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110 países recusam-se a usar ONU como instrumento de acusação

O Brasil e outros 110 países se abstiveram ou foram contra, ontem, a apoiar uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU), patrocinada pelos Estados Unidos, que acusava o Irã de "graves violações aos direitos humanos". O documento, que acabou aprovado pelos demais integrantes da ONU, ainda condena Teerã por "silenciar jornalistas, blogueiros e opositores".

Além do Brasil, outros 56 países como Angola, Benin, Equador, Guatemala, Marrocos, África do Sul e Zâmbia se abstiveram. Outras 44 nações, como Venezuela, Síria, Sudão, Cuba, Bolívia e Líbia, optaram pelo voto contra. A Argentina foi o único membro do Mercosul que aprovou a resolução, ao lado dos Estados Unidos, Canadá, Chile e Japão.

Diplomacia no lugar da condenação

A missão diplomática brasileira, comandada pela embaixadora Maria Luiza Viotti, argumentou que o Brasil reconhece os problemas de direitos humanos no Irã, especialmente os das mulheres, mas avalia que o governo do presidente Mahmoud Ahmadinejad está avançando na cooperação com a ONU.

No texto do voto, a diplomacia brasileira afirma que as situações de direitos humanos devem ser examinadas de uma maneira "verdadeiramente holística, multilateral, despolitizada e não-seletiva".

A embaixadora brasileira ainda criticou a votação, afirmando que as resoluções sobre países específicos são as únicas, dentro do trabalho do Terceiro Comitê, "que não passam por um processo de consultas abertas e transparente".

Nos últimos anos, a estratégia do Itamaraty tem sido a de não usar os órgãos da ONU para condenar outros países. A ideia é de que a cooperação e o diálogo são as melhores formas de garantir que um país caminhe em direção ao respeito dos direitos humanos.

Coréia do Norte

Sob o comando dos Estados Unidos, a ONU também aprovou resolução condenando a Coreia do Norte, que reagiu criticando a resolução das Nações Unidas que censura a situação dos direitos humanos no país comunista.

Para a Coréia do Norte, a resolução é parte de "complô político" dirigido pelos Estados Unidos para derrubar o seu regime.

Na quinta-feira, a Assembleia Geral da ONU voltou a adotar um documento no qual expressa sua "profunda preocupação" pelas denúncias sobre a violação "sistemática" e "generalizada" na Coreia do Norte dos "direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais".

Em resposta a essa resolução, que a ONU adota anualmente desde 2005, um porta-voz do Ministério de Relações Exteriores norte-coreano disse se tratar de um "produto de um complô político das forças hostis", segundo informou a agência oficial KCNA.

"As forças hostis lideradas pelos Estados Unidos organizam este complô a cada ano com o objetivo de derrubar o regime" na Coreia do Norte, acrescentou o porta-voz oficial do país comunista.

A hipocrisia das votações sobre direitos humanos da ONU reflete-se ainda no fato do órgão não se debruçar sobre as graves e sucessivas violações cometidas pelos Estados Unidos dentro e fora de seu território, especialmente por organismos como a CIA e as forças armadas norte-americanas que usam a tortura, as perseguições e o assassinato de "suspeitos" como instrumento de combate cotidiano em sua paranóica cruzada "antiterrorista".

Com agências