Capistrano: Adfurrn/Aduern – 30 anos de existência

O tempo passa rápido, parece que foi ontem, mas, no dia 11 de setembro deste ano, 2010, estaremos comemorando trinta anos da criação da nossa entidade de classe, batizada inicialmente com o nome de ADFURRN – Associação dos Docentes da Fundação Universidade Regional do Rio Grande do Norte.

Naquela época, antes da Constituição de 1988, era proibida a sindicalização de funcionários públicos, por isso a nossa entidade de classe era uma associação e não um sindicato. Com os novos tempos, a estadualização (1987), a nova Constituição (1988) e a mudança de nome da Universidade (1997), ela foi rebatizada, passando a ser denominada de ADUERN – Associação dos Docentes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

A URRN foi criada através de um projeto de lei enviada à Câmara Municipal de Mossoró pelo prefeito Raimundo Soares, em 28 de setembro de 1968, em pleno período ditatorial. Portanto, a nossa Universidade nascia sob o arbítrio do Decreto 477, de fevereiro de 1969, Decreto esse que ficou conhecido como a mordaça do sistema educacional brasileiro, era o Ato Institucional especifico para os trabalhadores do sistema educacional, público ou privado, aplicável também aos estudantes. Era um monstrengo jurídico que causou um grande estrago no processo de ensino e aprendizagem, prejudicando toda uma geração.

A URRN nascia sob o comando do Poder Público Municipal, em um período de obscurantismo e de graves restrições às liberdades democráticas, situação essa que tinha reflexos profundos dentro da instituição. Situação que se agrava a partir de 1972, com a eleição de Dix-huit Rosado Maia para Prefeito de Mossoró, momento que o grupo político dos Rosados passa a controlar o comando da Universidade. Na época era Reitora Maria Gomes, adversária dos Rosados, por esse motivo o Poder Público Municipal intervém na administração da Fundação, retirando do reitor a função de Presidente da Fundação, que era a entidade mantenedora da URRN, nomeando um aliado político para o cargo de presidente da Fundação. Criou-se com isso uma situação difícil para a Reitora, que deixou de ter a gerência da gestão financeira e administrativa da FURRN, a sua função passou a ser meramente acadêmica, uma espécie de “Rainha da Inglaterra”, com toda pompa do cargo, mas sem poder financeiro e administrativo.

A URRN era um misto de universidade pública e privada. Pública para o empreguismo e as nomeações dos seus dirigentes pelo grupo político dominante que detinha o domínio da estrutura administrativa e financeira da instituição, privada na obrigação do pagamento de mensalidades por parte dos alunos.

Essa era uma situação esdrúxula, mas naquele momento sem quase nenhuma contestação. O quadro político nacional era refletido em todas as instituições brasileiras, principalmente no setor educacional, o autoritarismo imperava de forma truculenta e isso inibia de certa forma a contestação e a organização dos trabalhadores, existia, por parte dos docentes e funcionários, um medo do poder do grupo local e da repressão política dos órgãos de segurança a nível nacional, isso inibia a luta por mudanças.

Só a partir de 1978, já com o processo de abertura política do país em andamento, com a campanha pela anistia nas ruas, o crescimento da luta sindical, principalmente no ABC paulista e as primeiras greves dos docentes das universidades brasileiras e de nível médio, é que começa o despertar para luta coletiva. Claro que na FURRN começam a refletir os fatos que aconteciam no restante do país. É nesse contexto que surge a ideia da criação de uma entidade representativa dos docentes da FURRN.

A nossa situação, como universidade, era difícil, não havia o reconhecimento do Conselho Federal de Educação, ela não era pública nem privada, os seus docentes passavam até dez meses sem recebe salários, a estrutura de funcionamento era muito precária, o professor era horista, não existia nem um incentivo à pós-graduação, pesquisa era uma raridade e os departamento uma ficção.

Diante desse quadro, um grupo de professores, com uma visão política progressista, a maioria de esquerda, sentia a necessidade de mudanças na estrutura de funcionamento da nossa instituição de ensino superior. A FURRN não poderia continuar daquele jeito e o caminho das mudanças passava obrigatoriamente pela luta coletiva, entendíamos que só uma entidade de classe poderia fazer esse trabalho.

Foi aí que surgiu a ideia da convocação de uma reunião com os nossos docentes com o objetivo de criação da nossa associação de classe. Essa ideia foi gestada na casa de praia de Padre Sátiro, em Tibau. Estavam presentes nessa conversa os professores Antonio Capistrano, Antonio Gonzaga Chimbinho e Padre Sátiro, era um dia de domingo. Ficou acertado que na semana que se iniciava seria distribuída entre os professores uma auto-convocação para uma assembleia que seria realizada, como foi, no dia 11 de setembro de 1980. O local escolhido foi o auditório Vingt-Um Rosado, palco de grandes decisões da FURRN. Nessa assembleia nascia a ADFURRN.

Sem desmerecer a importância dos demais presidentes da ADFURRN, eu destaco nesse registro o trabalho dos seus quatros primeiros presidentes, fase que eu chamo de heróica, são eles: Paulo Davi (1981/83), João Batista Xavier ( 1983/85), Paulo Afonso Linhares ( 1985/87) e Lúcio Ney de Souza ( 1987/89). Todos eles, com as suas respectivas diretórias, deram uma grande contribuição na construção da Nova Universidade que nasceu como resultado da luta coletiva coordenada pela ADFURRN.

Portanto, 11 de setembro é uma data significativa para a UERN, há 30 anos nascia à entidade de classe dos docentes da FURRN/UERN, marco inicial de uma luta que iria possibilitar as transformações estruturais da nossa instituição universitária, fazendo dela uma verdadeira Universidade: pública, gratuita e democrática.

 

Professor Antonio Capistrano – ex-reitor da UERN.