São Paulo contra a Aids: ato informa e cobra políticas públicas
Um fórum que reúne 122 organizações não-governamentais (ONGs) do estado de São Paulo realizaram um ato na Praça da República nesta quarta-feira, dia 1º de dezembro, que é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. O objetivo do ato foi levar informações à população, no sentido de reforçar a importância da prevenção e também dirimir o preconceito, e cobrar respostas do Poder Público acerca das insuficiências ainda existentes nas políticas de saúde brasileiras.
Publicado 01/12/2010 14:37

Especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU) acreditam que 33,4 milhões de pessoas vivem hoje com o HIV em todo o mundo. Deste total, dois milhões estão na América Latina. O Brasil registra, por mês, cerca de 35 mil novos casos da doença. Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, 630 mil pessoas vivem com o HIV.
Neste ano, o tema do encontro é "Movimento de AIDS em Defesa da Vida". O objetivo do ato é informar sobre a importância da prevenção e apontar alguns insuficiências das políticas públicas de saúde aos portadores de Aids, como a deficiência na distribuição de remédios e a dificuldade de adesão ao medicamento.
O presidente do Fórum de ONGs Aids, Rodrigo Pinheiro, relata que esse ato é realizado todos os anos, pois “a Aids ainda é um grande problema de saúde pública no Brasil”. Para o presidente do Fórum, a principal política pública existente no país é a própria distribuição de remédios, que é referência no mundo, embora, na sua visão, ainda precise avançar muito para atender a demanda.
Compromisso
O presidente do fórum de ONGs explica que a presidente eleita Dilma Rousseff assinou um compromisso com as entidades e que as pautas serão cobradas.
Além de melhorar o acesso a medicamentos, Rodrigo Pinheiro aponta a burocratização do acesso a insumos de prevenção (como preservativos) como um problema. Ele defende, ainda, políticas específicas voltadas a segmentos mais vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens (HSH), profissionais do sexo, usuários de drogas injetáveis e também políticas voltadas às mulheres.
Um caminho parecido é apresentado pelo diretor do Fórum ONG Aids Hugo Hagstrom. Ele defende a implementação de políticas setorializadas. A proposta é que os órgãos de saúde pública desenvolvam campanhas independentes, voltadas a diversos públicos: idosos, jovens, HSH, profissionais do sexo, entre outros. Para ele, o incentivo do uso de preservativo feminino também é um elemento fundamental no combate à disseminação da doença, visto que muitas mulheres ficam reféns da disposição do seu parceiro utilizar ou não o preservativo convencional.
"A Aids não tem cara"
Apesar de concordar com a instituição de políticas setorializadas, o ativista Celso Vitor dos Santos, do Instituto Vida Nova, alerta: “Aids não tem cara. Hoje não existe mais grupo de risco, todos devem se prevenir, pois prevenção é preservação da vida”.
Celso comentou as declarações do Papa acerca do uso de preservativos, dizendo que a Igreja Católica ainda associa o uso do preservativo a uma concepção de sexo liberal. Para ele, é importante deixar claro que a intenção do movimento é que as pessoas façam sexo seguro, “cada um de acordo com a sua própria consciência”, explicando que homens e mulheres casados também devem fazer uso do preservativo.
Hugo Hagstrom, representante do Grupo de Incentivo à Vida (GIV), uma das quase 50 ONGs presentes ao ato, explica que é muito difícil manter a administração diária de remédios em assintomáticos, ou seja, pessoas que não apresentam sintomas da Aids, que é o caso de muitos portadores do vírus HIV que não chegaram a desenvolver a doença.
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Hugo Hagstrom, diretor do Fòrum de ONGs Aids |
Brasil é referência
O ativista, que é também diretor do Fórum de ONGs Aids, que organizou o ato, explica que o Brasil é reconhecido mundialmente pelas políticas de combate à Aids, entretanto, pauta a necessidade de mais investimentos, pois, segundo ele, “no dia-a-dia faltam leitos, faltam insumos, faltam medicamentos, faltam médicos”. Além de mais investimentos, o representante da GIV pauta a importância do papel dos conselhos de saúde e da constituição de conselhos gestores nos locais de atendimento. O movimento alerta para o preconceito institucional observado em propostas de legislação que tentam criminalizar a transmissão do virus.
Outros atos
Além do ato na Praça da República, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo preparou uma série de ações especiais para celebrar o Dia Mundial de Luta contra Aids. A programação prevê a distribuição de 18 mil preservativos, palestras, atividades culturais e a soltura de dois mil balões em frente ao Hospital Estadual Emílio Ribas.
Na manhã desta quarta-feira, no Terminal Parque Dom Pedro II, no Centro, o Programa Estadual DST/Aids, em parceria com o Sindicato dos Motoristas de Transporte Coletivo de São Paulo, distribuiu 10 mil preservativos aos usuários de linhas de ônibus.
Às 15h30, os visitantes da Galeria do Rock participam do evento “Todas as tribos unidas na luta contra a Aids”, que conta com apresentações de grafite e de street dance, orientação sobre teste de sorologia e distribuição de 6 mil preservativos.
Além disso, a data também marca o último dia da campanha estadual “Fique Sabendo”, com testes gratuitos de HIV em 460 municípios paulistas. Entre as 13h e 17h, mais 2 mil preservativos serão distribuídos às pessoas que forem às unidades dos Sescs Vila Mariana, Santana, Ipiranga, Pinheiros e Pompéia, onde também serão oferecidos exames para detecção do vírus da Aids.
Já os bancários, por meio do sindicato da categoria, também promovem ato, na Praça do Patriarca, Centro, às 12h. Com o tema "Aids no mundo do trabalho", a atividade contará com a apresentação teatral do grupo Pombas Urbanas, que fará uma encenação para alertar sobre a importância da prevenção. Também haverá distribuição de preservativos e material explicativo para a população.
De São Paulo, Luana Bonone, com inforrmações do G1