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Comunismo: palavra proibida ?

A Alemanha é a pátria de Marx e Engels, autores do célebre Manifesto do Partido Comunista. Há poucos dias, Gesine Lötzsch – a co-presidente do partido Die Linke (A esquerda) que conta com 76 deputados no parlamento alemão -, afirmou que: “Os caminhos para o comunismo só podem ser encontrados caso os trilhemos, provando-os tanto na oposição, quanto no governo.”

O artigo desencadeou polêmico debate no país, inclusive nos principais meios de comunicação, recolocando na cena pública um tema que já havia sido considerado enterrado por aqueles que há pouco tempo aderiram à ideia do “fim da história”, proclamada por Francis Fukuyama e depois revisada por ele mesmo. O partido conservador CSU ( União Democrática Cristã ), que na realidade é o mesmo partido da chanceler alemã Angela Merkel, insinuou a abertura de processo judicial constitucional para cassar o registro legal do partido A Esquerda.

Mas o que disse Gesine Lötzsch ? Seu discurso foi pronunciado no debate “Por favor, como chegar ao comunismo ? Reformismo de esquerda ou estratégia revolucionária – saídas do capitalismo”, como parte da Conferência Rosa Luxemburgo organizada pelo jornal Junge Welt (Mundo Jovem) em Berlim e que contou com um público recorde de cerca de 2.500 participantes. Vejamos os trechos principais do pronunciamento da co-presidente do partido A esquerda:

Thomas Edison teria dito: “Eu não fracassei. Eu apenas descobri 10.000 caminhos que não levam a nada.” Que extraordinária consciência ! E a esquerda, quantos caminhos descobriu que não levam a nada ? Foram 100 ou 1000 ? Com certeza, não foram 10.000 ! Aqui está o problema ! Muito frequentemente estamos com o dedo no mapa buscando caminhos. Os caminhos para o comunismo só podem ser encontrados caso os trilhemos, tanto no governo, como na oposição. De todo modo, não haverá apenas um caminho, mas muitos e diferentes caminhos que levem a esse objetivo.

Conquista progressiva do poder


Qualquer que seja o caminho a ser trilhado, unifica-nos a ideia de que ele será longo e pedregoso. Mas por que exatamente ?

Supondo que o euro enquanto moeda arruine-se nos próximos dois anos, que a União Europeia se rompa, que os Estados Unidos da América não consiga sair da crise e, nas próximas eleições presidenciais, o seu governo seja conquistado pelos cristãos fundamentalistas. A situação mundial transformar-se-ia dramaticamente. Supondo ainda que o fluxo de energia do Golfo seque , que as levas de refugiados inundem a “fortaleza” Europa. Quem afirme possuir na gaveta uma estratégia para tal cenário, é um impostor. O que nós deviamos poder apresentar é um método para o enfrentamento desse conjunto de problemas. E no caso da esquerda, olhando para a história, perguntariamos: Como você teria reagido sob tais condições ? Hoje, nós somos de fato mais inteligentes ? Aprendemos realmente com nossos erros ?

Durante a Revolução de 1918 e 1919, Rosa Luxemburgo afirmou: “Dessa forma, a conquista do poder não pode se dar de uma só vez, mas deve ser progressiva, nos impondo a conquista de todas as posições no Estado burguês até ocuparmos todas, defendendo-as com unhas e dentes. E também a luta econômica, segundo a minha concepção e a de meus colegas de partido mais próximos, deve ser travada pelos conselhos operários.”

Tática política revolucionária

Para mim, uma política da esquerda em geral e a política do partido A Esquerda coloca-se nessa desafiadora tradição de uma tática política radical e transformadora da sociedade. Naturalmente, estou consciente de que uma tática política radical comporta contradições e conflitos, exigindo de nós transformação e auto-transformação. Porém, isso não é fácil.
O partido A esquerda , oriundo do antigo Partido do Socialismo Democrático (PDS, reorganizado na sequência da queda do muro de Berlim, em 1989, com o fim da República Democrática da Alemanha e o partido governante SED – Partido Socialista Unificado da Alemanha ), que lutou contra o caminho de um mercado capitalista radical, contra a ação militar da Otan na Iugoslávia e as reformas Hartz-IV (que suprimiu direitos sociais ) provocando manifestações populares nos estados do Leste alemão. Ele surgiu ainda da ruptura de muitos líderes sindicais de esquerda, de colegas da universidade com o governo do Partido Social Democrata Alemão (SPD), então no governo com o Partido Verde. Tal processo de ruptura levou à criação da Alternativa Eleitoral Trabalho e Justiça Social (WASG). Juntos – PDS e WASG -, recolocaram no centro da política nacional a questão social e a da paz durante a campanha eleitoral de 2005.

Em 2009, já como partido A esquerda, consquitamos uma forte representação parlamentar e formulamos respostas concretas para a crise do capitalismo financeiro de mercado. O partido A esquerda foi o único que, ao lado de sindicatos e movimentos sociais, colocou a questão da propriedade privada sob a ótica da esquerda.

Por um lado, nós queremos apresentar soluções para os problemas sociais do país, abordando também a questão ecológica. Nesse sentido, defendemos uma redistribuição de cima para baixo e do orçamento privado para o orçamento público. Só assim é possível abordar também uma verdadeira política de desenvolvimento solidário que contribua para a paz.

Por uma mudança de rumo

Em nosso país, ainda prevalece a política que beneficia os interesses das grandes multinacionais e dos super-ricos. Mas a sua continuidade provoca sérias consequências. Já se notam os sinais de uma nova e mais profunda crise financeira e econômica. A União Europeia vê sua existência ameaçada com suas contradições não resolvidas, e por sua política anti-social. No mundo, a fome aumentou dramaticamente; e o aquecimento global continua em ritmo acelerado.

No centro de nossa política está ainda a questão da paz. Para nós, os principais problemas do mundo de hoje não podem ser resolvidos pelo uso da força militar.

Liberdade e socialismo

O século 20 caracterizou-se por períodos de expansão acelerada do capitalismo. Mas com isso, ele atingiu os limites da natureza na terra. Por isso, pergunta-se quando será a próxima catástrofe natural. O mesmo que acontece no plano social. Só poderemos sair de um mundo que forma centros privilegiados, enclausurados em fortalezas e causador de insegurança global, através da ação comum e do desenvolvimento conjunto. Ainda precisamos de muita luta no capitalismo para que o socialismo democrático possa colocar-se como alternativa de futuro.

Fonte: Junge Welt
Tradutor Luciano C. Martorano