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CTB debate transição e perspectivas do governo Dilma 

Cerca de 70 sindicalistas de todo o país participaram nesta segunda-feira (6) da abertura da 6ª reunião plena da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). O primeiro debate foi sobre conjuntura, com o expositor José Reinaldo Carvalho, Secretário de Comunicação do PCdoB, que realçou o tema da crise no contexto internacional, apresentou questões a serem enfrentadas pela presidente eleita Dilma Rousseff na transição, como o salário mínimo, e falou sobre a montagem do novo governo. 

Conclat - Luana Bonone

José Reinaldo, que é também jornalista e editor do Vermelho, abordou aspectos da conjuntura global, antes de falar da América Latina e depois do Brasil. Abordando a questão da crise recente do capitalismo a partir de uma perspectiva marxista, o expositor falou sobre o aumento das tensões entre os países e sobre a guerra cambial que, para ele, é a síntese de uma postura imperialista: “os Estados Unidos querem atirar nas costas da China, do Brasil, e dos demais países os efeitos da sua crise”, ilustrou o jornalista.

Para ele, se existe algum lado positivo da crise do capitalismo, que teve o seu ápice em 2008 e 2009, é que ela “coloca na ordem do dia o caráter antiimperialista e anticapitalista do movimento operário e sindical”, defendeu, ao discorrer sobre as mobilizações internacionais ocorridas, sobretudo na Europa, nos últimos meses.

Foto: Fábio Ramalho / Portal CTB
José Reinaldo Carvalho foi o convidado da mesa de avertura da 6ª reunião do pleno da CTB, que teve início nesta segunda-feira (6) em São Paulo.

América Latina avança

Em sua exposição, o secretário do PCdoB ponderou ainda que, apesar da tentativa de golpe no Equador, do golpe em Honduras e da presença da 4ª Frota em mares sulamericanos, os países da América Latina mantêm um movimento de avanços sociais e políticos de cunho democrático e progressista. Os exemplos citados foram a eleição da presidente Dilma Rousseff no Brasil e a vitória eleitoral das forças aliadas de Chávez nas eleições regionais ocorridas na Venezuela no domingo (5).

Ao falar dos avanços democráticos na América Latina, José Reinaldo ressaltou a importância da incorporação dos trabalhadores à luta mundial pela paz dos povos e contra o imperialismo dos Estados Unidos, que tem como instrumento a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), e convocou o conjunto dos sindicalistas a participarem de ato na Câmara Municipal de São Paulo, organizado pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) contra o militarismo e pelo desmantelamento das bases militares dos Estados Unidos no mundo, e em particular na América Latina. O ato será no próximo dia 10, às 18h30.

Vitória eleitoral e política

O ponto alto do debate, entretanto, foi a conjuntura política nacional, ainda muito marcada pela eleição presidencial de 31 de outubro. O secretário do PCdoB considera que a vitória eleitoral de Dilma Rousseff representa uma grande vitória das forças democráticas e progressistas do nosso país e “uma grande vitória do povo brasileiro”, expressou.

José Reinaldo reforçou que o dever das forças populares é “tudo fazer para que esta tendência se prolongue no tempo” e ressaltou que haverá importantes embates pelas transformações, a serem enfrentados por essas forças.

Foto: Luana Bonone
Cerca de 70 sindicalistas de todo o país participaram da reunião.

Opinião da CTB

Sua visão vai ao encontro da fala de abertura da reunião do presidente da CTB, Wagner Gomes, que fez uma breve avaliação das perspectivas no governo Dilma, defendendo que será um governo “em disputa”, tal qual foi o governo Lula. Wagner Gomes garantiu, ainda, que a classe trabalhadora apresentará as suas pautas no curso desta disputa e anunciou que a central vai produzir milhares de exemplares para distribuição massiva de um material com as resoluções da Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), realizada em 1º de junho de 2010 no estádio do Pacaembu, porque “esta é a referência das atividades e mobilizações a serem realizadas pelo movimento sindical no ano de 2011”.

Ao dizer isso, Wagner ressaltou que continuará havendo esforço da CTB em prol da unidade das centrais e com os movimentos sociais como um todo, unidade essa que se dá em um ambiente de luta de ideias, onde a CTB reforça a concepção classista de movimento.

A verdadeira face dos conservadores

José Reinaldo considera ainda que derrotar as forças mais reacionárias, neoliberais e conservadoras, que estavam representadas na candidatura de José Serra, tem imenso significado simbólico, pois, na sua opinião, a postura notadamente conservadora do candidato Serra no segundo turno das eleições 2010 traduz o verdadeiro caráter do PSDB e do DEM. Foi valorizado também o fato de ter sido eleita uma mulher presidente do país.

O principal aspecto da vitória política, para além da eleitoral, entretanto, está no fato de que “o povo brasileiro não se deixa enganar, apesar da mídia, apesar de toda a mentirada”. Isso ocorre por conta do avanço da consciência do povo brasileiro, avalia José Reinaldo Carvalho.
Para ele, a dimensão da vitória que representa a eleição de Dilma abre caminho para o Brasil avançar em reformas estruturais e novas conquistas, e não apenas dar continuidade às políticas dos governos Lula. Além disso, José Reinaldo disse considerar o resultado de 31 de outubro como “uma vitória do povo brasileiro porque não só a Dilma venceu, mas as foras de esquerda avançaram eleitoralmente: PT, PSB, PDT, PCdoB”, além do evidente crescimento de forças de centro, como o PMDB. “Somadas, essas forças representam 70% da Câmara e também cresceram enormemente no Senado”, comemora.

Entre as reformas estruturais, José Reinaldo acredita que devem ser incluídas a reforma agrária, a urbana, a dos meios de comunicação de massa, a política, a educacional e a do sistema de saúde, entre outras. O tema da mídia foi relacionado como um destaque durante as eleições.

Transição

Sobre a transição, José Reinaldo comentou acerca de dois aspectos: o enfrentamento das questões da ordem do dia pela presidente eleita Dilma Rousseff, e a montagem do governo.
O secretário de comunicação do PCdoB considera que as questões com que a transição se defronta são “gravíssimas”. A primeira questão que pautou foi a guerra cambial. José Reinaldo considerou que o Brasil exerce uma política macroeconômica “muito rígida” e levantou como exemplo o fato do Brasil manter o câmbio totalmente flutuante para concluir: “estamos mal guarnecidos”, completando que as esquerdas cobram sinalizações da presidente eleita de como enfrentar a guerra cambial.

O segundo elemento pautado foi o petróleo na camada pré-sal. “Não podemos adiar indefinidamente a aprovação do marco regulatório, trata-se de algo decisivo para a soberania do país. A exploração precisa corresponder aos interesses nacionais”, considerou José Reinaldo.

Entretanto, os temas mais delicados, na opinião do comunista, são a definição do salário mínimo, a bandeira de redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e medidas emergenciais sobre segurança e saúde públicas, as quais precisam de “novas medidas” – incluindo a aprovação da PEC 300 – , defendeu.

O salário mínimo é uma questão importante pelos aspectos material e simbólico, considera José Reinaldo. Do ponto de vista material, trata-se de “garantir a permanência de uma política de valorização do salário mínimo, como instrumento de distribuição de renda, inclusive”. A questão simbólica tem relação com o “recado” que será dado, será “uma escolha de lado”, afirmou José Reinaldo. O expositor manifestou preocupação ainda com o discurso prevalecente a favor do ajuste fiscal, e da manutenção dos dogmas da política macroeconômica.

Foto: Luana Bonone
O editor do Vermelho defendeu a formação de um núcleo de esquerda para conduzir o governo Dilma

Núcleo de esquerda

O jornalista defendeu ainda a consolidação de um núcleo de esquerda para conduzir o governo, formado pelo PT, PDT, PSB e PCdoB, e outras legendas, tomando por base opiniões defendidas pela então candidata Dilma Rousseff. “Temos que criar condições para realizar um debate profundo entre essas forças para formar um núcleo de esquerda consequente no país”, disse o expositor, que considera que a direita e a “extrema esquerda” são os principais derrotados das eleições.

Por fim, José Reinaldo falou sobre a montagem do governo, criticando a indicação de Antônio Palocci para a Casa Civil, pelo conservadorismo de suas opiniões políticas e econômicas. Entretanto, o palestrante demonstou confiança na presidente eleita e na sua liderança: “confiamos na Dilma, em sua liderança. É um quadro, uma companheira lúcida, muito capaz. Temos essa confiança, essa esperança, mas ficamos com o pé atrás com a montagem dos ministérios até agora, que não contempla a realidade do que foi a frente formada nas eleições. É claro que falta mais da metade dos ministérios, mas os cargos-chave já estão sendo definidos”, sintetizou José Reinaldo.

Lutar pelo êxito do governo Dilma

Apesar das críticas à composição do novo governo, José Reinaldo defendeu que o papel das forças sociais que participaram da eleição de Dilma Rousseff deve ser apostar e lutar com o mesmo empenho pelo êxito do governo, na perspectiva apresentada pela própria Dilma, enquanto ainda era candidata, de que “continuar é avançar, avançar e avançar”.

Avançar, segundo o expositor, é implementar medidas que ajudem na realização de reformas estruturais, no sentido de enfrentar os monopólios econômicos e financeiros das classes dominantes e do imperialismo, condição necessária ao desenvolvimento com valorização do trabalho.

Outra questão fundamental é a definição da equipe das relações exteriores, visto que o secretário do PCdoB considera que o avanço em termos de soberania, de postura altiva do Brasil em âmbito internacional é algo ainda mais valioso que as comemoradas – e de fato importantes – políticas sociais implementadas pelo governo Lula.

Responsabilidade histórica

Durante sua fala, o recado de José Reinaldo aos sindicalistas da CTB foi bastante claro quanto ao seu papel histórico: “a luta tem que ser conduzida politicamente para evitar que o início do novo governo seja marcado por contradições flagrantes com os trabalhadores, o que seria muito ruim para o futuro do país. As centrais devem fazer pressão de maneira legítima e democrática, evitando ações precipitadas e desestabilizadoras”, E completou: “a classe operária continua sendo aquela sobre a qual recai a principal responsabilidade histórica de conduzir as transformações no nosso país”.

De São Paulo, Luana Bonone