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Serra, sempre irritado, faz escalada contra liberdade de imprensa

O presidenciável do PSDB, José Serra, trata princípios de democracia e de liberdade de imprensa de forma relativa. Quando exposto diante de fatos que possam não lhe ser favoráveis, o tucano reage de maneira autoritária e busca os mesmos mecanismos de censura adotados durante a ditadura para tentar intimidar e proibir a veiculação de notícias.

Na terça-feira (5), depois de conhecido o resultado do primeiro turno da sucessão presidencial, a TV Record exibiu reportagem mostrando que Serra fora mais votado nos bairros nobres de São Paulo e que a candidata do PT, Dilma Rousseff, obtivera melhor votação nas regiões mais periféricas da capital. Não se tratou de nenhuma especulação ou pesquisa, mas do resultado concreto do que manifestara o eleitor.

Serra e o comando de sua campanha, no entanto, entenderam que a reportagem seria favorável a Dilma, uma vez que ela foi preferida nas regiões onde se concentra maior número de eleitores. O comando da campanha de Serra procura agora intimidar a emissora e pediu ao Ministério Público Eleitoral que a Record seja multada por causa da reportagem.

O caso será julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral. O Supremo Tribunal Federal, no entanto, já se manifestou em casos semelhantes e a jurisprudência define tais tentativas como cerceamento da liberdade de imprensa. A direção da TV Record avalia o pedido dos tucanos como uma “tentativa de censura”.

Perseguindo jornalistas

Não se pode dizer que Serra está mal assessorado ou fez um ataque isolado contra a mídia. Ao longo da campanha presidencial, o candidato do PSDB tem mostrado crescente irritação com o trabalho da imprensa. A intolerância de Serra a críticas é bastante conhecida. Durante o primeiro turno, a candidata do PV, Marina Silva, chegou a registrar a relação conflituosa do tucano com o ofício dos jornalistas.

“Existem duas formas de tentar intimidar a imprensa”, disse Marina. “Uma é aquela que vem a público e coloca de forma infeliz uma série de críticas. Outra é aquela que, de forma velada, tenta agredir jornalistas, pedir cabeça de jornalista, o que dá na mesma coisa, porque o respeito pela democracia e pela liberdade de imprensa é permitir que a informação circule”, afirmou a candidada.

Segundo Marina, Serra “constrange e tenta intimidar jornalistas”. Os ataques sucessivos de Serra, porém, vêm sendo tratados com inexplicável compreensão por alguns setores. Quando o presidente Lula criticou a imprensa, suas opiniões foram encaradas como um atentado à liberdade de expressão e às instituições democráticas. Já o presidenciável tucano, medido por uma régua diferente, faz a mesma coisa, mas não é acusado de nada disso.

No último 13, em Porto Alegre (RS), Serra criticou a imprensa e acusou o jornal Valor Econômico de atuar em favor de Dilma Rousseff. “Seu jornal faz manchete para o PT colocar no horário eleitoral”, disse Serra ao repórter Sérgio Bueno. Ele ficou irritadíssimo quando questionado sobre o ex-assessor Paulo Vieira de Souza e se deu ao direito de determinar qual o assunto deveria ser tratado pela reportagem do Valor.

“Sei que, no caso, vocês não têm interesse na Casa Civil, naquilo que foi desviado. Seu jornal, pelo menos, não tem. Agora, no nosso caso, nós temos.” Neste momento, o ex-candidato do PMDB ao governo gaúcho, José Fogaça, que acompanhava Serra, cochichou-lhe no ouvido alguma coisa sobre supostas tendências políticas do repórter. “Quem, ele? Mas o Valor também é meio assim, não é só ele não”, disse Serra.

Mais tarde, a diretora de redação do Valor, Vera Brandimarte, lamentou a atitude do tucano: “Todos os candidatos devem estar dispostos a responder questões, mesmo sobre temas que não lhes agradem”, ponderou.

Tudo é pauta do PT

Já em 28 de setembro, em vez de responder à pergunta de um jornalista da Folha de S.Paulo, em Salvador (BA), Serra preferiu partir para o ataque. “Candidato, nesses últimos dias de campanha, qual deve ser a (sua) estratégia?”, perguntou o repórter Breno Costa. “Certamente não é perder tempo com matéria mentirosa como a que você fez”, respondeu Serra.

O presidenciável referia-se à reportagem publicada pelo jornal três dias antes com dados negativos sobre sua gestão no governo de São Paulo. Em nota, a direção da campanha do tucano afirmou que os trechos levantados pela reportagem eram “irrelevantes” e acusou a Folha de “desinformar” o leitor e de “apostar na máxima petista de pregar que todos são iguais e cometem os mesmos equívocos na ação governamental”.

Duas semanas antes desse chilique, Serra se irritou durante gravação e ameaçou deixar o programa Jogo do Poder, da CNT, apresentado por Márcia Peltier. Ele não gostou de perguntas feitas e depois de dizer que estavam “perdendo tempo” com aqueles assuntos, passou a discutir com Márcia. Disse que, em vez de tratarem do programa de governo, estavam repetindo “os argumentos do PT”. Em seguida, levantou-se para deixar o estúdio.

“Não vou dar essa entrevista, você me desculpa. Faz de conta que não vim”, disse um histérico Serra, reclamando que a entrevista não era um “troço sério”. Logo depois, pediu que os equipamentos fossem desligados e disparou: “Isso aqui está um programa montado.” A apresentadora negou com firmeza a acusação e teve uma conversa reservada com Serra. Só então o candidato aceitou voltar ao estúdio.

Em 10 de maio, durante entrevista matinal à rádio CBN, Serra manteve uma ríspida discussão com a jornalista Míriam Leitão. Ao participar da entrevista realizada em São Paulo, Míriam perguntou, por telefone, se o presidenciável respeitaria a autonomia do Banco Central ou se presidiria também a instituição, caso vencesse a eleição. Serra primeiro respondeu que a suposição da jornalista era “brincadeira”.

Na sequência, o tucano demonstrou que seu grau de irritação não parava de aumentar: “Você acha isso, sinceramente, que o Banco Central nunca erra? Tenha paciência!” Questionado se interviria na instituição ao se deparar com um erro, Serra interrompeu Míriam: “O que você está dizendo, vai me perdoar, é uma grande bobagem”.

Fonte: Barão de Itararé