Odenildo Sena: A nova cartografia da ciência
"As regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, com destaque para esta última, registraram um avanço nunca antes visto no campo da ciência".
Por Odenildo Sena*
Publicado 24/12/2010 11:36
Recentemente, o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) deu divulgação a um estudo sobre investimentos em CT&I no país. Realizado por encomenda do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), penso que os resultados desse trabalho, a despeito do seu caráter revolucionário, ainda não alcançaram a divulgação e compreensão merecidas.
De um lado, há os que, por questões ideológicas, ignoram essa nova realidade, alimentados pelo equivocado viés de que nossas fronteiras se limitam às regiões histórica e politicamente mais privilegiadas do país. De outro, há os que veem o Brasil como uma unidade federativa, mas, alimentados pelo desânimo, habituaram-se às desigualdades regionais e passaram a encará-las como fatalidade.
No meio termo, os estudos do CGEE apontam para uma nova forma de administrar o país que, se representou o grande mérito da administração do presidente Lula, materializou-se fortemente no trabalho desenvolvido pelo ministro Sergio Resende à frente do Ministério de Ciência e Tecnologia. Não, não me refiro à velha reivindicação das regiões menos favorecidas pela descentralização de investimentos do governo federal. Do ponto de vista operacional, pode-se descentralizar e tudo continuar no mesmo.
Refiro-me, isso sim, ao fenômeno da des-con-cen-tra-ção de investimentos, que opera com o espírito nacionalista de que não há soberania com desigualdades regionais. Complementarmente, refiro-me à convicção de que qualquer plano nacional, e aqui me reporto ao Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), perde tal dimensão se não estiver, de pleno, articulado com políticas estaduais.
Neste caso, se, por um lado, contou-se com a decisão política de desconcentrar investimentos, considerando-se as regiões mais carentes, por outro, ancorou-se tal política na atuação inovadora das fundações estaduais de amparo à pesquisa. Essa soma de esforços bem articulados permitiu que se colhessem bons frutos cujos indicadores, entre 2002 e 2008, são impactantes.
Nesse período, as regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte, com destaque para esta última, registraram um avanço nunca antes visto no campo da ciência. Só a título de ilustração, a região Norte viveu um incremento de 215% no número de novas instituições de pesquisa; 202% de novos grupos de pesquisa; 130% de novos mestres; 149% de novos doutores.
São números grandiosos que refletem, de fato, preocupação em reduzir as históricas desigualdades regionais. Por essas e tantas outras, cabe aqui destacar o notório desempenho do ministro Sérgio Resende à frente do MCT e torcer para que essa política, nesses moldes, não sofra descontinuidade.
*Odenildo Sena é secretário de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas e diretor-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado do Amazonas (Fapeam).
Fonte: Diário do Amazonas