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PT e PMDB buscam oposição para evitar surpressa na Câmara

A divisão das bancadas da oposição na Câmara dos Deputados é o maior entrave para a viabilização de uma candidatura adversária a do deputado Marco Maia (PT) a presidente da Casa. PSDB e DEM estão divididos quanto à adesão ou não à tese do respeito à proporcionalidade das bancadas na composição da Mesa Diretora. Se a considerarem, apoiam Maia e desmontam qualquer chance de uma candidatura alternativa.

Quebrar a regra e construir uma candidatura com o bloco de esquerda (PCdoB, PSB e PDT), porém, pode atrair dissidentes de outros partidos e causar uma surpresa ao candidato governista.

Os nomes alternativos que circulam na Câmara são os de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Mas a experiência das eleições de 2007 deixa o chamado "bloquinho" em alerta para não tomar qualquer decisão precipitada. Naquele ano, os tucanos inicialmente declararam apoio a Aldo contra Arlindo Chinaglia (PT-SP) e depois se dividiram e lançaram o candidato da "terceira via", Gustavo Fruet (PSDB-PR).

O racha atual na bancada do PSDB reflete a disputa de poder na cúpula do partido. Os que querem uma oposição real, mais firme, ligada ao que defende o ex-governador José Serra (SP), se entusiasmaram com a derrota do líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), na disputa interna petista. Querem, assim, construir uma candidatura adversária à do Palácio do Planalto. Os partidários de uma oposição propositiva e generosa, mais na linha do proclamado pelo senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG), defendem a composição com Maia.

Essa é a tendência dominante na bancada, pois lhes garantiria, segundo a proporcionalidade, a terceira escolha de cargo na Mesa, já que o PSDB é dono da terceira maior bancada da Casa. Em um acordo que vem sendo desenhado com o PMDB, os tucanos conseguiriam ainda ficar com o segundo melhor cargo, no lugar dos pemedebistas. Para uns, esse cargo é a primeira-secretaria, para outros, a vice-presidência. Ela seria ocupada por um dos três deputados que já se mostraram interessados na Mesa: Eduardo Gomes (TO), Raimundo Gomes de Matos (CE) e João Campos (GO).

O PSDB também coloca outras condições para aderir à tese da proporcionalidade: democratizar a escolha dos relatores de projetos importantes e de medidas provisórias e resgatar a ouvidoria parlamentar, órgão criado para ser o canal de interlocução entre a Câmara e a sociedade. O órgão tem como principais atribuições "receber e encaminhar aos órgãos competentes as demandas formuladas pelos cidadãos".

A provável distribuição dos postos que cabem ao partido, porém, tem explicitado as diferenças da cúpula e da bancada quanto ao assunto. O acordo que tem sido conversado internamente divide os principais espaços entre São Paulo e Minas Gerais. Duarte Nogueira (SP), mais inflexível com os governistas, seria o líder, e Paulo Abi-Ackel (MG), mais flexível, o líder da minoria.

O DEM segue o mesmo dilema, inclusive com a disputa na cúpula contaminando o posicionamento dos deputados. Nesta semana, tão logo Maia venceu a disputa interna no PT, o líder, Paulo Bornhausen (SC), reuniu-se com o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), e do PSDB, João Almeida (BA), o que foi visto com restrições por outros integrantes da bancada.

A ala comandada pelo deputado ACM Neto, ligada ao presidente do partido, deputado Rodrigo Maia (RJ), que enfrenta embates com a ala do ex-senador Jorge Bornhausen, e do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, tem dúvidas quanto a que caminho seguir. Avaliam ser difícil levar adiante uma candidatura alternativa, mas não querem entrar de imediato nas conversas comandada por Henrique Alves e Marco Maia.

Até dentro do bloco de esquerda a divisão prevalece. No PDT, o líder Paulo Pereira da Silva (SP) acha viável emplacar um outro candidato, enquanto os deputados ligados ao presidente licenciado do partido, ministro Carlos Lupi (RJ), são contra. No PSB, o deputado Márcio França (SP) acha necessário ser prudente nas articulações, enquanto o deputado Júlio Delgado (MG) força uma candidatura do grupo.

Fonte: Valor Econômico (Caio Junqueira)