Baleia Rossi: 'Transição do PMDB em SP não terá caça às bruxas'

Confira abaixo a entrevista do deputado estadual e presidente interino do PMDB-SP, Baleia Rossi, ao jornal O Estado de S. Paulo. Rossi promete uma transição "democrática, sem caça às bruxas". Outro membros da comissão provisória presidida por ele, no entanto, afirmam que será necessário intervir em algumas das regionais. O objetivo é controlar os diretórios das grandes cidades que não atingiram o porcentual. Considerado infiel, o diretório de São João da Boa Vista, no interior do Estado, já teve seu registro negado no início da semana.

Leia a íntegra da entrevista

Estadão: Quais são as prioridades da comissão provisória que assumiu o PMDB de São Paulo?
Baleia Rossi: Fizemos na terça-feira a primeira reunião de trabalho para estabelecer metas, para debater um pouco as ideias e definir quais sãos os planos do partido. Tudo vai acontecer com muita tranquilidade, respeitando todas as lideranças.

Estadão: E quais foram as conclusões desses primeiros encontros?
BR:
O que nós tiramos dessa primeira reunião foi exatamente a busca da fidelidade partidária por parte dos companheiros do PMDB. Nós fizemos um estudo com a porcentagem de votos que o PMDB teve por município para deputado federal e estadual, e estamos comparando com o resultado da eleição de 2008 para vereador e prefeito. E o que a gente percebe é que na grande parte dos municípios, o PMDB tem um desempenho municipal forte, importante, que não se traduz no resultado da eleição estadual. Isso demonstra que o município está distante do projeto do Estado. E quando analisamos o resultado da eleição do ano passado, a gente vê que o PMDB está perdendo força.

Desde que o PMDB deixou o governo do Estado de São Paulo, com Montoro, Quércia e Fleury, o partido está se esvaziando. Nós tivemos um resultado extremamente preocupante como partido. De 71 deputados federais, nós elegemos um. E de 94 deputados estaduais, nós elegemos quatro. Nós achamos que, pra começarmos um trabalho de aproximação do diretório estadual com o os municípios, temos que ter um critério. E o que nós estamos discutindo, e vamos colocar em prática, é a resolução que foi votada em julho do ano passado, da qual todos os companheiros foram comunicados, em que o partido pedia o mínimo de 5% de votos para deputados estaduais ou federais para que o PMDB trabalhasse para o próprio PMDB. Mas, infelizmente, nós não conseguimos alcançar esse objetivo nessa eleição de 2010.

Estadão: Essa resolução prevê algum tipo de punição para os diretórios que não alcançaram esse porcentual?
BR
: Nós vamos fazer isso de forma muito democrática. Não estamos definindo nenhum tipo de punição, mas estamos encaminhando questionamentos para os presidentes dos diretórios para que eles expliquem por que o PMDB no município não obteve um resultado minimamente razoável. Então, com esse quadro comparativo que nós temos, nós vamos abrir o diálogo com o diretório municipal com o objetivo de crescermos no futuro, sem repetir erros. Claro que nós vamos tratar caso a caso, de forma democrática, sem caça às bruxas, sem perseguição. Porque o objetivo não é diminuir o partido, é fazê-lo crescer.

Estadão: Qual deve ser as estratégia para que o partido traga novas lideranças e ganhe musculatura no Estado?
BR
: O grande espelho, a grande referência do partido hoje é o vice-presidente Michel Temer. Acho que foi muito importante a participação do Michel como vice da presidente Dilma. O Michel já é a grande liderança do partido no sentido de ter um projeto para apresentar para as pessoas participarem do PMDB. Acho que o sucesso que o Michel teve na eleição e na condução do partido nacionalmente é um exemplo que nós temos que seguir na aplicação aqui no Estado de São Paulo. Claro que, além da liderança do Michel, nós queremos buscar novas lideranças. Nós queremos fazer com que o partido, respeitando as suas lideranças mais tradicionais e que já militam hoje, possa abrir suas portas para a sociedade. Fazer com que lideranças empresariais, do movimento estudantil, sindical, das igrejas, enfim, participem da política através do PDMB.

Estadão
: O PMDB faz parte do governo do PT na esfera federal e, aqui em São Paulo, compõe com o PSDB. O Sr. não acha que isso acaba reforçando a ideia de que o PMDB está sempre com quem está no poder, sem ter um projeto próprio?
BR:
Isso foi fruto do que aconteceu na última eleição. O projeto que nós temos hoje para o PMDB é um projeto próprio. É um projeto de crescimento do partido. O PMDB não quer ser partido secundário de nenhuma outra legenda. Porque se nós tivermos uma orientação ou um trabalho "linkado" com qualquer outro partido, nós vamos diminuir ainda mais a força do partido. O partido vai buscar o seu crescimento, vai buscar o maior número possível de candidatos a prefeito, vice-prefeito, vereadores. E claro que o crescimento do partido em São Paulo é fundamental porque é o berço do partido. Tem em sua história o Ulysses Guimarães, o ex-governador Quércia, e outras lideranças. E hoje, infelizmente, o PMDB acabou se apequenando.

Estadão: A ideia é que nas próximas eleições o partido tenha mais candidatos próprios?
BR:
A ideia é o maior número possível de candidatos a prefeito. No mínimo vice, nas chapas de composição. Para que o PMDB saia fortalecido da urna.

Estadão: O Sr. diria hoje que tem 100% de certeza de que o PMDB terá candidato próprio aqui na capital?
BR
: Nós vamos buscar isso. Inclusive, nós temos o diretório municipal, que é comandado pelo Bebeto Haddad, que é uma liderança importante do partido, e nós vamos trabalhar juntos no sentido de o partido ter candidato próprio na capital. Por quê? Porque a candidatura na capital acaba refletindo em todo o Estado de São Paulo. Daí a importância de trabalharmos juntos no sentido de encontrar um bom candidato, um candidato competitivo, porque acaba repercutindo positivamente em todo o Estado.

Estadão
: O Sr. é filho do ministro Wagner Rossi, que é aliado de primeira hora do vice-presidente Michel Temer, e está como presidente provisório do partido aqui em São Paulo. Em novembro, o PMDB de São Paulo deve realizar eleições internas. O sr. é candidato a presidência do PMDB em São Paulo?
BR:
Vai depender do trabalho que nós vamos fazer na provisória. Claro que, quando eu tive essa oportunidade de assumir a provisória, pra mim foi muito importante. Eu milito já há 20 anos no PMDB. Estou com 18 anos de mandato. Fui dez anos vereador em Ribeirão Preto, estou completando oito anos como deputado estadual e vou pro terceiro mandato. Sempre no PMDB, sempre militando no partido, então é claro que se a gente fizer um bom trabalho no comando da provisória, vou colocar meu nome à disposição do partido pra continuidade desse trabalho.

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Fonte: O Estado de S. Paulo