Farc libertarão cinco reféns em desagravo a Piedad
O grupo guerrilheiro Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) anunciou, nesta quarta-feira (8), que libertará três policiais e militares e dois dirigentes políticos que mantém como prisioneiros, em uma ação de desagravo à punição contra a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba.
Publicado 09/12/2010 12:39
O anúncio foi feito por meio da página que o grupo mantém na internet, em uma carta dirigida à senadora do PL (Partido Liberal), na qual as Farc criticam a decisão tomada pela Procuradoria Geral da Colômbia de destituí-la do Senado.
Entre os reféns que serão libertados está o major da polícia Guillermo Solórzano, de Cartagena, além do cabo do Exército Salín Sanmiguel, o infante da Marinha Henry López Martínez, e os presidentes dos conselhos municipais de San José del Guaviare, Marcos Vaquero, e de Garzón, no departamento de Huila, Armando Acuña.
O mandato de Córdoba foi cassado em 27 de setembro e ela se tornou inelegível por 18 anos sob a acusação de ter dado conselhos à guerrilha colombiana, "extrapolando", segundo a Procuradoria, suas funções de negociadora.
O suposto envolvimento da senadora com as Farc começou a ser investigado após um bombardeio ilegal do Exército da Colômbia sobre um acampamento do grupo, no Equador, em 2008, que permitiu posteriormente a apreensão do computador pessoal de Raúl Reyes, ex-número dois da guerrilha, morto na operação.
De acordo com o comunicado da guerrilha, a decisão de libertar os presos é "um gesto de humanidade e de desagravo à senadora da paz", em referência à ex-parlamentar, e "a data [de libertação] dependerá das garantias que o governo conceda para que a senadora Córdoba possa receber os que sejam libertados".
As Farc disseram que a libertação foi decidida como uma medida de protesto ao que classificaram como um "brutal atropelo da Procuradoria" contra o "esforço humanitário pela paz da Colômbia", promovido pela senadora cassada.
"A sanção contra Piedad Córdoba é imoral e injusta, prejulgada e ditada pelos mais avessos interesses políticos", pontuou ainda o comunicado da guerrilha. Ao fim do documento, o grupo ainda expressa que compartilha com Córdoba "e com a imensa maioria de nossos compatriotas que a guerra não pode ser o futuro da Colômbia".
Leia abaixo a íntegra do comunicado, publicado na Agência de Notícias Nova Colômbia:
Senadora Piedad Córdoba.
Bogotá.
Cordiais Saudações.
Impulsionados pelo mais justificado imperativo ético nos dirigimos à senhora para expressá-lhe, nesse momento crucial de sua vida política, nossa solidariedade incondicional diante do brutal atropelo da Procuradoria Geral da Nação, contra seu esforço humanitário pela paz da Colômbia.
A decisão do Procurador Alejandro Ordóñez é uma armação jurídica e política da pior espécie, cuja origem está na pressão enfermiça, o ódio e a retaliação do ex-presidente Uribe, por acima de toda dúvida, chefe, até agora, impune, do paramilitarismo e da para-política na Colômbia.
O país nacional não pode permitir que prospere a absurda criminalização da busca da solução política do conflito. Ordóñez atua contra o direito. É mais prevaricador que Procurador. Ao inabilitar por 18 anos à Senadora, pretendendo sua morte política, não só ultrapassa seus limites, usurpando funções próprias do Conselho de Estado; ademais, sustenta sua miserável decisão nos supostos dados de um computador, que não podem constituir prova jurídica, porque foram manipulados pela Polícia, violando-se assim a cadeia de custódia.
Neste caso não há direito à defesa nem ao devido processo. Ninguém tem vencido em juízo a Piedad Córdoba. Constitui um paradoxo que os funcionários delinquentes que a espiavam para incriminar sua luta pela paz, agora fujam para outros países para burlar a ação da justiça.
A atuação do "Prevaricador Geral" que converte em delito a luta pela paz, evidencia-o como mandadeiro torpe e incauto. A Senadora Córdoba não só atuava com o aval do Executivo; ela tem atuado dentro do marco da Constituição, que consagra como direito e dever, a busca da paz.
O enganoso termo da "FARC-política" foi uma invenção do criminoso paramilitar que foi presidente da República durante oito anos, como desesperado recurso para desviar a atenção sobre sua responsabilidade penal no caso da para-política.
O processo da parapolítica está referido aos votos e a proselitismo armado de grupos paramilitares a favor de umas candidaturas ao Congresso da República. O chefe paramilitar, Salvatore Mancuso, se ufanou em seu momento de que sua facção tinha logrado eleger mais do 30% dos congressistas colombianos. O paramilitarismo também contribuiu a eleger o presidente da República em duas oportunidades, através de pressões, fraudes eleitorais e financiamento em dólares.
Não pode haver processo de FARC-política porque nunca orientamos o povo a votar por Piedad Córdoba. Não participamos em debates eleitorais desde que la intransigência oligárquica do país massacrara a União Patriótica.
No intercâmbio epistolar mantido com a Senadora em torno à solução política do conflito, sempre manifestamos que um possível acordo de paz caso surja na mesa de conversações FARC-Governo deve ser referendado por uma Assembléia Nacional Constituinte, que lhe dei força constitucional, ao fim de que se assegure por essa via, a aclimatação da paz.
No Manifesto das FARC, documento no qual apresentamos a Plataforma Bolivariana pela Nova Colômbia, convidamos o país a trabalhar pela construção de uma alternativa política rumo à paz, propósito que hoje reiteramos.
A sanção contra Piedad Córdoba é imoral, injusta e, ditada pelos mais rasteiros interesses políticos. O país nacional, que enjoado do guerrerismo do Estado, anseia a paz, deve oferecer à Senadora a mais firme solidariedade e caminhar junto com ela de forma resoluta em pró da paz com justiça social. Se persiste a injustiça, ninguém poderá impedir que se levante na Colômbia um poderoso movimento pela paz liderado por seus filhos e filhas mais preclaros.
Como um gesto de humanidade e de desagravo à Senadora da paz, liberaremos os seguintes cinco prisioneiros de guerra: Maior da Polícia Guillermo Solórzano, Cabo do Exército Salín Sanmiguel, Infante de Marinha Henry López Martínez, e, os presidentes das Câmaras Municipais de São José del Guaviare, Marcos Vaquero e de Garzón (Estado do Huila) Armando Cuña, esses dois últimos investigados pelas FARC por corrupção.
A decisão está tomada e a data dependerá das garantias que ofereça o governo para que a Senadora Córdoba possa receber essas pessoas a serem liberadas.
Continuamos sem descanso na nossa luta pela Troca de prisioneiros de guerra. Não abandonaremos nosso propósito de buscar a liberação de Simón Trinidad -arquiteto do decoro e da firmeza do revolucionário fariano- e, o retorno de nossas e nossos combatentes, desde os cárceres do regime e do império aos acampamentos insurgentes. Para todas e todos eles nossa mensagem de alento e esperança.
Senadora Piedad Córdoba: compartilhamos com a senhora e com a imensa maioria de nossos compatriotas que a guerra não pode ser o futuro da Colômbia.
Secretariado do Estado Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, dezembro de 2010