A Eleição da Mesa

A Câmara Municipal de Vitória deverá eleger nos próximos dias a sua Mesa Diretora, incluindo aí a recomposição das suas diversas comissões e o novo presidente para o biênio 2011/2012. As articulações entre os vereadores estão em andamento. Afinal, caberá a eles a definição do processo.

Mas dada a importância da Casa para a cidade de Vitória e para o próprio Estado do Espírito Santo, é natural que a movimentação política dos vereadores desperte o interesse geral e seja acompanhada também pelas variadas forças políticas e sociais.

Não se percebe até o momento qualquer intenção de rupturas, até porque a atual composição resultou de um consenso havido no início da legislatura, no dia 1º de janeiro de 2009. Aquele consenso fora possível em razão da reeleição de dois terços dos vereadores no pleito municipal de 2008. E os reeleitos já vinham de dois mandatos bem sucedidos do atual presidente Alexandre Passos (PT).

Apesar da diversidade de partidos representados na Câmara Municipal o ambiente é de harmonia política, sobre a qual está assentada a base de apoio ao prefeito João Coser. Harmonia, no entanto, não é sinônimo de união. A maioria foi eleita na coligação que elegeu o atual prefeito e lhe dá o indispensável apoio político para administrar a cidade. Mas o grau de apoio varia de vereador para vereador e, a cada momento, aparece condicionado à reciprocidade política e confiança na figura do prefeito. O que é muito próprio da relação política entre parlamentares e o chefe do Executivo em qualquer lugar. Há, no entanto, alguns vereadores predispostos a uma postura mais contundente. Esta tendência pode se firmar na medida em que os vereadores coloquem em perspectiva a própria reeleição deles em 2012, quando Coser estará ausente como candidato, já que estará completando o seu segundo mandato como prefeito.

Quanto ao nível de satisfação com a gestão da Casa, há quase que uma unanimidade: o extenso período de Alexandre Passos foi inegavelmente positivo. Ele foi favorecido por dois fatores igualmente importantes. O primeiro diz respeito à superação do maior problema da Câmara Municipal – o exíguo espaço físico -, resolvido ainda na administração anterior, sob a presidência do vereador Ademar Rocha (PTdoB). O outro fator favorável foi a proximidade do vereador Alexandre com o prefeito. Embora esta parceria não tenha escapado às criticas, ninguém pode negar que a relação dos vereadores com o João Coser se deu livre, espontânea e individualmente, na prática dispensando uma eventual mediação do presidente da Câmara Municipal.

E qual é a conjuntura mais geral na qual está se processando a eleição da Mesa na Câmara Municipal de Vitória? No Brasil, estará começando o governo de Dilma Rousseff (PT), que promete mais desenvolvimento com mais distribuição da renda nacional. No Estado, é Renato Casagrande (PSB), prometendo levar o Espírito Santo mais longe ainda. Teremos com Dilma e Casagrande a manutenção da harmonia da era Lula/Hartung, que até agora beneficiou Coser. Só que estes dois governos estarão apenas iniciando, portanto, ainda desfrutando dos créditos e popularidade aceitos neste período. Já os mandatos dos vereadores e do prefeito estarão submetidos a um coeficiente de tolerância muito menor, pois os resultados terão que aparecer. Daí que o caminho é inapelavelmente o da preservação da parceria entre o Legislativo e o Executivo, mas num outro patamar. Até porque, de certa forma, a atuação da Câmara Municipal, aos olhos do povo, se confunde com o desempenho da Prefeitura. Isto não impede que alguma oposição pontual seja exercitada. Não se pode confundir a ação de um ou outro vereador com a postura da Câmara.

Creio que os vereadores devem agora valorizar mais a respeitabilidade que a Câmara Municipal alcançou nos últimos tempos, consolidar a interação com as demais entidades representativas do povo de Vitória e usar melhor os meios legais que dispõem para interagir com a opinião pública. Não podemos mais aceitar o paradoxo de não termos nada para esconder do povo que nos elegeu, ao mesmo tempo em que não temos tido meios para mostrar o que deveríamos estar mostrando.

Namy Chequer é Vereador de Vitória pelo PCdoB.