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Copom faz sua última reunião com Meirelles, que já vai tarde

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) conclui mais uma reunião nesta quarta-feira (8), cercado pela perspectiva de que não deve alterar a taxa básica de juros (Selic), hoje em 10,75% ao ano. É também a despedida do presidente do BC, Henrique Meirelles, um adeus sem lágrimas, celebrado por todos que lutam pelo desenvolvimento e a soberania do Brasil.

Por Umberto Martins

Meirelles é um banqueiro. Foi presidente do Bank Boston, norte-americano. Comportou-se como o homem da oligarquia financeira à frente do Banco Central, garantindo-lhes a maior taxa de juros reais do mundo, para desespero dos industriais e revolta das centrais sindicais, que chegaram a pedir sua cabeça em manifestações contra a alta dos juros. Por esta razão, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Aubert Neto, não conteve a língua diante do anúncio de que ele não permaneceria no governo Dilma: “Tiraram a raposa do galinheiro!”, desabafou.

Juros altos

Herói do sistema financeiro e do PIG (Partido da Imprensa Golpista), o banqueiro Meirelles achou que tinha o rei na barriga e quis impor uma condição para permanecer à frente do BC: a completa e formal autonomia do banco. Autonomia, é imprescindível dizer, frente ao governo e ao povo. Submissão aos banqueiros. Dilma não apreciou a arrogância e fez vazar a informação de que não só não o havia convidado a ficar como confirmava sua saída.
A política monetária tem uma importância extraordinária para os brasileiros. Juros extorsivos provocam sérias distorções na economia nacional, a começar por uma brutal transferência de renda de toda sociedade para a oligarquia financeira, operada através dos juros da dívida pública, que hoje consomem 5,2% do PIB. Tal aberração acentua a concentração de renda e as desigualdades sociais no país.

Juros altos também restringem o crescimento da produção, inibindo os investimentos e o consumo. De quebra, estimulam a valorização do real e impõem a redução dos gastos públicos com saúde, educação e funcionalismo, entre outros, além dos investimentos em infra-estrutura. Isto porque o Estado precisa economizar, contingenciando despesas e constituindo superávit primário para pagar os juros.

Vassalagem

Ainda é cedo para avaliar os impactos da mudança na direção do banco, que passará a ser presidido por Alexandre Tombini, um funcionário de carreira da instituição, que foi sabatinado terça-feira (7) no Senado. Ele prometeu fidelidade a alguns princípios conservadores que orientam a política econômica, austeridade fiscal, meta de inflação e câmbio flutuante.

Mas também emitiu sinais de que pode mexer na política cambial. “Não podemos deixar que políticas de outros países determinem a direção dessa importante variável da economia que é o câmbio”, declarou aos senadores, numa referência à política monetária do Federal Reserve (FED, banco central dos EUA).

Em entrevista ao jornalista Luiz Carlos Cintra, publicada na última edição da revista CartaCapital, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assinalou que, ao contrário de Meirelles, Tombini não deve vassalagem ao sistema financeiro. “Ele tem a vantagem de ser um funcionário de carreira, portanto, não vem do mercado financeiro, não traz vícios e não deve vassalagem ao sistema financeiro. Se algum dia ele tiver de contrariar algum interesse, terá capacidade de fazê-lo.”

Karl Marx já dizia que a prática é o critério da verdade. Ao longo do próximo ano se verá até onde vai a autonomia do BC em relação aos interesses da oligarquia financeira. De todo modo, a saída de Meirelles, que vivia às turras com os desenvolvimentistas do governo e foi responsável pela demissão de Carlos Lessa do BNDES, é uma notícia alvissareira. Merece um brinde. O banqueiro foi defenestrado. E já vai tarde.