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Caso Battisti: professores da UnB criticam Itália

Após o ex-presidente Lula ter decidido não extraditar o ex-ativista Cesare Battisti, o governo italiano retirou seu embaixador no Brasil e ameaçou entrar com um processo na Corte Internacional de Haia. O premiê Silvio Berlusconi classificou a decisão como “inaceitável”. Segundo professores do Instituto de Relações Internacionais (IREL) da UnB, as possíveis consequências serão mínimas. Eles consideram equivocada a postura diplomática da Itália.

Alcides Vaz considera as primeiras reações da Itália como “descabidas” e “diplomaticamente desastrosas”. “Não vejo crise diplomática. A primeira fala do governo italiano foi fora do tom”, afirma Alcides. Segundo ele, a declaração do ministro das Relações Exteriores italiano, Franco Frattini, nesta terça-feira (4), é uma prova de que o próprio governo reconheceu que pesou a mão. O chanceler descartou que haverá rompimento de acordos bilaterais entre os países em função da decisão. “Isso amenizou a primeira manifestação do governo”, avalia.

Alcides afirma que a decisão de Lula foi correta do ponto de vista jurídico e político. “Ele protelou a decisão para evitar o ônus político. Além disso, evitou desgastar Dilma”, disse. “O melhor é isso mesmo: deixar que o Supremo Tribunal Federal resolva essa questão como ela deve ser solucionada: de maneira jurídica e não política”.

Já o professor Amado Luiz Cervo acredita que existe sim uma crise entre os dois países, mas ela não tem nada a ver com o caso Battisti. “A Itália vem boicotando o Brasil em todas as instâncias internacionais desde o começo do governo Berlusconi”, explica. Segundo ele, as divergências se devem às diferenças entre os perfis dos dois governos: um de esquerda e outro de direita. “É um produto de confrontação de interesses italianos e brasileiros”, diz.

Segundo ele, o país deve continuar enfrentando oposição da Itália nas câmaras internacionais, como já vinha acontecendo. “Não podemos esperar, por exemplo, apoio dos italianos para conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, mas as conseqüências não devem afetar a vida dos brasileiros”, explica.

O professor também considera acertada a decisão de Lula. "Foi coerente com as decisões anteriores das instituições brasileiras e com o perfil político do governo: de esquerda e composto por perseguidos políticos", defende.

Os professores acreditam que, mesmo que a questão seja levada à Corte Internacional de Haia, isso também não irá atrapalhar as relações entre os dois países. "A Corte deve decidir pela permanência", defende Alcidez. Já Amado não arrisca palpite. "Acredito que a Corte irá se dividir, como aconteceu no STF", sustenta.

Fonte: Portal da UnB