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Argentina vive expectativa sobre nova condução política

Uma semana após a morte do ex-presidente Néstor Kirchner, o Senado e a Câmara dos Deputados da Argentina reuniram-se em sessão conjunta ao longo da tarde desta terça-feira (3) para homenagear aquele que era considerado um dos mais poderosos líderes políticos do país.

Passados os momentos de comoção popular com o súbito desaparecimento do deputado federal, líder do Partido Justicialista e secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) — cargos que o ex-presidente acumulava —, as principais forças políticas, empresariais e sindicais da Argentina sinalizam a disposição de manter as condições que garantam a normalidade da vida cotidiana no país. O futuro próximo da política e da economia ainda são motivo de dúvidas, mas um primeiro passo para demonstrar sua disposição de esclarecê-las foi dado pela presidenta Cristina Kirchner na última segunda-feira (1º).

Fim do luto

Surpreendendo quem esperava por um período de luto mais extenso após a morte do marido — apontado como o verdadeiro poder instalado na Casa Rosada, sede do governo argentino — a presidente voltou ao trabalho na segunda-feira (1º). À noite, em rede nacional de rádio e televisão, fez um emocionado agradecimento pelas manifestações de pesar e apoio que recebeu ao longo dos três dias do velório de Kirchner.

O súbito reaparecimento da presidente foi encarado por analistas políticos e jornalistas como uma forma de demonstrar que, apesar do momento doloroso que vive, Cristina Kirchner também está ciente de suas responsabilidades constitucionais e do imenso desafio que tem pela frente: manter a governabilidade sem o amparo do marido e assumir o comando do Partido Justicialista, que era liderado por Kirchner. Analistas acreditam que, a partir de agora, todo e qualquer gesto e atitude política da governante deve ser examinado “sob o microscópio”, na busca de interpretações sobre o seu real significado.

Um detalhe no pronunciamento de Cristina Kirchner, na segunda-feira, tem chamado a atenção. Ela se dirigiu especialmente aos jovens argentinos, agradecendo aos milhares que marcharam pelas ruas de Buenos Aires durante os três dias que durou o velório do ex-presidente.

Saúde de Néstor Kirchner

Em setembro, Kirchner foi submetido a uma cirurgia cardíaca de emergência e recebeu orientações de seus médicos para manter repouso e diminuir sua agenda política. As recomendações não foram atendidas. Pouco mais de uma semana após receber alta do hospital, Kirchner compareceu ao Luna Park, tradicional ponto de encontro para comícios políticos e shows musicais, onde milhares de jovens filiados ao Partido Justicialista haviam preparado uma manifestação de apoio ao ex-presidente. O encontro no Luna Park foi interpretado como o primeiro sinal público da disposição de Kirchner de novamente concorrer à Presidência, em agosto de 2011.

Reeleição

Agora, a presidente Cristina Kirchner transforma-se em virtual candidata à reeleição. De acordo com o analista político Manuel Mora y Araujo, da consultoria Ipsos-Mora y Araujo, a lógica indica que a presidenta será mesmo candidata, pois não existem nomes alternativos. O analista assegura que mesmo antes da morte de Néstor Kirchner, Cristina Kirchner já estava cotada para a reeleição. Concorrer novamente ao cargo, segundo Manuel Mora, depende exclusivamente dela e não da análise de pesquisas de opinião pública que detectem a vontade da população argentina.

Diálogo político

No último fim de semana, numa sinalização de boa vontade política em relação ao governo de Cristina Kirchner, o secretário da União Industrial Argentina (UIA), José Ignacio de Mendiguren, assegurou que “a governabilidade da economia está assegurada”. Mendiguren se reuniu com o dirigente da Confederação Geral do Trabalho, Hugo Moyano, para retomar as discussões sobre a concessão de aumentos salariais para os trabalhadores e a divisão de lucro das empresas, temas que, recentemente, provocaram atritos, distanciamento e quebra do diálogo entre as duas categorias. Agora, segundo declarações de Mendiguren a uma emissora de rádio, empresários e sindicalistas retomarão as conversas, resultantes do convite feito por Hugo Moyano logo após o velório de Kirchner.

Segundo o secretário da UIA, “faremos uma reunião para analisar nosso relacionamento e voltar à nossa história de diálogo, tentando consensos e transmitindo a ideia de que eles são importantes, neste momento, para que as incertezas desapareçam”. José Ignacio de Mendiguren classificou esta futura reunião como um momento histórico na relação entre empresários e trabalhadores argentinos.

Informações Agência Brasil