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Niko Schvarz: A ultradireita do Tea Party

O presidente Barack Obama sofreu uma dura derrota nas eleições de meio termo em 2 de novembro. Perdeu por goleada o controle da Câmara dos Representantes e conservou por pouco uma maioria mínima no Senado. Os democratas perderam também vários governos estaduais. Mas o mais inquietante foi o surgimento de um setor de ultradireita, que se identifica como o Tea Party e conseguiu eleger alguns de seus representantes mais característicos.

Por Niko Scharz, no La Republica do Uruguai

Ele surge como uma ala do Partido Republicano, e não se descarta que pretenda tomar o controle de sua direção.

A denominação vem de um episódio vinculado à fundação dos Estados Unidos, quando grupos de imigrantes procedentes do Reino Unido jogaram ao mar, em Boston (na costa do Atlântico), no ano de 1773, carregamentos de chá em protesto pelo que consideravam uma excessiva carga de impostos da coroa britânica.

Um de seus representantes típicos é Marco Rubio, de origem latina, eleito senador por um estado emblemático como a Florida. A máfia anticubana que opera nesse âmbito conseguiu também a reeleição da congressista Ileana Ross-Lehtinen, que passará a presidir a comissão de relações externas da Câmara dos Representantes, de cuja presidência foi exonerada a democrata Nancy Pelosi, firme defensora de Obama.

A Câmara de Representantes renovou totalmente seus 435 assentos, dos quais 255 pertencem agora aos democratas e 179 aos republicanos. Em sua nova composição, os republicanos superam largamente a maioria absoluta dos 218 assento.

No Senado, que renovou um terço dos seus 100 membros e onde os democratas têm agora 59 e os republicanos 41, o partido do governo reduziu sua representação a estritos 51 assentos. A eleição de governadores também não sorriu aos democratas, que atualmente têm 26 dos 50 governos, e dos quais se renovaram 37. Uma pesquisa assinala que "ao menos 118 dos republicanos que obtiveram assentos foram candidatos levantados, apoiados ou garantidos pelo Tea Party" e que o auge deste setor teve influência decisiva na derrota de Obama, unido ao fato notório que um setor considerável dos eleitores que o levaram à Casa Branca motivados pelas suas promessas de mudanças, neste eleição não acompanharam os candidatos de seu partido.

O Tea Party, que apareceu como algo novo, em realidade tem origens ideológicas bastante antigas. Mas vejamos antes seus suportes financeiros. Aparecem em primeiro lugar o multimilionário do setor petrolífero David H. Koch e o magnata midiático Rupert Murdoch, dono nos Estados Unidos da News Corporation, que abarca os canais de televisão Fox e Sky, os diários The Wall Street Journal, The Sun, Times e uma centena mais. É dono também de meios de comunicação em outros países.

Em relação a Koch, assinala-se o seguinte: "Koch, com uma fortuna pessoal de 3.6 bilhões de dólares e proprietário com seu irmão Charles da megaindústria Koch Industries, cujo faturamente anual é estimado em 100 bilhões de dólares, canalizou somas muito grandes de dinheiro por intermédio da fundação Americans for Prosperity, que preside, e da Freedom Works, que financia, para alimentar as campanhas eleitorais do Tea Party. Todos sustentam a bandeira republicana e cabe supor que são parte de uma luta intestina pelo controle do partido".

Em relação à sua ideologia, está vinculado a um think-tank denominado Liberty Central, que promove (e percebe-se claramente a semelhança com os lemas do Tea Party) o racismo desaforado, o repúdio categórico ao aborto e ao casamento entre homossexuais. Esta entidade conta com 54 organizações "amigas", entre elas a denominada "Tradição, Família e Propriedade", homônima da fundada em 1960 na cidade de São Paulo pelo brasileiro Plínio Correa de Oliveira.

No citado estudo se diz que "a TFP desempenhou um papel no golpe de Estado no Brasil em 1964 e alega-se que, no Uruguai, tenha recebido explosivos do adido militar da embaixada brasileira, que teriam sido usados para atacar comunista locais. O diretor da revista chilena da TFP, Jaime Guzmá, se converteu em ideologo do regime de Pinochet". O pandeiro está nessas mãos.

Com tais antecedentes, não custa acreditar que a campanha dos candidatos do Tea Party tenha se caracterizado pelas invocações de tom racista, a prédica sistemática contra a legalização dos imigrantes sem documentos, contra aspectos da política de Obama, como a extensão do seguro desemprego em época de crises e seu programa de reforma do sistema geral dos serviços de saúde, assim como por um fim às isenções de impostos que o governo de George W. Bush estabeleceu para os setores de maiores rendas. E que, de passagem, caduca no fim do ano e que precisará ser resolvido em seguida, mas isso é tarefa para o atual governo e o atual Congresso.