William Fisher: o extremismo não tem religião
As ameaças de ataques aos Estados Unidos por grupos não islâmicos superam amplamente as feitas pelos que professam essa fé, afirma um estudo do Conselho Muçulmano de Assuntos Políticos (MPAC). A comunidade muçulmana frustrou um terço dos planos de atentados desde 2001, acrescenta o informe.
Por William Fisher, na Envolverde/IPS
Publicado 14/11/2010 18:07
O MPAC é uma organização que defende os direitos civis dos muçulmanos norte-americanos. O informe se concentra em episódios violentos ocorridos após os atentados de 11 de setembro de 2001 em Nova York e Washington. “O informe demonstra a validade de dois de nossos princípios básicos”, disse Alejandro J. Beutel, autor do estudo.
“Primeiro, é falso que se deva optar entre nossos direitos e liberdades e a segurança nacional. Podemos ter ambos”, afirmou. “O segundo é que as forças da ordem seriam mais efetivas se tratassem de colaborar com a comunidade muçulmana, em lugar de tratá-la como adversária”, acrescentou Alejandro, pesquisador do MPAC e oficial de ligação com o governo.
“Somos muito prudentes ao nos relacionarmos com o Escritório Federal de Investigações (FBI), pela espionagem infundada a que submete nossas mesquitas. Não há grande evidência de um aumento do extremismo ideológico”, conclui o estudo.
Os muçulmanos que participaram em 13 dos 15 atentados falidos cometidos após a chegada de Barack Obama à Casa Branca, em janeiro de 2009, estavam vinculados a organizações extremistas antes das eleições. Dos 15 episódios, dez tiveram a ver com o extremismo ideológico desde 2007.
Não há provas de que a rede Al Qaeda busque novos membros na comunidade muçulmana dos Estados Unidos. Por outro lado, os dados indicam que o extremismo ideológico de longa data se torna violento. Os muçulmanos ajudaram a frustrar vários planos de atentados, o que destaca a importância de estabelecer uma colaboração entre a polícia e os membros dessa comunidade, diz o informe.
A violência extremista supõe dois tipos de desafios, diz o documento. Primeiro, a quantidade e natureza dos ataques planejados. Segundo, a quantidade de casos orquestrados e concretizados nos Estados Unidos, incluindo análises comparativas de incidentes cometidos por muçulmanos e pelos que não professam essa fé.
A proposta de construir um templo islâmico a duas quadras de onde estiveram as Torres Gêmeas causou um ressurgimento de sentimentos antimuçulmanos nos Estados Unidos. Várias pessoas e organizações, entre as quais familiares de vítimas dos atentados de 2001, foram contra o projeto por considerá-lo uma “celebração do Islã”. Os defensores da iniciativa a consideram um veículo para aproximar as diferentes religiões. Por todo o país, propagaram-se as campanhas contra a construção de mesquitas.
As eleições parlamentares da semana passada permitiram que muitos candidatos atacassem verbalmente a comunidade muçulmana, incluídos os candidatos norte-americanos que professam essa fé. Na maioria eram do opositor Partido Republicano e membros do movimento ultraconservador Tea Party. Alguns integrantes do Partido Democrata tentaram questionar a ideia de que “todos os muçulmanos são terroristas”, mas muitos outros mantiveram silêncio.
Vários atentados falidos dos últimos tempos contribuíram para aumentar o alarme público e incentivar a busca por um bode expiatório. Os muçulmanos sofrem diferentes formas de discriminação em seu trabalho. Os membros dessa comunidade apresentaram 803 queixas desse tipo nos primeiros nove meses de 2009, 20% a mais do que no ano anterior e quase 60% mais em relação a 2005, segundo dados oficiais publicados pelo The New York Times.
A quantidade de reclamações desde essa data até agora só se saberá em janeiro. “Contudo, as organizações islâmicas dizem ter recebido mais queixas nos últimos tempos, o que sugere que os números deste ano constituirão outro recorde”.
A Comissão de Oportunidades de Emprego Equitativo apresentou várias demandas vinculadas com a discriminação de muçulmanos em várias empresas. A MPAC e outras organizações estão desiludidas com o FBI, que reconheceu colocar “agentes provocadores” nas mesquitas. “Nos sentimos traídos”, disse Alejandro Beutel.