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Resultados das eleições 2010 afetam jogo municipal de 2012

A eleição presidencial mexeu no tabuleiro político e já abre caminho para as projeções sobre como será o próximo confronto marcado: a disputa municipal de 2012. Quem sai mais bem posicionado para a conquista dos cargos de prefeito e vereador, que estão na base do sistema?

Oposição ao governo federal, PSDB e DEM conseguiram se fortalecer no plano estadual, ao eleger dez governadores, além do dissidente pemedebista André Puccinelli (MS). Governarão 53,7% dos eleitores nos estados. Mas a base aliada à presidente eleita, Dilma Rousseff, também terminou com um saldo expressivo: no segundo turno, a coalizão de venceu a chapa demo-tucana de José Serra (PSDB) em 3.878 (69,6%) dos 5.567 municípios brasileiros. O conjunto dessas cidades reúne cerca de 58% do eleitorado nacional.

Mas nem o poder dos governadores nem a votação obtida pelos candidatos a presidente determinam, isoladamente, o potencial de prefeituras a serem conquistadas. Estudos mostram que é fraca a correlação entre o resultado das eleições presidenciais e as municipais. Na corrida às prefeituras, o debate em torno dos temas locais prevalece e a federalização das campanhas só ocorre em maior grau nas disputas dos grandes colégios eleitorais, como as capitais.

A força da máquina administrativa parece pesar mais. Em 2008, 20 prefeitos tentaram se reeleger nas 26 capitais brasileiras. Apenas um não conseguiu renovar o mandato: Serafim Corrêa (PSB) — cuja eleição em 2004, em Manaus, havia sido uma surpresa. Ou seja, houve um aproveitamento de 95% nas tentativas dos prefeitos — percentual maior do que o obtido pelos governadores nestas eleições: também 20 tentaram a recondução ao cargo, mas apenas 12 foram bem sucedidos (60%).

Dos 19 prefeitos reeleitos nas capitais em 2008, 13 alcançaram a vitória no primeiro turno. O alto número de reeleições, há dois anos, indica que a próxima disputa em 2012 terá uma grande quantidade de cadeiras tidas como vulneráveis, cujo titular estará necessariamente de saída. Serão 13 vagas "em aberto", pois seis prefeitos reeleitos renunciaram, no início do ano, para concorrer a governos estaduais, e foram sucedidos por vices que terão direito à reeleição daqui a quatro anos.

Das 13 cadeiras vulneráveis, a maioria — oito — é ocupada por PT e PMDB. Os petistas, que governam o maior número de capitais, sete, têm cinco delas nesta condição: Fortaleza, Vitória, Rio Branco, Porto Velho e Palmas. Na maior, a capital cearense, a manutenção do partido no poder não se vê tão ameaçada pela oposição: o governador aliado Cid Gomes (PSB) se reelegeu e Dilma teve ali sua quarta maior votação (71,81%) dentre as 26 capitais. A maior ameaça, aparentemente, seria o tucano Tasso Jereissati, caso ele não cumpra a promessa de não disputar mais eleições, como anunciou depois de sua vexatória derrota ao tentar se reeleger ao Senado.

O PMDB, que comanda quatro capitais, tem três delas em situação de maior vulnerabilidade: Salvador, Campo Grande e Florianópolis. Na capital baiana, animosidades afloradas na eleição para governador — em que houve divisão da aliança nacional PT-PMDB, com o lançamento da candidatura de Geddel Vieira Lima — podem facilitar a perda da prefeitura pelo partido.

As condições ao PT são favoráveis: reelegeu o governador Jaques Wagner e ajudou a emplacar os dois senadores de sua chapa, Walter Pinheiro (PT) e Lídice da Mata (PSB). Em Salvador, Dilma teve sua terceira melhor votação nas capitais (73,34%). O clima pró-PT, antecipado pelo prefeito João Henrique, fez com que ele apoiasse Dilma e não embarcasse de cabeça na candidatura de Geddel, seu correligionário. Os dois estão afastados e cogita-se que Geddel tentará forçá-lo a sair do partido.

Em Campo Grande, a situação para o PMDB é melhor. Nelson Trad Filho deixará a prefeitura, mas o grupo político de André Puccinelli, único governador do partido a se opor ao governo Lula, saiu fortalecido das urnas ao se reeleger. Além disso, Serra, na capital sul-mato-grossense, superou Dilma por 59,76% a 40,24%, o que demonstra um terreno desfavorável a desafiantes, pelo menos os de forte identificação com o governo federal.

O PSB, maior surpresa nas corridas estaduais deste ano ao dobrar para seis o número de seus governadores, pode repetir o bom desempenho nas capitais em 2012. É o partido que tem mais prefeitos com direito à reeleição, ao lado do PTB. São três: em Belo Horizonte, Curitiba e João Pessoa — apenas Boa Vista está em situação mais vulnerável.

Na capital paranaense, o prefeito Luciano Ducci ocupa o cargo que herdou com a saída do tucano Beto Richa, que se elegeu governador. Como, no plano nacional, seu partido é aliado do governo Lula, Ducci manteve-se neutro na corrida presidencial e não apoiou Dilma nem Serra. E viajou para o Japão no segundo turno.

A dança das cadeiras — ocorrida no início do ano e movida pela ambição dos prefeitos pelo cargo mais alto de governador — foi responsável por mexidas importantes no tabuleiro municipal. O PSDB foi a legenda que saiu em maior desvantagem. Tinha quatro prefeitos de capitais e conta com apenas um agora (João Castelo, em São Luís, no Maranhão, que tem direito a renovar o mandato).

Beto Richa se elegeu. Mas Wilson Santos, ex-prefeito de Cuiabá (MT), e Silvio Mendes, de Teresina (PI), não conseguiram o objetivo, para o qual tiveram de renunciar, em ambos os casos em favor de vices que pertencem ao PTB. Com isso, o PTB, que comanda também Belém e Manaus, passou a ocupar o segundo lugar em número de capitais governadas, atrás do PT e ao lado de PMDB e PSB.

Com apenas uma capital — enquanto o PT já parte à frente da disputa com sete prefeituras —, o PSDB tem como esperança manter a joia da coroa, São Paulo. Os tucanos dividem a administração da cidade com o aliado DEM, cujo prefeito, Gilberto Kassab, não pode se reeleger novamente. Para que a capital paulista não caia nas mãos dos adversários, o partido pode reeditar a candidatura de Serra, mais uma vez dois anos depois de o tucano ter sido derrotado numa eleição presidencial.

Serra superou Dilma na cidade por 53,64% a 46,36% – uma vantagem relativamente modesta para quem já foi prefeito e governador. Até 2012, o tucano pode esbarrar, ainda, no racha de seu grupo político. Kassab tem feito movimentos para levar o DEM — cujo poder vem definhando a cada eleição — a uma fusão com o PMDB ou com outra sigla de menor porte.

Outra ameaça — tanto às pretensões de PSDB e DEM quanto às de PMDB e PT — de controlar a maior capital do país seria Marina Silva (PV). Rumores dão conta de que a senadora do Acre, terceira colocada na corrida presidencial, poderia transferir seu domicílio eleitoral para São Paulo — ou Rio de Janeiro — para concorrer à prefeitura. Na capital paulistana, Marina obteve 20,1% dos votos válidos.

Já no Rio, seu desempenho foi melhor, 31,91%, o que lhe garantiu o segundo lugar. Na capital fluminense, só mesmo fatores especiais, como a candidatura de Marina ou o estouro de um grande escândalo, podem representar um perigo à reeleição de Eduardo Paes (PMDB). Indio da Costa (DEM) ganhou projeção nacional, como vice na chapa de José Serra, mas sua esperada candidatura terá uma missão complicada. O prefeito é aliado do governador e colega de partido Sérgio Cabral, que conseguiu se reeleger como o terceiro proporcionalmente mais votado, com 66%.

Tanto Cabral quanto Paes se beneficiam da forte parceria com o governo federal, que, por sua vez, foi retribuído na eleição presidencial: no Rio, Dilma venceu Serra por 61% a 39%. Marina Silva, caso desafie Paes e o grupo político por trás dele, pode, curiosamente, repetir a eleição de 2008, quando Fernando Gabeira, também do PV, despertou uma onda de apoio que quase derrotou o bloco liderado por PMDB e PT. Eduardo Paes ganhou por 50,83%, com uma diferença de menos de 56 mil votos.

Se a eleição presidencial não abalou, ou até reforçou, a vantagem que o prefeito do PMDB no Rio terá para se reeleger, o mesmo pode se dizer de Recife onde João da Costa (PT) poderá renovar seus mandato. Ali, a situação é confortável. No estado, o governador aliado, Eduardo Campos, do PSB, reelegeu-se com a maior votação percentual do país, 82,84%, e a capital conferiu à Dilma uma vitória de 66% a 34% sobre Serra.

A derrota contundente de Jarbas Vasconcelos (PMDB) para Campos e a não-reeleição de Marco Maciel (DEM) ao Senado são fracassos que desafiam previsões otimistas para a oposição. Em Goiânia, o vice Paulo Garcia, do PT, herdou a vaga que pertencia a Iris Rezende (PMDB). Mas a manutenção da prefeitura pode ter pela frente maiores obstáculos. Além de Marconi Perillo (PSDB) ter vencido a eleição para governador, a capital foi terreno fértil para os tucanos. Ali, Serra bateu Dilma por 57,57% a 42,43%.

Em Belo Horizonte e Porto Alegre, a eleição presidencial também trouxe sinais de instabilidade que tornam o quadro bem menos previsível. Na capital mineira, onde o PT sempre teve a maior votação na eleição presidencial, desde 2002, Dilma perdeu ligeiramente para Serra no segundo turno (50,39% a 49,61%), o que pode indicar o crescimento de um antipetismo no eleitorado.

A prefeitura de BH é resultado da união entre o PT (com histórico de administrações locais) e o PSDB (do ex-governador e senador eleito Aécio Neves) — um cruzamento atípico que elegeu Márcio Lacerda (PSB). O prefeito tem direito à reeleição, mas o rastro de discórdia deixado pela acirrada disputa presidencial entre tucanos e petistas — que formam sua heterogênea base de apoio — podem prejudicar a renovação do mandato. Tanto PT quanto PSDB cogitam quebrar a aliança e lançar candidatos próprios.

Os sinais contraditórios emitidos pela elite política mineira podem ser responsáveis pela volatilidade das preferências no eleitorado. Belo Horizonte foi uma das quatro capitais onde houve mudança de resultado entre o primeiro e o segundo turno na corrida presidencial — as outras foram Belém e Natal, também favoráveis a Serra, e Cuiabá, que deu vitória a Dilma na segunda rodada.

Em Porto Alegre, as eleições ao Executivo nacional e estadual também balançaram as estruturas e tornou o quadro indefinido. Com a renúncia de José Fogaça (PMDB) para concorrer ao governo do estado, a prefeitura foi assumida por José Fortunati (PDT). O pedetista está inclinado a se aproximar e levar a sigla para a base do governador eleito Tarso Genro (PT) — uma vez que seus partidos são aliados no plano nacional. Mas Fortunati reivindica autonomia e a primazia de ser o candidato à prefeitura.

Essa reacomodação de forças, em certas situações, revela clara estratégia de sobrevivência ou senso de oportunidade. É o caso dos dois vices do PTB que herdaram as vagas de tucanos que saíram para concorrer ao governo. Em Cuiabá, Chico Galindo fez campanha para Wilson Santos — mas, antes mesmo do primeiro turno, mexeu em seu secretariado e, agora, já se aproximou do governador eleito Silval Barbosa (PMDB), a quem ele e Santos se opunham.

Em Teresina, a troca de parceiro foi ainda mais rápida. Elmano Férrer largou seu ex-prefeito, Silvio Mendes, e, no início do segundo turno, sob a alegação de que seguia orientação partidária, passou a apoiar Wilson Santos (PSB), que se elegeu. As adesões fazem com que apenas cinco dos 26 prefeitos de capitais estejam em oposição aos governadores eleitos: dois são do PT (em Goiânia e Palmas) e os outros são do PSB (em Boa Vista), PDT (em Macapá) e PSDB (São Luís).

Da Redação, com informações do Valor Econômico