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Morte de Kirchner descortina novo cenário político na Argentina

A comoção e a incomensurável manifestação de dor popular que se seguiram ao repentino falecimento, na semana passada, do ex-presidente Néstor Kirchner deixaram claro que a Argentina se abre hoje para um novo cenário político.

Por Moisés Pérez Mok, em Prensa Latina

Isso foi percebido nas incessantes mostras de agradecimento ao homem que, definitivamente, mudou o curso da nação a partir de 2003, e também no apoio a sua esposa e presidente, Cristina Fernández, para quem se antecipam formidáveis desafios.

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No entanto, para além das milhares de pessoas que, de forma espontânea, deram o último adeus ao líder do Partido Justicialista, chamou a atenção a participação majoritária de jovens e adolescentes nas sentidas expressões de dor popular.
 
Semelhante protagonismo é interpretado como sinal de uma evidente mudança de atitude, graças à qual parece ter ficado para trás o "que se vayan todos" (em relação aos políticos), que, em 2001, abalava um país colapsado e em ruínas.

A Argentina, apontava o cientista político Atilio Boron, olha para uma nova fase, caracterizada pela grande sombra do ex-presidente, o único com condições de conter "a realidade complexa e turbulenta do peronismo, cujas lutas internas em épocas passadas mergulharam o país em gravíssimas crises institucionais. "

"Este talvez seja o mais sério desafio com o qual terá que lidar a presidenta", acrescentou, antes de ressaltar que o processo de mudança no país já havia começado, mas a morte de Nestor Kirchner o acelera e aprofunda.

A este respeito, um editorial do jornal Tiempo Argentino, publicado na quinta-feira, alertava sobre a ganância de grupos econômicos e de poder midiático e suas abertas pretensões de obstaculizar o progresso.

Ao fazê-lo, resenhava que, ainda quando o corpo de Kirchner estava quente na Patagônia, o jornal La Nación foi rápido em sugerir que a presidente "tem a oportunidade de modificar, corrigir, retificar, alterar uma série de questões, de estilos, diretrizes e políticas impostas por seu marido. "

São vorazes. Não há lástima nem tempo para consolo em suas reivindicações. Há exigência, ameaça, ultimatos à representante do governo da democracia, escrevia o Tiempo Argentino antes de se perguntar: "É possível adivinhar o que está por trás dessas ameaças públicas? Estamos preparados?".

A inevitabilidade das mudanças no cenário político nacional é, naturalmente, claramente percebida também no chamado arco opositor. O deputado e líder do bloco do Peronismo Federal, Felipe Solá, não hesitou em dizer que, com a morte de Kirchner, tudo muda.

Para um grupo de jornalistas na Casa Rosada, onde durante 26 horas foram velados os restos mortais do ex-presidente, Solá foi categórico: "Não me pergunte por que ou como, mas muitas coisas se modificam", disse ele.

Do Partido Justicialista (PJ), por sua vez, advertiram que após a morte de seu líder, as coisas continuarão a funcionar como de costume.

Formalmente, o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, que é vice-presidente, assumiu a liderança do partido; embora a orientação política vá estar a cargo de Cristina Fernández, adiantou o apoderado do PJ, Jorge Landau.

O governador e a presidente vão trabalhar juntos pelo partido, disse Landau, recordando que a decisão de colocar Scioli como vice-presidente dessa força foi do próprio Neéor Kirchner.

Para enfrentar os desafios que podem ser previstos, Cristina Fernández chega com um ponto em seu favor: segundo uma pesquisa do Opinião Pública, Serviços e Mercados (OPSM), 66% da população a considera capaz de aprofundar e melhorar sua tarefa, apesar de não contar mais com Néstor.

Olhando para a eleições de 2011, não só se confirma que tem a maioria das intenções de voto, como se impõe de goleada em relação a qualquer outro candidato em um eventual segundo turno, revelou hoje o chefe da pesquisa, Enrique Zuleta.

Fonte: Prensa Latina