao nosso projeto. Ele sequer levou em conta o apoio que o Pimentel deu a ele na conquista da prefeitura de Belo Horzionte, ao fazer uma campanha extremamente voltada para garantir o segundo senador. A palavra lealdade esteve longe das suas articulações.

Aqui, durante o processo de campanha, eu pude sentir, inclusive dos setores empresariais, um certo medo do poder do controle de obras, do poder da elaboração da política tributária… Em Minas Gerais, o gás de cozinhas tem 18% de ICMS, o maior do Brasil, enquanto o querosene de avião tem 3%. Em plena campanha, Aécio reduziu o ICMS do álcool, por pressão dos usineiros, e subiu o da gasolina.

O grande desafio da esquerda e dos aliados do governo Lula é garantir, no segundo turno, um debate que mostre à cidade de Belo Horizonte a quem serve o projeto tucano em Minas Gerais, e a verdadeira natureza dos agentes políticos que hegemonizam a política em Minas Gerais.

Portal Vermelho: E sobre o resultado do PCdoB no estado?

Jô Moraes: O PCdoB em Minas Gerais ousou lançar dois candidatos à Câmara Federal, uma chapa para a Assembleia Legislativa e um candidato ao Senado. Sabíamos que não seria fácil conquistar a segunda vaga, porque dependia do resultado do nosso candidato majoritário. Conseguimos manter nossa vaga federal e ampliar nossa presença na Assembleia. E conseguimos alcançar 1,5 milhão de votos para o Senado. O nosso segundo candidato, na sua primeira disputa para deputado federal, teve uma votação expressiva, disputando no seu principal colégio eleitoral – Juiz de Fora – com quatro ou cinco ícones da política. Isso significa que estamos projetando uma liderança para a vida política mineira.

Portal Vermelho: Qual foi o papel da militância nessas conquistas?

Jô Moraes: A militância do PCdoB assumiu um intenso protagonismo, utilizando, inclusive, muita criatividade para enfrentar a ausência de recursos. A pré-boca de urna foi feita nos locais de trabalho por garçons, trabalhadoras de salão de beleza, vendedoras de cosméticos… enfim, aquelas pessoas que não tinham condições de militar em tempo integral na campanha o fizeram em seus próprios locais de trabalho, que é uma forma diferente de mobilização, de militância. Mobilizamos, ainda, 310 apoiadores da campanha para prefeita de 2008, que se converteram em cabos eleitorais.

Portal Vermelho: Como você sintetiza este momento em que a eleição acaba de hegemonizado pela direita moderna, se definir?

Jô Moraes: Enquanto presidente de um partido que atua no estado hegemonizado pela direita moderna, há uma enorme convicção de que a militância do PCdoB, de que o PCdoB aqui reafirmou suas posições de independência, de não submissão e de deixar claro para a sociedade que a esquerda não se rende neste estado.

De Belo Horizonte, Luana Bonone