Conj. Dom Helder: Moradores criam associação e elegem diretoria

O último sábado (05/12) foi um dia histórico para os cerca de três mil moradores do conjunto habitacional Dom Helder Câmara, em Fortaleza. Eles criaram a Associação de Moradores e elegeram a primeira diretoria da entidade em Assembleia Geral realizada na pracinha do residencial.

A formação da Associação acontece um ano e meio depois da vinda das famílias para o local. Apenas uma chapa disputou o voto dos moradores. Formada por um grupo de onze mulheres e apenas um homem, a diretoria representa a união dos diversos grupos organizados que têm atuação no conjunto.

A moradora Diana Rodrigues Barroso foi eleita presidente da nova entidade. Diana, hoje com dois filhos, atuou no Movimento Estudantil de Fortaleza e foi militante da União da Juventude Socialista (UJS), na década de 1990. No discurso de posse, ela defendeu a participação da população nos destinos do conjunto e da Associação e convidou todos para fortalecer a luta pela creche e outras melhorias para o local. Diana também enfatizou a necessidade dos moradores participarem da assembleia do Orçamento Participativo da área, que acontece no próximo dia 14 de dezembro, no Salão Paroquial do Carlito Pamplona e lá defenderem soluções para os problemas.

A diretoria também conta com a experiência da dona de casa Terezinha de Jesus Pereira. Natural de Chaval (CE), Terezinha, antes de se mudar para o Dom Helder, morou nos bairros Parque Rio Branco, Antonio Bezerra e Parque Genibaú, onde viveu por 17 anos em uma das áreas de intervenção do projeto do rio Maranguapinho. Lá, atuou na Associação de Moradores e se destacou como uma grande líder popular.

Desafios

A diretoria eleita para o mandato de dois anos terá grande desafios pela frente. Um deles é a venda e troca dos apartamentos.

Após 15 meses da inauguração do conjunto, o número de famílias que já vendeu ou trocou seu imóvel é grande. Segundo lideranças locais já chega a 20%, quase 200 moradias. É fácil encontrar placas de “Vende-se” nos apartamentos e os valores variam de acordo com as benfeitorias feitas.

Para Elenilson Gomes, diretor da Federação de Entidades de Bairros e Favelas de Fortaleza, existem várias razões que estimulam a venda de moradias pelas famílias beneficiadas por programas habitacionais. Mas ele destaca dois que, pra ele, são os principais: “Grande parte das famílias que saem de áreas de risco não tem renda fixa e, geralmente não pagam serviços como água, esgoto e luz e muitas não compram gás de cozinha, pois usam fogareiro. Quando chegam no conjunto, continuam com os mesmos problemas da falta ou da baixa renda e se deparam com as novas despesas que a legalidade da moradia exige”.

Elenilson defende que “além da casa, o poder público tem que incentivar o empreendedorismo dos moradores e criar as condições para que as famílias possam produzir e prestar serviços”. E cita o caso do conjunto que foi construído onde existia a favela Maravilha. Lá, a Prefeitura construiu pontos comerciais, realiza cursos profissionalizantes com os moradores e estimula iniciativas para a geração de renda”, exemplifica.

Outro motivo apontado pelo militante comunitário para a venda das casas são os conflitos existentes entre vizinhos. “No caso do Dom Helder, as famílias vieram de muitos bairros diferentes. As pessoas tinham relações de vizinhança já formadas muitas vezes há anos e, de repente, têm que fazer novos amigos num prédio que tem cinco andares e junta quase a população de um pequeno bairro num espaço também pequeno. É muito diferente da realidade que as famílias viviam. Tem gente que cria pequenos animais para o próprio consumo, como galinha. Outros são carroceiros e usam burro ou jumento para puxar o veículo. Os novos vizinhos não aceitam e aí começa o conflito”, enumera. Elenilson lembra o caso de um morador do Dom Helder que guardava um cavalo dentro do próprio apartamento.

Sobre o Conjunto Dom Helder Câmara

A ocupação do residencial, localizado no bairro do Carlito Pamplona, iniciou no dia 16 de junho de 2009, com a presença do governador Cid Gomes. É formado por 864 apartamentos que, segundo a Secretaria das Cidades, foram ocupados por famílias vindas da Barra do Ceará e Pirambu, (área de intervenção do projeto Vila do Mar) e do Parque Genibaú (trecho 1 de intervenção do Projeto Rio Maranguapinho).

Outras fontes informam, no entanto, que cerca de 250 unidades foram loteadas para atender parlamentares, funcionários públicos, partidos e grupos políticos. O conjunto foi construído pelo Governo do Estado com recursos do próprio Governo e do programa Pró-Moradia do Governo Federal. O investimento na obra foi de R$ 17.497.180,30 (dezessete milhões, quatrocentos e noventa e sete mil, cento e oitenta reais e trinta centavos).

Fonte: Sítio do Bairro Ellery