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Itamaraty faz conferência “O Brasil no mundo que vem aí”

Teve início nesta quinta-feira (28) no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, a 5ª Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional, promovida pela Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores voltado para a pesquisa, análise e difusão de trabalhos sobre política internacional. A conferência desenvolve-se também na sexta (29).

Com o título “O Brasil no mundo que vem aí”, a conferência realiza-se anualmente desde 2006 e já se transformou, na expressão do embaixador Jeronimo Moscardo, presidente da Fundação, nos “estados-gerais das relações internacionais no Brasil”. Reúne diplomatas, membros da comunidade acadêmica, jornalistas, representantes da sociedade em geral e indivíduos interessados numa temática que cada vez ganha mais força, desperta interesse e divide opiniões.

Este ano, informou Moscardo, entre as centenas de participantes nacionais, de todos os estados da Federação, encontram-se presentes 30 intelectuais e mais de uma centena de diplomatas sul-americanos, não só como ouvintes, mas como participantes diretos dos debates. No entender de Moscardo, esta é uma demonstração de que o governo brasileiro tem elevada compreensão sobre a integração da América do Sul e da América Latina.

Num tom informal e irreverente, contrastante com a imagem conservadora que se tem da instituição diplomática, o presidente da Funag, ao valorizar a participação do público disse que “a Conferência inspira-se na convicção de que a sociedade sabe mais e pode mais que a burocracia governamental”.

Na abertura dos trabalhos foi feita uma homenagem ao ex-presidente da Argentina, Nestor Kirchner, com a observação de um minuto de silêncio.

Temário diversificado

A 5ª Conferência “O Brasil no mundo que vem aí” aborda este ano temas palpitantes, como a emergência do Bric, o Mercosul e sua visão estratégica nos 20 anos de existência, a crise econômico-financeira, o G-20 e as opções para o Brasil, as relações com os Estados Unidos e a Europa, a nova África, as questões ambiental e energética.

É um painel amplo e variado, apresentado por diplomatas de alto nível e destacados representantes do mundo acadêmico, entre eles o secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Antonio Patriota, o economista Carlos Lessa, o subsecretário de América do Itamaraty, Antonio Simões, o cientista político e professor da Unicamp, Sebastião Velasco, o embaixador do Brasil em Londres, Roberto Jaguaribe, o economista e professor da UFRJ, Antonio Barros de Castro, a subsecretária-geral de Política do Itamaraty, embaixadora Edileuza Fontenele, o embaixador Afonso Ouro Preto, o economista e representante do Brasil junto ao FMI, Paulo Nogueira Batista Jr. e o cientista político argentino Aldo Ferrer.

Um novo Itamaraty

A palestra de abertura ficou a cargo do secretário-geral do Itamaraty, embaixador Antonio Patriota. “O momento é propício para fazer o balanço da política externa brasileira. Há uma efervescência de atividades ligadas à política externa e é grande o interesse pelo Brasil no mundo”, disse. Nesse contexto, Patriota firmou o ponto de vista de que “a política externa brasileira tornou-se realmente universal”. Exemplificou com a informação de que dos 192 países membros da ONU, o Brasil mantém relações diplomáticas com 191. “Falta apenas o Reino de Tonga, no Pacífico Sul”.

Nos últimos oito anos o Brasil abriu 52 novas embaixadas, 18 das quais na África. Patriota deu outras informações administrativas sobre a ação do Itamaraty com importante sentido político: a criação do Departamento de Energia e das subsecretarias de assuntos políticos especializadas para a América Latina, a Ásia e a África. Para se compreender o alcance desta medida, Patriota comparou: “Antes eram somente duas subsecretarias, a de Estados Unidos e Europa e a do resto do mundo”.

Prioridade às relações Sul-Sul

O embaixador Antonio Patriota referiu-se aos eixos estruturantes da política externa brasileira. Destacou em primeiro lugar a intensificação das relações com os países da América do Sul e América Latina, a integração continental, a criação da Comunidade Latino-Americana e Caribenha, com suas históricas reuniões de Salvador (BA) e Cancún, no México e comemorou a realização, em abril último da Cúpula América do Sul Caricom (países do Caribe).

O secretário-geral do Itamaraty destacou as relações Sul-Sul, mencionando iniciativas como a Conferência de Cúpula América do Sul – Países Árabes e a Conferência América do Sul – África.

Na conferência ficou patente a importância estratégica que o Brasil atribui aos novos tipos de coalizão, destacadamente a Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e o grupo designado pelo acrônimo Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Para Patriota, nenhuma dessas iniciativas diminui a importância de manter relações normais com os Estados Unidos e a Europa.

Multilateralismo e defesa da paz

Outro eixo estruturante da política externa brasileira, na visão do secretário-geral do Itamaraty, é “o aprofundamento da coordenação internacional, o aprimoramento do multilateralismo, que no plano internacional corresponde ao que é a democracia no plano interno”. Segundo sua visão, o Brasil desempenhou um grande papel no redesenho das relações internacionais de acordo com esses valores. E enfatizou o caráter da política externa brasileira: “É uma política diversificada, universal, comprometida com o multilateralismo”.

A julgar pela caracterização que fez dos organismos multilaterais atuais, é uma luta de longo fôlego: “Há uma tensão entre a crescente multipolaridade e a resistência nos organismos multilaterais, os quais não a refletem, mas o Brasil não espera a reforma do Conselho de Segurança da ONU para atuar de maneira assertiva”.

Antonio Patriota finalizou afirmando que a voz do Brasil tem sido cada vez mais ouvida no mundo, porque o Brasil tem assumido responsabilidades crescentes na promoção da paz e da segurança internacional, para solucionar pacificamente os conflitos e impulsionar a cooperação. “O Brasil – disse –tem as melhores condições para promover a paz”.

José Reinaldo, do Rio de Janeiro