Antonieta Trindade analisa desafios da CNTE

Nova secretária de saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Antonieta Trindade, dá sua opinião sobre as prioridades dos trabalhadores discutidas no 31° Congresso da CNTE.

Antonieta Trindade

Antonieta Trindade,vice- presidente do Sintepe e integrante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) compôs a chapa que reelegeu o presidente Roberto Franklin de Leão, da Apeoesp/SP, que obteve 82% dos votos dos mais de 2 mil delegados credenciados. A nova gestão ficará a frente da CNTE pelo próximo triênio (2011-2013).

Caderno Pernambucano: Em sua opinião, qual a avaliação do resultado final do congresso?

Antonieta Trindade: O congresso foi muito representativo porque foram credenciados 2.027 delegados de todo Brasil. E do ponto de vista do debate houve um interesse muito grande dos delegados em participar dos trabalhos, como também do debate no plenário. Havia muita unidade do ponto de vista das resoluções que são apresentadas pela diretoria da CNTE, muita unidade também na questão educacional e no plano de lutas, todas tiveram como centro o debate relacionado à necessidade de estabelecermos no país um novo projeto nacional de desenvolvimento que contemple o direito a educação, o Plano Nacional da Educação e a valorização do professor centralizada no Piso Nacional que ainda permanece em discussão.

Houve esforço de fusões das resoluções, o documento final do congresso é a síntese da resolução sindical, da articulação sindical, CSD, CTB, articulação de esquerda e da corrente o trabalho. Em relação ao plano nacional de educação nós aprovamos que é necessário investir 10% do PIB, então podemos dizer que esta é uma questão que vamos lutar muito ainda, como também na questão da valorização profissional, porque o MEC aponta que no período de 10 anos o professor deveria receber um salário médio equivalente aquele salário que recebem os servidores que tem a mesma formação . Em contra partida acreditamos que precisamos de um espaço menor que 10 anos, porque a situação atual já é difícil e daí ter que esperar mais uma década para poder corrigir a ausência da valorização profissional é complicado.

CP: Diante desta situação salarial, há uma probabilidade de haver carência de professores?

AT: Há uma expectativa de termos que passar sim por uma carência de professores. Como hoje, em PE, temos na área de física, biologia, química e matemática. Além disso, na maioria dos Estados vão ocorrer aposentadorias. Em nosso Estado, neste ano, temos uma media de 2 mil professores que vão se aposentar em fevereiro. Por vários motivos, nossa situação atual é que temos muitas vagas que abrem para professores, mas poucos se interessam em ingressar na carreira.

Existem outros problemas que também devem ser pensados, como esta questão da dedicação exclusiva, onde o professor teria de ser de uma única escola para ter mais tempo para estudar e se profissionalizar, como também a adoção nacional da meritocracia para avaliar os professores, que no nosso entendimento esta política não avalia o desempenho destes profissionais e estabelece restrições à participação na luta sindical.Ainda há a questão das metas que devem ser cumpridas, alguns bônus que são recebidos e restrições que vem sendo estabelecidas pelas escolas e que têm causado conflitos nesses ambientes de trabalho, por que geraram uma concorrência interna.

CP: Você não acha que há neste sentido uma distorção do caráter do serviço público, porque ao invés de investir na qualidade de vida do profissional, no conteúdo educacional, fica uma briga, onde parece que os problemas são tratados superficialmente?

AT: Na verdade, o estado tem retirado varias turmas do ensino médio, tem redirecionado os estudantes de certas faixas etárias e colocado no programa Travessia, porque a preocupação é de melhorar os índices nas avaliações do MEC para que o Estado fique numa melhor colocação. O que podemos ver é que esta melhoria dos índices não se dá na mesma proporção em deveria estar à qualidade. Porque esses programas têm como objetivo dar o certificado ao aluno em 18 meses, mas do ponto de vista do conhecimento ele não avança.

E voltando a esta questão dos problemas serem tratados superficialmente, em entrevista recente que o Secretário deu a um determinado blog, ele disse que os professores faltam muito. Então eu pergunto: por que motivo eles faltam? Eles faltam por problemas de saúde, depressão, síndrome do pânico, falta de estimulo em consequencia da desvalorização salarial e profissional, etc.

CP: No congresso foi discutido o novo Plano Nacional de Educação. É um novo plano?

AT: É sim, a cada 10 anos se faz um plano novo,proposto pelo MEC. Este plano entrará em vigor agora em 2011.

CP: Qual a expectativa do congresso sobre este Plano?

AT: O projeto foi encaminhado pelo Ministério da Educação, entretanto ele é ainda tímido com relação ao financiamento, em relação à valorização profissional também. A expectativa que se tem é que possamos ter debates no movimento sindical até que seja aprovado no congresso, ou seja, vamos fazer articulações com outras entidades da educação, as entidades acadêmicas, intervir em debates nos Estados e municípios. Recife já tem uma proposta preliminar que está sendo discutida. Acreditamos que não vamos ter nenhum problema em democratizar o debate, para que o plano corresponda ao que foi tão debatido e falado durante as eleições,e represente todo o debate e deliberações da CONAE.

CP: O que os professores esperam em relação ao Governo Dilma?

AT: Nossa esperança é que possamos avançar mais na questão educacional e valorização profissional. Entretanto, já aprovamos a realização de uma marcha para Brasília, ainda neste semestre, para avançar na questão dos detalhes sobre piso salarial, qualidade no ensino, etc.

CP: Fale sobre a nova direção da CNTE.

AT: Houve três chapas, onde a chapa vencedora teve 82% dos votos e ela é composta por todas as correntes da CUT e pela CTB. No geral, haverá uma continuidade por parte da direção, onde o presidente e o vice também foram reeleitos, mas houve algumas mudanças porque alguns diretores foram ocupar cargos no governo.

CP: E a CTB no Congresso?

AT: A CTB participou com 15% dos delegados, com muita interação e unidade nas questões em evidência. A delegação de Pernambuco totalizou 62 delegados, sendo 55 vinculados ao SINTEPE, 4 ao SINPROJA e 3 ao SIMPERE. Desse total, 20 delegados são da CTB.

CP: Recentemente foi divulgado que Pernambuco irá contratar mais 4.500 professores temporários. Fale-nos um pouco sobre isso.

AT: Vivemos em um tempo em que temos mais professores temporários na historia do Estado. São 18 mil contratos temporários e ainda vão entrar mais 4.500. Enquanto isso acontece, temos ainda professores que passaram no último concurso, mas que ainda não foram convocados. Isso é ruim para o projeto pedagógico da escola.. A contratação temporária onera o Estado, nem sempre o pré-requisito é a qualidade do conhecimento. Outro problema é que com o fechamento de algumas turmas, muitos professores efetivos estão sem turma e acabam ficando na gerência regional de educação.

Nossa expectativa é que haja uma valorização através de investimentos do ensino regular. No governo de Arraes, tínhamos uma equipe de ensino que ora trabalhava dando aula ora participava de capacitações.

E como o Governo trabalha com o Instituto Nacional Desenvolvimento Gerencial (INDG), que presta assessoria a área gerencial do Governo, é quem estabelece as regras para manter um controle de varias áreas do Estado, inclusive a educação.

Na educação publica você tem varias maneiras de investir na formação de jovens e adultos que apresentam distorção entre a idade e a série que frequentam , mas o Estado tem se apoiado em empresas privadas como o programa Travessia,da Fundação Roberto Marinho. Com relação ao conteúdo, não há como o Governo interferir nesses programas, que são métodos de gestão educacional privado. Esta situação tem trazido restrições na liberdade de ensino que o professor tinha dentro da sala de aula. A pressão em cima dos professores tem sido grande, no sentido de evitar o debate, o senso crítico e a participação política e sindical.

CP: Como está a questão do piso salarial em Pernambuco?

AT: Essa questão é um problema em todo o Brasil. Hoje o MEC considera o valor de R$ 1,024 por 40 horas de jornada de trabalho, desconsiderando alguns reajustes. Na nossa avaliação seria R$ 1.312 , mas os Estados cumprem o valor do MEC, o que complicou para muitos professores que só trabalham 30 horas e que recebem na faixa dos R$700,00. Esperamos que nesta nova gestão com Dilma, possamos avançar nesta questão.

Do Recife,
Elaine de Paula.