Capistrano: O extraordinário Oscar Niemeyer

Tem um poema do dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht que é muito citado, às vezes até banalizado, que calha muito bem na caracterização dessa figura extraordinária que é Oscar Niemeyer, é o poema onde Brecht diz: “Há homens que lutam um dia, e são bons/ Há outros que lutam um ano, e são melhores/ Há aqueles que lutam muitos anos; e são muito bons/ Porem há os que lutam toda a vida/ Estes são imprescindíveis”. Parece que Brecht escreveu pensando no seu camarada brasileiro.

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Oscar Niemeyer é uma dessas figuras imprescindíveis para a humanidade. Em dezembro ele completa 103 anos de vida. Oscar nasceu no dia 15 de dezembro de 1907, o extraordinário nisso é que ele completa este longo tempo de vida com toda lucidez, firme nas suas convicções, participando dos momentos decisivos da vida política do país, tomando posição e firmando compromisso com as transformações necessárias para o desenvolvimento pleno do nosso país, dentro dos princípios que sempre nortearam a sua visão de mundo, sem nunca perder a esperança na paz e na justiça social.

Fiquei emocionado ao vê-lo na reunião do Rio de Janeiro dos artistas e intelectuais que prestavam apoio a candidatura de Dilma Rousseff. Parecia um jovem militante. Com a voz firme Niemeyer declarou o seu voto, e disse porque votava em Dilma para presidente do Brasil. A mesma coerência de sempre, a mesma credibilidade, o mesmo rumo na sua visão de mundo, sempre com a fala mansa, sem ódio e sem medo, expondo o seu pensamento, tomando posição, colocando a sua experiência de vida a serviço das causas justas e em benefício dos pobres e oprimidos.

Oscar Niemeyer atravessou praticamente todo o século 20, segundo Eric Hobsbawm, o século mais extraordinário e terrível da história da humanidade.

Quando triunfou a Revolução Soviética de 1917, liderada por Lênin, ele estava com 10 anos de idade, esse fato traçou o seu ideário na luta pelo socialismo. Luta essa que marcou para sempre a sua visão humanista e internacionalista do mundo.

A fama, o conforto pessoal não, interferiu na sua maneira de ver o mundo nem na sua maneira de ser, por isso sempre foi perseguido pelas forças do atraso. Exilado, retornou ao Brasil e continuou o seu trabalho de arquiteto mundialmente famoso, mas era o mesmo Oscar, o homem de luta, solidário aos camaradas, pensando sempre no bem-estar dos mais pobres. Era o ser político, que na sua visão marxista do mundo era inseparável do homem, ele tem consciência da importância da sua posição nas questões de interesse coletivo, sempre ao lado dos desprotegidos, sempre contra o estado burguês, elitista e excludente, a sua voz sempre foi ouvida no Brasil e além fronteira.

Pois bem, Oscar, com os seus 103 anos de vida, na reunião dos intelectuais e artistas no Rio de Janeiro, estava lá, levando o seu apoio a Dilma, ao lado daqueles que têm compromisso com as transformações pelas quais o nosso país vem passando.

Ele que conhece a nossa história de perto, que vem participando das lutas do nosso povo desde o inicio do século passado, Oscar vivenciou a década de 1920, período da efervescência política e intelectual que transformou o nosso país, com a coluna Prestes, a Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista, o movimento tenentista, tudo isso cominando com a Revolução de 1930. Viu a Revolução de 1932, assistiu a Insurreição Armada de 1935, conheceu os anos duros da ditadura Vargas, acompanhou a Guerra Civil Espanhola, o inicio e o fim da Segunda Grande Guerra Mundial. Participou da famosa redemocratização de 1945, ajudou na eleição da bancada do Partido Comunista para a Constituinte de 45, inclusive a eleição do seu amigo Luis Carlos Prestes para o senado. Sofreu com o duro golpe antidemocrático com a cassação do registro do PCdoB em 1947 e novamente a ilegalidade do Partido Comunista. Assistiu a volta de Getúlio Vargas ao poder em 1951, agora eleito pelo povo brasileiro. Participou ativamente da luta do “Petróleo é nosso”, que cominou com a criação da Petrobras. Acompanhou a violenta campanha antigetulista patrocinada pelos golpistas de sempre e capitaneada pelo PIG, campanha essa que levou o presidente Vargas ao suicídio. O seu traço de arquiteto deu formas aos contornos de Brasília, ele e Lúcio Costa, os dois grandes da engenharia e arquitetura do nosso país.

Oscar sofreu com o golpe militar de 1964, foi perseguido e exilado. Ele esteve presente na luta pela Anistia, pelas Diretas Já, ajudou a Brizola/Darci Ribeiro na administração do Rio de Janeiro com os seus projetos arquitetônicos. Oscar apoiou Lula em todas as suas campanhas para Presidência da República. Sentia no metalúrgico e nas forças de esquerda que o apoiavam a chance das transformações sociais e econômicas que o Brasil precisava. Ele acreditou nesse projeto, que apesar de todos os entraves colocados pela nossa elite e pelo PIG, o governo Lula vem executando.

A marca da genialidade artística de Niemayer estar presente na nossa capital através do Parque da Cidade e do Presépio do Alto de Candelária. Ele, para o nosso orgulho, é cidadão natalense, proposição do vereador Franklin Capistrano aprovada por unanimidade pela Câmara Municipal da capital.

Oscar Niemeyer é um grande homem, grande profissional, grande humanista, um orgulho para todos os comunistas do Brasil, um exemplo a ser seguido.

 

Antonio Capistrano foi reitor da UERN e é filiado ao PCdoB