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PC do Uruguai insta Frente Ampla a cumprir seu programa

O 29º Congresso do PC do Uruguai terminou neste domingo (5), em meio a debates importantes sobre as perspectivas do país e do governo. Eduardo Lorier, senador e secretário-geral do partido, proferiu discurso de abertura que alcançou repercussão intensa na imprensa do país, embora tratado em tons forçados.

Por Walter Sorrentino*, em seu blog

Lorier faz críticas à orientação do ministro da economia, homem forte do governo Pepe Mujica, dizendo que o governo está atrasado em graus comprometidos com a construção de uma realidade econômica independente. Sabendo valorizar os êxitos alcançados e a unidade da Frente Ampla, advertiu que não se deve esperar do PCU nenhum seguidismo, nem tampouco travar a roda do governo. Em uma palavra, ele reclamou do FA e do presidente Pepe Mujica o respeito ao programa da FA. A imprensa registra que isso significa uma crise no interior da Frente.

Não é bem assim, mas há tensões certamente. O PCU e o MPP (movimento do qual provém Mujica, dos tupamaros) acederam em levar à tribuna disciplinar da Frente caso de ex-chanceler acusado, de alguma maneira, de tráfico de influência. Proclamando a ética necessária para não desgastar o governo, o fato motivou duras críticas de outros setores do FA ao PCU. Igualmente, o governo parece empenhado em reduzir o poder grevista dos funcionários públicos, batendo de frente no caso com o PIT CNT, central sindical dirigida por um importante líder do FA e do PCU. Lorier antecipou na noite de ontem serem inaceitáveis tentativas de criminalizar os movimentos sociais e grevistas.

Cobrar os “atrasos, erros e inconsistências” do governo é importante para o PCU que tem um patrimônio político e moral indeclinável nesse sentido. Foi um dos artífices da derrota do governo, na presidência de Tabaré Vásquez, do Tratado de Livre Comércio com os EUA, além de outras conquistas sociais quanto ao salário, alíquotas de imposto de renda e sobre as cooperativas. Bate-se por diminuir a dependência econômica do país e a defesa do mercado interno, enfrentando-se também com o superávite primário e as questões de defesa da moeda do país. No plano democrático, é incontornável a defesa do PCU por revogar os crimes da ditadura.

Mas parece que o principal problema político, inesperado, é a tentativa de rever os critérios do FA, no qual 50% obrigatoriamente é integrado pelos movimentos sociais. Essa é uma das forças do PCU, a mobilização de base na disputa interna do FA que se estende aos rumos do governo.
O congresso se encaminha a consolidar esses resultados, levando uma vez mais o senador Lorier a encabeçar o esforço da nova direção partidária a ser eleita. Os debates, a par de acesos, parecem confirmar o rumo apontado pelo líder.

Em almoço que compartilhamos com ele, os desafios em comum e similitudes entre os processos políticos brasileiro e uruguaio foram temas da conversa fraterna, tendo sido destacado a crescente imbricação entre os rumos econômicos dos dois países, e a grande diferença representada pela existência do FA no país, diferentemente do Brasil. Convidamos o presidente do partido uruguaio a divulgar as sistematizações dessa rica experiência política, na qual o PCU teve papel absolutamente central desde os anos 60 que precederam a criação da frente. Trata-se de um partido com absoluta clareza estratégica do que quer e com grande flexibilidade tática para persegui-los: uma revolução nacional, popular e democrática, como caminho para o socialismo.

Leia a seguir a saudação que dirigimos no Congresso em nome de toda a direção nacional.

Estimadas companheiras e companheiros irmãos do PC do Uruguai
Recebam em nome dos comunistas e do povo brasileiro, a satisfação de compartilhar com vocês este momento de magna significância para os comunistas uruguaios.
Saúdo o grande partido que comemora 90 honoráveis anos sempre a serviço da liberdade, soberania e dos interesses dos trabalhadores e do povo. O grande partido que soube elaborar uma política e uma teoria para a transformação social do país, batendo-se contra o imperialismo, a dependência, as classes exploradoras e o imperialismo e pelo desenvolvimento independente do país. O grande partido que mantém laços históricos com os comunistas brasileiros e que, esperamos, se fortaleçam cada vez mais. Saúdo a memória de figuras históricas dos comunistas de todo o mundo como Rodney Arismendi e José Luis Massera.
As conquistas alcançadas pelos trabalhadores e pelo povo uruguaio, pelo Partido Comunista e a Frente Ampla animam a todos nós. É uma experiência progressista avançada, marco de nossa latinidade sul-americana e, sem dúvida, nos indica a necessidade de reforçar ainda mais os laços de amizade fraterna entre nossos povos e nossos partidos. São estes os votos que trago a todos vocês.
Desejamos plenos êxitos na realização do 29º Congresso do Partido Comunista do Uruguai na construção política, ideológica e orgânica do PCU. Os seus êxitos ajudarão a todos os latino-americanos na busca de caminhos e forças para alcançar novas conquistas no rumo do socialismo. Temos muito que compartilhar nos dias atuais, possivelmente mais que em nenhum momento anterior, em prol dos avanços em nosso subcontinente. Agradeço pelo convite para participar desse congresso.

Companheiras e companheiros

O PCdoB participou de eleições decisivas em nosso país. Alcançamos uma vitória que mantém abertos os caminhos estratégicos de luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento. Os êxitos do governo Lula; as conquistas da quase totalidade do povo; a capacidade e as convicções da presidente eleita, Dilma Rousseff; a consecução de importante frente política que reuniu 14 partidos de esquerda e do centro político permitiu essa vitória, que inclusive assegurou mais de dois terços da Câmara dos Deputados e do Senado, além de uma maioria de 16 dos 27 governadores estaduais.

O mesmo vale para o PCdoB, que segue elevando sua participação na vida institucional e eleitoral, com 40% mais votos do que em 2006, elegendo 15 deputados federais, um senador e 18 deputados estaduais. Alcançamos a quarta posição entre todos os partidos na votação nacional do Senado, para o qual disputamos cadeiras com nove candidatos e disputamos inclusive com um candidato a governo estadual que não chegou ao segundo turno por uma pequena fração de votos.

Fomos uma força destacada e de confiança da candidata Dilma. Assim, temos a expectativa de seguir integrando o governo central, no qual ocupamos o Ministério do Esporte e agências governamentais estratégicas como a de petróleo, área pela qual o país obteve um imenso bônus de progresso futuro com as gigantescas descobertas do pré-sal.

Alcançamos êxitos igualmente na construção partidária, com mais de 280 mil filiados em todo o país, o que, no entanto, é pouco perante a extensão de nossa população.

O centro da tática do PCdoB é a luta pelo êxito do novo governo e o fortalecimento ainda maior do partido. Fazemos grandes esforços para essa acumulação de forças. Buscamos combinar a luta política na frente eleitoral e institucional, com a luta social – estratégica por reunir as forças sociais motrizes das mudanças – e simultaneamente com a luta de ideias avançadas para as transformações mais profundas na realidade do país.

O PCdoB luta por um novo projeto nacional de desenvolvimento soberanos, integrado a seu irmãos da América do Sul, com amplas liberdades para o povo e direitos sociais extensivos a toda a população. Nesse rumo, combinam-se reformas estruturais como meio de alcançar as mudanças de fundo na direção progressista. São elas as reformas política e tributária, urbana e agrária, educação e saúde e dos meios de comunicação. Elaboramos dessa forma as bandeiras nacionais, democráticas e sociais, as três frentes estratégicas da atualidade da luta de classes no mundo atual.

Para o PCdoB, o socialismo é o rumo, nossa razão de existir; o novo projeto nacional de desenvolvimento é o caminho para alcançá-lo. Visamos travar uma luta capaz de unir amplos segmentos da sociedade brasileira, a começar pelos trabalhadores, e conquistar uma hegemonia avançada, política, social, cultural e moral da nação.

Visamos a ampla união do povo contra os interesses neoliberais e imperialistas, tendo por centro a união da esquerda como núcleo do governo, ao mesmo tempo em que se alcança a governabilidade atraindo numerosas forças políticas do centro interessadas no desenvolvimento da produção. Nosso inimigo principal, a par do imperialismo, são os grandes interesses do sistema financeiro mundial com suas extensões em nosso país.

Nitidez de propósitos e núcleo sólido para a condução, isso é o que pensamos para a atualidade do novo governo. Todavia, há grandes disputas quanto à política macroeconômica no que se refere à tríade de ferro formada por câmbio flutuante, superávits primários e metas de inflação. Em um mundo marcado por ameaças claras de guerra cambial, comercial e pelo protecionismo, estes são fatores que podem impedir a defesa integral da nação, a moeda, o desenvolvimento sustentável e forte. Estamos convictos de que na atual correlação de forças, somente a união e a luta do povo podem assegurar isso. Nossos povos conseguiram grandes avanços; outros ainda se fazem necessários.

Para tanto, o fortalecimento do PC é indispensável. Fortalecimento político, teórico e orgânico, que se compõe em um mesmo esforço: um Partido Comunista contemporâneo para a nossa época, que saiba refletir as características de cada uma de nossas formações econômico-sociais, de nossos povos, de nossa tradição e psicologia de nossa gente. Que reflita a sociedade atual com suas vivências sociais contemporâneas. Somos leninistas, mas leninistas de nosso tempo, para lutar por um socialismo com características nacionais e latino-americanas. Somente o socialismo pode dirimir as grandes contradições de nossa época e levar a humanidade a novos patamares civilizatórios.

Viva o PCU e o PCdoB! Viva nossa amizade, que ela se fortaleça sempre mais. E viva o socialismo!

*secretário de Organização do PCdoB