Kassab roi a corda com DEM e apoia tucano para a mesa da Câmara

Prefeito de São Paulo ignora candidato democrata à presidência da Câmara e admite que está negociando com cúpula do PMDB.

O prefeito Gilberto Kassab deu novos indícios de sua saída do DEM: declarou ontem apoio oficial ao adversário do seu partido na disputa pela presidência da Câmara Municipal de São Paulo e admitiu pela primeira vez conversas com a cúpula nacional do PMDB.

Pela manhã, na sede da Prefeitura, Kassab confirmou ao Estado que apoia a candidatura de José Police Neto (PSDB) para o comando da Mesa Diretora do Legislativo. O adversário do tucano na disputa é o vereador Milton Leite (DEM), atual relator do Orçamento do Executivo e um dos principais cabos eleitorais do prefeito na zona sul na campanha à reeleição, em 2008.

"Eu tenho muito respeito pelo Milton, mas meu apoio é do Neto. É um apoio isento, não vou interferir na eleição da Mesa. São duas figuras muito importantes na política da cidade e que merecem respeito", afirmou o prefeito. Após a entrevista, o prefeito reafirmou às principais lideranças da Câmara o seu apoio ao candidato do PSDB.

A notícia agravou a crise entre o prefeito e os sete vereadores do DEM e com os líderes do "centrão", o bloco que agrega 16 dos 55 parlamentares das legendas PR, PMDB, PTB, PV e PP e a bancada de dez vereadores do PT. "Tenho apoio da direção nacional do meu partido, mas ainda não tomei a decisão final de ser candidato", desconversou Leite ao saber da posição de Kassab.

Uma das lideranças da bancada, Carlos Apolinário (DEM), criticou a decisão do prefeito. "Lamento que o Kassab não apoie um candidato do seu partido. E espero que, mesmo tomando uma decisão como essa, ele use métodos republicanos na sua defesa." Presidente da Câmara nos últimos quatro anos e primeiro suplente de Marta Suplicy (PT) no Senado, Antonio Carlos Rodrigues (PR) considera a posição do prefeito mais um indicativo de sua saída do DEM.

"O Kassab está com um pé para fora do partido. E não acho que existe um apoio isento à candidatura do PSDB. Centroavante quando vai bater pênalti é para marcar gol", comparou Rodrigues.

Há sinais, também, de que o apoio do prefeito a Police Neto faça parte de um acordo com o ex-governador José Serra (PSDB) e com o próprio vereador, um dos expoentes do PSDB que tentaram barrar a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Prefeitura em 2008.

Um pé fora. Antes de declarar apoio ao candidato tucano, Kassab admitiu na noite de quarta-feira ter mantido conversas com o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

"Existe uma discussão de todos os partidos no momento em que se encerram as eleições", afirmou o prefeito em entrevista à Radio CBN, ao ser questionado sobre as conversas com Temer. Em seguida, o prefeito negou que esteja de saída do DEM para o PMDB.

Fonte: O Estado de S. Paulo