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Projeto Memórias Reveladas passa por problemas

A falta de transparência na difusão dos arquivos do regime militar provocou mais uma demissão no Centro de Referência de Lutas Políticas no Brasil, o Memórias Reveladas. Depois do historiador Carlos Fico, foi a vez de Jessie Jane Vieira de Sousa, sua colega na UFRJ, se afastar ontem do cargo de presidente da Comissão de Altos Estudos da entidade.

Ela alega que o centro se afastou completamente dos propósitos originais. "Da ideia inicial de oferecer o acesso aos documentos da ditadura, o Memórias Reveladas virou um projeto burocrático do Arquivo Nacional", diz.

"Documentos que deveriam ser públicos, porque já foram desclassificados, continuam submetidos à cultura do segredo",  lamentou a historiadora e ex-presa política.

Criado, no ano passado, para facilitar a divulgação dos acervos do regime militar, o Memórias Reveladas é agora centro de uma crise entre pesquisadores e autoridades federais. Na carta de demissão, Fico disse que decidiu desligarse depois que o acesso à documentação da ditadura foi restringido.

O Secretário do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, Jair Krischke, disse que não vê qualquer sentido em manter os arquivos protegidos pelo segredo. Ele destacou que os papéis são registros produzidos pelos órgãos de repressão e informação da ditadura, e não verdades sobre as pessoas.

"Portanto, esses documentos guardados pelo Arquivo Nacional só têm um sentido: serem públicos e ficaram disponíveis", defendeu.

O historiador Daniel Aarão Reis, da UFF, também repudiou a política de manejo de documentos do Memórias. Para ele, o Arquivo Nacional, gestor do projeto, deveria seguir a experiência do Arquivo Estadual de São Paulo, que disponibiliza a documentação a todos os interessados, e não apenas aos investigados pela repressão ou seus representantes legais, exigindo apenas que o interessado assine um termo de responsabilidade.

Com O Globo