Projeto resgata a história do Coojornal

Com patrocínio da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás, a Editora Libretos está desenvolvendo um projeto de resgate da trajetória do Coojornal, publicação que marcou época e teve um papel muito importante na luta contra a ditadura militar. O Coojornal circulou entre 1974 e 1983 e se caracterizou pela valorização da reportagem e a coragem de retratar a realidade brasileira no momento em que o país estava submetido a uma ditadura militar.

coojornal 1 - Divulgação

Inicialmente tratava-se de um boletim interno da cooperativa, com tiragem de 3.500 exemplares. Quase um ano depois, passava de um boletim de oito páginas dirigido aos jornalistas para um mensário de 28 páginas, se não me engano, ou algo próximo a isso. O jornal, de formato tablóide, circulou entre outubro de 1976 e março de 1983. Foi o alternativo gaúcho com maior tempo de existência, de uma longevidade incomum para os periódicos do tipo.

O Coojornal foi um caso em que trabalhadores associados conseguiram sustentar, por anos e com autonomia, um jornal crítico da ideologia dominante, tendo sido a única cooperativa importante de jornalistas a explorar a fundo e de forma consciente o ideal cooperativo. A principal função ideológica do Coojornal, ao longo de sua história, foi o fortalecimento da oposição ao regime ditatorial.

A publicação apoiou direta ou indiretamente partidos políticos e movimentos sociais de oposição, apresentando matérias críticas sobre questões nacionais e internacionais (especialmente latinoamericanas) de política, economia e cultura. Tratou de: ditaduras latino-americanas dos anos 1960 e 1970 e suas práticas repressivas (Brasil em especial); Operação Condor; conservadorismo de setores da Igreja Católica; greves, sindicalismo, cooperativismo e lutas dos trabalhadores; grande imprensa; guerrilha; imperialismo; corrupção; violência contra mulheres e crianças; dentre outros temas.

Perda dos anunciantes

O Coojornal atingiu seu ápice financeiro em meados de 1977, possuindo 260 pontos de venda em Porto Alegre. No final dos anos 1970, uma matéria sobre a quantidade de cidadãos cassados durante a ditadura militar (4.682 até então) afastaria grande parte da publicidade. “Houve uma perseguição da Polícia Federal, que visitou todos os anunciantes. Em um mês, tínhamos 30 e no seguinte, dois”, relembra o jornalista José Antônio Vieira da Cunha, que também foi presidente da Cooperativa.

Para Rafael Guimaraens, esse foi o sinal vermelho, um indicativo de que o jornal teria uma atenção maior por parte dos militares. “Uma matéria, em 1980, que tratava de documentos secretos do Exército sobre a repressão a movimentos guerrilheiros ocorrida dez anos antes foi a gota d’água”, diz Guimaraens. Ele e os jornalistas Elmar Bones, Rosvita Saueressig e Osmar Trindade acabaram processados pelo Exército e condenados à prisão. O recuo dos anunciantes, aliado a questões trabalhistas, levou ao fim da publicação.

Depoimentos
Capitaneado por Clô Barcellos e Rafael Guimaraens, o projeto de resgate histórico do Coojornal é composto por três partes. A primeira é a edição de um livro contando a história do Coojornal e reproduzindo suas melhores reportagens, seguido da produção de um DVD com depoimento de fundadores, associados, colaboradores e apoiadores. A longo prazo, o projeto se completará com a digitalização e respectiva catalogação de todas as edições do Coojornal com a finalidade de pesquisa.

Atualmente, as melhores reportagens estão sendo selecionadas e as falas gravadas, informa o responsável pelo conteúdo editorial, Rafael Guimaraens. “Não queremos uma obra de apenas um autor, mas várias vozes presentes no trabalho porque essa é a característica marcante do Coojornal”, afirma. O lançamento está previsto para abril. O site do projeto traz maiores informações sobre esse importante trabalho de reconstituição histórica, apresentando já alguns depoimentos de jornalistas e outros profissionais que participaram da história do Coojornal.

Barbara Paiva, com agências locais