Capistrano: A trindade maléfica do capitalismo

O ex-ministro Antonio Delfim Neto tem uma coluna na Revista CartaCapital denominada “Sextante”, sempre tratando sobre economia. Mesmo discordando da sua visão neoliberal, gosto de ler os seus escritos, Delfin escreve muito bem. A direita brasileira sempre teve competentes quadros na área econômica, lembro aqui as figuras de Roberto Campos e Mário H. Simonsen, não é por menos que essa turma está no poder a tanto tempo.

Capitalismo
Em março de 2005 a revista CartaCapital trouxe um excelente artigo de Delfim Neto com o titulo “A trindade maléfica”. Delfin, nesse artigo, relembra o professor Paul Hugon, um francês que em 1948 ministrou na USP a disciplina Introdução a Economia Política. Segundo Delfin, o professor Paul Hugon trouxe conceitos novos e uma metodologia moderna para compreensão da economia capitalista, ele distribuiu em uma das suas aulas, para discutir e debater, com os seus alunos, entre eles Delfim Neto, o segundo capítulo do livro Economia para Democratas, de Geoffrey Crowther, livro publicado em 1939. O capítulo intitulava-se “A trindade maléfica”. Delfin, diz nesse artigo que o professor Paul Hugon escolheu esse capítulo com o objetivo de “controlar o nosso encantamento sobre as virtudes e as vantagens da organização capitalista”.
Esse texto explora os três defeitos, segundo ele, que desde sempre acompanham o capitalismo, defeitos que ele denominou de “A trindade Maléfica”:

1) A sua convivência com a extrema pobreza;
2) A permanência de extremas desigualdades na distribuição de renda;
3) A sua tendência a produzir flutuações no nível de atividade, acompanhadas por flutuações no emprego.

O capitalismo é isso mesmo. É essa trindade maléfica que domina o mundo há 500 anos, é um cancro dos mais nocivos à vida de todos os povos.

O capitalismo vive da miséria, da mais-valia, da exploração do trabalho e das riquezas dos povos periféricos, tendo como objeto principal o lucro.

O próprio Delfin reconhece essa situação, mas, como um bom liberal diz que, “sob pena de produzir novas aventuras políticas o capitalismo tem que encontrar meios de implantar certa justiça distributiva, para corrigir, com políticas sociais inteligentes, a extrema pobreza e a escandalosa desigualdade”. Ele chama de novas aventuras políticas o pensamento socialista e marxista que nasceu no século 19 e solidificou-se no século 20.

Esse paliativo não interessa a classe trabalhadora, o que interessa é uma sociedade justa onde todos tenham as mesmas oportunidades. A visão neoliberal de que pobreza é destino ou preguiça e que a solução está nas mãos da bondade privada ou do assistencialismo do estado, o pensamento marxista derrubou com a concepção materialista da história, a pobreza é resultado das relações econômicas e sociais injustas. Já dizia Josué de Castro “a fome é um problema político”.

O que o liberalismo deseja com os seus programas de redução da pobreza e estratégia de inclusão social é tapar o sol com a peneira, não resolve o problema é apenas um amortecedor social. A cada dia a situação se agrava, a miséria aumenta e a violência se torna insuportável, principalmente no mundo periférico. O neoliberalismo fracassou como modelo econômico.

Os países capitalistas não conseguiram resolver as desigualdades sociais nos seus próprios territórios, a pobreza, o desemprego vem aumentando nos países ricos, até porque a essência do capitalismo é a ganância por mais lucros, uma prova são os Estados Unidos, símbolo maior do capitalismo, lá cada dia aumenta o número de pobres.

Diminuir os custos da produção e faturar mais é o que interessa ao sistema capitalista, mesmo que isso signifique desemprego, miséria, guerras e genocídios. As conseqüências do modelo capitalista tem sido maléfica para a humanidade. As crises cíclicas do capitalismo, como a de 1929 e a de hoje, fazem parte do sistema, são benéficas para ele, o capitalismo se revigora com cada crise que ele mesmo cria, o estado está ao seu serviço e o socorre nesses momentos.

Concordo com o ex-ministro Delfim Neto, esses três defeitos sempre acompanharam o capitalismo: a extrema pobreza, a desigualdade na distribuição de renda e a instabilidade dos ciclos econômicos. Só existe um caminho, é o socialismo. A democracia capitalista é ilusória, a maioria da população dos países capitalistas está excluída das benesses do sistema. Só o socialismo pode propiciar as condições de uma verdadeira democracia.

 

Antonio Capistrano foi reitor da UERN é filiado ao PCdoB