Sem categoria

Mino Carta: réplica a Raimundo Pereira; uma rima, sem solução

No editorial da edição de 22 de dezembro passado soletrava minha surpresa com a publicação de um livro de Raimundo Pereira, intitulado O Escândalo Daniel Dantas. E sublinhava: fosse da autoria dos advogados do banqueiro orelhudo pareceria a nós de CartaCapital em tudo e por tudo justificado. Causava espanto, isto sim, a autoria da obra: Raimundo é conhecido pela seriedade do seu trabalho.

Por Mino Carta, na CartaCapital

Ele responde ao meu editorial, e eu me abalo à réplica, ponto por ponto.

Reproduzo: “Prezado Mino: 1 – Eu lhe mostrei A Provação do Braz, uma das peças importantes da minha investigação sobre o caso Dantas, antes de ela ser publicada no Retrato do Brasil em 2008. E disse ao Sergio Lirio (redator-chefe de CartaCapital) na mesma época, que considerar o Citibank honesto e Dantas desonesto era, no mínimo, uma ingenuidade”.

Réplica: de fato mostrou a peça destinada a provar que a tentativa de suborno de policiais por parte de Dantas não passava de uma fraude urdida com a colaboração da Globo. Não me convenceu, mas lembrei a ele que era dono do seu próprio nariz. No mais, afirmo alto e bom som, como um editorial do Estadão: CartaCapital nunca sustentou que o Citibank é honesto.

Resposta de Raimundo: “2 – Até o mundo mineral sabe que, para criticar um livro, é preciso antes lê-lo. E você, ao que tudo indica, não leu”.

Réplica: tentei iniciar a leitura, entendi do que se tratava e preferi poupar-me de dissabores. Há pessoas da minha confiança que leram e me proporcionaram um relato preciso e até exaustivo demais. Mesmo assim, não critiquei o livro que Raimundo me deu juntamente com o presente precioso, uma série de ensaios sobre John Ford, cerca de um mês antes do meu questionado editorial. Disse a ele, pelo telefone: “Concordamos quanto a Ford, discordamos quanto a Dantas”.

Resposta de Raimundo: “3 – Eu não disse no livro, nem a ninguém, que os jornalistas processados pelo orelhudo são ‘mercenários’”.

Réplica: Raimundo há de ter notado, e o mundo mineral certamente notou, que eu só me pronunciei a respeito do livro depois de uma entrevista dele à Folha de S.Paulo. O único ninguém que conheço é Ulisses, o Odisseu, quando capturado pelo ciclope. O entrevistador da Folha atende pelo nome de Frederico Vasconcelos, alguém, sem dúvida, ao qual Raimundo disse que por trás das reportagens publicadas contra DD “estavam os fundos de pensão, a canadense TIW, a Telecom Italia e Luiz Roberto Demarco”. No editorial escrevi com todas as letras que Raimundo evidentemente acusava CartaCapital e outros críticos do banqueiro de ter-se prestado “a um jogo sujo”, sem esclarecer “a que preço”. Raimundo esclarecia, porém, o número de reportagens publicadas contra DD por CartaCapital, contadas com diligência escolar.

Resposta de Raimundo: “4 – Você e eu somos amigos, por quinhentas razões. Entre elas não se inclui o fato de participarmos de uma confraria formada para atacar Dantas”.

Réplica: concordo com as quinhentas razões, faltou a quingentésima primeira. Quem me conhece, e conhece outros que Raimundo acusa, sabe que não formamos uma confraria para atacar o orelhudo. E confraria soa muito mal, pessimamente. Cada qual por conta própria enxergou em Dantas o que ele é, astuto aproveitador de oportunidades conseguidas pela informação privilegiada, pela corrupção e pela chantagem, praticadas no raio mais amplo e às vezes nas alturas do poder contingente. Desvendar as mazelas do orelhudo é tarefa para bravos, ele conta com proteção graúda e anda pelos labirintos da política nativa como se estivesse na sua sala de estar. Não é por acaso que ao ser preso pela segunda vez no tempo da Satiagraha ameaçou revelar tudo, e só os fados gregos sabem do tamanho deste “tudo”. Sem contar aquilo que nos acostumamos a chamar de “mensalão”, onde também aparece a digital dele.

Raimundo afirma que o nosso é mau jornalismo. Na minha visão, no caso o dele nem é jornalismo, é a defesa paradoxal (ou o elogio?) do mais conspícuo herói da predação nativa. Ainda nos acusa de servir a interesses escusos, e também de ingenuidade. Eu espero por quinhentas boas razões que a ingenuidade seja dele. Mas que Luiz Eduardo Greenhalgh esteja por trás do seu livro ele próprio admite. Pois é, Greenhalgh, notável do PT. Na qualidade de advogado de Dantas assumiu sua defesa enquanto o banqueiro entregava à revista Veja um farto dossiê em que o próprio presidente Lula era apontado como titular de uma conta secreta em algum paraíso fiscal. Isto sim é fidelidade, demonstrada por mais um varão de Plutarco da pseudoesquerda verde-amarela. Sublinho, pseudo.