Anestesistas suspendem cirurgias

Os médicos da Cooperativa Médica do Rio Grande do Norte (Coopmed) não são os únicos a paralisarem o atendimento a cirurgias eletivas nas unidades de saúde do Estado. Desde o dia 30 de dezembro os integrantes da Cooperativa de Anestesiologistas (Coopanest) também iniciaram uma paralisação parcial dos atendimentos, devido a atrasos nos pagamentos.

De acordo com o presidente da Coopanest, Madson Vidal, desde outubro não são repassados os valores devidos à categoria. Os 100 integrantes da cooperativa cobrem toda a escala de plantão em hospitais de urgência da Grande Natal, além de realizar aproximadamente 3 mil cirurgias eletivas nos hospitais conveniados, uma média de 150 procedimentos a cada dia útil.

Pelos serviços, são pagos em torno de R$ 1 milhão por mês, dos quais 60% vêm do governo do estado e 40% da prefeitura de Natal. Segundo Madson Vidal, governo e prefeitura estão atrasados nos repasses de outubro e novembro. A planilha de dezembro ainda não havia sido fechada até ontem. O presidente da Cooperativa declarou que se nada for feito até o dia 31 deste mês, o contrato será rescindido e o poder público terá de assumir todos os serviços.

Convênios

O secretário de Saúde de Natal, Thiago Trindade, afirmou que o Município já pactuou com a Coopanest o pagamento dos valores ainda não quitados e que parte do repasse foi feito no final de dezembro e outras parcelas seriam pagas no início deste mês. “Iremos procurar o novo secretário Estadual de Saúde, Domício Arruda, que certamente está a par do assunto, para discutirmos convênios como esse”, enfatizou.

Madson Vidal, no entanto, deixou claro que o atraso também inclui prefeitura de Natal e governo do Estado e afirmou que não basta que apenas um dos dois quite parte do débito. “Se a Prefeitura pagar os 40% que lhe cabem não resolve, precisa ser pago tudo”, reforça. A Coopanest mantém contratos com o poder público do Rio Grande do Norte há 15 anos e o atual, assinado diretamente com a Prefeitura de Natal em julho de 2010, tem validade de cinco anos, com previsão de renovação a cada 12 meses.

A determinação dos anestesistas, tomada em reunião no último dia 29, foi de manter a escala de plantão e atender apenas cirurgias eletivas que, caso não sejam realizadas, possam resultar em riscos ao paciente.

Neurocirurgiões

Os neurocirurgiões que atendem nos hospitais Walfredo Gurgel, Tarcísio Maia e Deoclécio Marques não paralisarão os atendimentos, pelo menos neste início de ano. Apesar de estarem há três meses sem receber os pagamentos e a dívida acumulada já atingir aproximadamente R$ 1,6 milhão, os 21 especialistas irão manter os serviços.

De acordo com o chefe do setor de Neurocirurgia do Walfredo Gurgel, Luciano Araújo, não há ainda base legal para a paralisação. Além disso, a categoria pretende dar um “voto de confiança” à nova gestão, uma vez que o estado foi assumido pelo novo governo com inúmeras dívidas a pagar. “Deixaram um triste legado para os novos governantes. Um legado que resultou inclusive na pior crise de abastecimento da história do Walfredo Gurgel”, lamentou.

Os neurocirurgiões já foram informados de que o orçamento deste ano só deverá ser “aberto” em fevereiro e até lá há poucas possibilidades de virem a receber os valores atrasados. “Esperamos que o problema seja resolvido o quanto antes”, concluiu Luciano Araújo.

Pacientes lotam corredores do Walfredo esperando cirurgias

Nos corredores do Hospital Walfredo Gurgel, o maior da rede pública no Rio Grande do Norte, o ano novo começou sem nenhuma novidade ou indício de mudanças na crise do atendimento. 52 pacientes, sem contar os acompanhantes, estavam em macas nos corredores do pronto socorro, na manhã de ontem, à espera de cirurgia ortopédicas.

Um desses paciente era José Ronaldo Faustino, de 22 anos, que chegou ao hospital ainda antes das festas natalinas. “Estou aqui há nove dias e minha esperança é que seja encaminhado para cirurgia ainda esta semana”, contou ele. Residente no município de Montanhas (a 87 km da capital) José sofreu um acidente de moto e teme perder o emprego de segurança.

Mas, ele não era o único que vem perdendo dinheiro, tempo e trabalho devido à demora na realização das cirurgias. A família do garoto Joadson Santos, de 11 anos, internado com fratura em um braço, também tem passado dias no hospital. Ontem, completou-se 10 dias desde o incidente com o garoto durante uma brincadeira.

“A gente não tem apoio de ninguém aqui e continuamos esperando sem saber quando vai ser a cirurgia dele”, lamentou a mãe, Rosineide Costa dos Santos. Operário na construção civil, o pai de Joadson, João Fidélis da Silva, também vem sendo obrigado a faltar ao trabalho para dar assistência ao filho. “A gente deseja que as coisas se resolvam o quanto antes”, afirma. Nos corredores do pronto socorro Clóvis Sarinho, dezenas de idosos, adultos e jovens como José Ronaldo e Joadson Santos também aguardam uma definição.

A greve da Coopmed, um dos motivos para a fila a espera das cirurgias, teve início no dia 27 de dezembro, por conta dos atrasos no pagamento dos serviços, cuja dívida já somam em torno de R$ 1,8 milhão. Somente os casos de urgência estão sendo atendidos.
 

Jornal Tribuna do Norte