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Gays discutem casamento e paternidade em O Amor, e Basta

Tem certos filmes que valem muito mais pelo conteúdo do que pelo prazer de apreciar uma obra criativa. Como define minha amiga Tatiana Monassa, crítica da Contracampo, “o pessoal vai para ver o conteúdo, não cinema”. Entre conteúdo x cinema, dicotomia mais presente no documentário do que na ficção, pode haver um abismo, que vai do insuportavelmente chato ao tolerável.

Na segunda opção está o italiano O Amor, e Basta, documentário que integra a seleção Mundo Gay do Festival do Rio. Temos um filme simpático que mesmo deixando a desejar como cinema, não ofende a ninguém e, de quebra, tem uma premissa interessantíssima: conversar com casais homossexuais que mantém uma longa relação. Qual é o significado de família? Como foi o primeiro encontro? Foi difícil assumir a relação? Como sobreviver juntos depois de tanto tempo?

Há dois detalhes que tornam o filme de Stefano Consiglio decente e simpático. O primeiro é a derrubada de alguns mitos para o público hétero, entre eles, a maternidade/paternidade. Longe de aderir à cegueira de que o mundo é um mar de rosas de tolerância e igualdade, com uma valorização asséptica e apolítica da diversidade, o filme não deixa de reconhecer que os anos se passaram e para os mais jovens, ter dois pais ou duas mães não é um bicho de sete cabeças – nem de duas, algumas vezes.

O segundo detalhe é a oposição entre as visões dos casais com temas básicos, como a monogamia, casamento civil e maternidade/paternidade. As espanholas Maria e Marisol formam uma família funcional e estruturada, acreditam tanto no casamento como em ter filhos. Já as francesas Catherine e Christine acham a busca pela união civil uma bobagem sem tamanho e as crianças necessitam de pai e mãe.

Muito esquisito perceber que existem gays assumidos, envolvidos em uma relação longa, num país europeu e, mesmo assim, buscam a auto-castração travestida de discurso ideológico. Incrível como o espelho dói para algumas personagens do filme!

Para quem possa encontrar em O Amor, e Basta um argumento reacionário de que a homossexualidade só pode ser respeitada se vier atrelada à uma relação estável, alto lá! O filme toma apenas os casais como corte básico para o documentário, mas de maneira alguma se posiciona na defesa de que se trata do único modelo possível de respeito.

Como cinema, feijão com arroz. Retomando o início deste texto, é um documentário que se justifica pelo conteúdo. E só. O que, aliás, reflete boa parte da seleção deste ano do Festival do Rio, seja na Première Brasil, no Panorama do Cinema Mundial ou em outras mostras menores: um emaranhado de filmes médios.

Serviço – Sessões de O Amor, e Basta
Quarta-feira (6/10), às 15h10, no Estação Barra Point 2 (Sessão BP262)
Quinta-feira (7/10), às 18h30, no Estação Vivo Gávea 1 (Sessão GV168)