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Ministros de Berlusconi ameaçam renúncia

“Está decidido.” O primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi vai encontrar no seu gabinete cartas de demissão dos quatro membros do Governo aliados do Presidente do Parlamento, Gianfranco Fini, na próxima segunda-feira. É mais um capítulo da crise que se agrava na Itália, com a popularidade de Berlusconi se esvaindo ladeira abaixo.

A confirmação das renúncias foi dada por Italo Bocchino, próximo de Fini, enquanto, na Itália, os sinais de uma crise política se tornam mais visíveis nos últimos dias. Os quatro membros do executivo, entre os quais dois ministros, aliados de Fini, deverão sair se o primeiro-ministro italiano não se demitir – coisa que ele já disse que não fará.

Fini e Berlusconi romperam relações desde julho, quando, depois de meses de troca de acusações cáusticas, Berlusconi expulsou Fini do partido Povo da Liberdade (PDL), que os dois fundaram em 2008. O rompimento levou Fini a criar um partido próprio, retirando de Berlusconi a garantia de maioria na Câmara e praticamente paralisando o Executivo.

A ameaça já tinha sido externada por Fini, no domingo passado, e nem as tentativas de adiar a queda iminente do Governo por parte de Umberto Bossi, ministro para as Reformas Institucionais e líder da Liga Norte (partido que integra a coligação no poder), fizeram acalmar a tensão sobre uma crise política.

Com a imagem afetada por uma série de escândalos sexuais e a popularidade em seu nível mais baixo, o primeiro-ministro, de 74 anos, insiste que pretende permanecer no cargo até ao fim do mandato, em 2013. Numa conversa ao telefone com os líderes do seu partido citada hoje pelo jornal italiano “La Stampa”, El Cavaliere dizia: “Nunca renunciarei”.

“Fini quer eliminar-me, quer ver-me morto fisicamente com a história de Montecarlo [venda de um imóvel partidário por parte do Presidente do Parlamento, em suposto proveito próprio, denunciada por um jornal de Berlusconi depois da saída de Fini do Povo da Liberdade, em que o Ministério Público provou a inocência do rival]”, afirmou também.

A cumprir-se aquilo que Italo Bocchino assumiu ontem, são quatro os membros que vão apresentar a demissão: o ministro da Política Comunitária, Andrea Ronchi, o vice-ministro do Comércio Externo, Adolfo Urso, o subsecretário de Estado da Agricultura, Antonio Bonfiglio, e o subsecretário de Estado do Ambiente, Roberto Menia.

Bocchino entende que Berlusconi “deveria dizer ao Presidente da República, [Giorgio Napolitano], que uma das partes da sua maioria já não está sustentada e demitir-se”. E argumenta: “Se os nossos ministros ainda não se demitiram”, foi “por delicadeza institucional”.

Num encontro em Bastia Umbra, próximo de Perugia, no centro da Itália, Fini pediu a demissão do primeiro-ministro por entender estar “de fato” aberta uma crise que, disse, só se resolve com “uma nova fase” na qual se discuta a natureza da coligação e a composição do Governo.

Pompéia

Além das renúncias, um outro ataque partiu de dois partidos da oposição, que querem a demissão do ministro da Cultura italiano, Sandro Bondi, o que pode conduzir à queda do Executivo e à convocação de eleições pelo Presidente Giorgio Napolitano.

Na quarta-feira – quatro dias após o desabamento da Casa dos Gladiadores, um monumento com dois mil anos que pertence às ruínas de Pompeia – Bondi foi instado pelo Partido Democrata (PD), principal força de esquerda, e a Itália dos Valores (IDV) a deixar o Governo. Caso o detentor da pasta da Cultura não deixe o cargo de livre vontade, a oposição ameaçaapresentar uma moção de censura para o obrigar a sair.

"As imagens do desabamento em Pompeia correram mundo. O ministro tem responsabilidade e deve arcar com as consequências", afirmou o líder do PD, Pier Luigi Bersani.

Também o IDV se mostrou indignado com o estado calamitoso das ruínas de Pompeia, consideradas Património Mundial da UNESCO. "Este incidente é simplesmente a confirmação da situação catastrófica em que se encontra o imenso património artístico e cultural italiano", defendeu o líder da bancada parlamentar do IDV, Massimo Donadi.

Numa audição no Senado, o ministro rejeitou responsabilidades na queda do monumento, justificada pelas autoridades com as chuvas intensas e uma reparação anterior feita com cimento.

"Os problemas de Pompeia existem há muitos anos sem que ninguém tenha conseguido resolvê-los definitivamente", afirmou Bondi.

Com agências