Caminhada pela paz abre a Semana da Consciência Negra em Salvador

Iniciada no Engenho Velho da Federação, a 6ª Caminhada Contra a Violência, a Intolerância Religiosa e pela Paz reuniu quase duas mil pessoas durante sua passagem pelas principais ruas do bairro, no feriado de 15 de novembro. A manifestação teve sua primeira edição em 2004, quando os terreiros de Candomblé do Engenho Velho se uniram para lutar contra atos de intolerância religiosa no bairro. Ao longo dos anos, a caminhada foi ganhando o apoio da comunidade. “Hoje, pessoas de toda Salvador, e até de Cachoeira, vêm participar de nossa caminhada”, afirmou Jandira Santana Mawusi, ekede do Terreiro do Bogun e uma das organizadoras da caminhada.

Apesar das iniciativas que reforçam a necessidade de respeito pregadas pelos membros dos terreiros do Engenho Velho, muitos casos de intolerância ainda ocorrem na comunidade, principalmente tendo como vítimas as crianças. Em um destes casos, uma criança foi chamada de demônio por uma coordenadora da escola onde estudava, só por que seus pais são adeptos do candomblé. “O caso foi tão grave que foi parar no Ministério Público Estadual (MPE)”, disse Jandira Santana, cercada por crianças, que, durante a caminhada soltaram pombos brancos, endossando o pedido de respeito e fraternidade.

“Ele (Deus) não quer que sejamos intolerantes para com os outros” afirmou a líder do Terreiro do Cobre e principal organizadora da caminhada, Valnízia de Oliveira, que ainda falou que, no candomblé, as tradições são passadas para as crianças, mas que a escolha se irá seguir ou não a religião será delas próprias e não uma imposição.

Valnízia acredita que o mundo tem problemas muito grandes para resolver, como a poluição e o aquecimento global do planeta, e que as pessoas não deveriam se preocupar com coisas de fórum íntimo das outras pessoas, como sua religião e sexualidade.

Homenagem a Zumbi

A Semana da Consciência Negra será encerrada com uma grande homenagem a Zumbi dos Palmares, líder maior da luta pela promoção da igualdade racial no Brasil. Pelo segundo ano consecutivo entidades do movimento negro se reúnem no dia 20 de novembro, sábado, às 13, na Praça da Sé para realizar a lavagem da estátua de Zumbi. Organizada pela Unegro, Olodum, Abam, Grucon, CEN, Coração Rastafari e com apoio do governo federal a Lavagem é um ato público em defesa da vida.

Realizada com a proposta de chamar a atenção dos poderes públicos para o monumento deste herói negro, que está abandonado, lavagem da imagem de Zumbi dos Palmares, tem também o objetivo de reunir pessoas para celebrar o Dia da Consciência Negra. Vários artistas já confirmaram a presença na atividade, que contará com um show da sambista Juliana Ribeiro e do cantor Lazzo Matumbi.

“Somos conscientes que já tivemos grandes avanços, mas ainda temos muito para conquistar. Tivemos a recente aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, mas a nossa luta é contínua, já que o racismo não tira férias. Ainda, somos nós os alvos preferidos de todo e qualquer tipo de violência, por isso não podemos vacilar,” afirma Jerônimo Júnior, coordenador da Unegro.

De Salvador,
Eliane Costa com agências