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Peru: Fujimori coordena campanha da filha da prisão, diz jornal

A campanha política da candidata às eleições presidenciais do Peru Keiko Fujimori vem sendo arquitetada diretamente pelo pai, o ex-presidente Alberto Fujimori, preso desde 2007. De acordo com denúncia feita pelo jornal peruano La Republica, a cela onde Fujimori cumpre pena, na Direção de Operações Especiais da Polícia (Diroes), e outro imóveis alugados ao redor do prédio, formam o comitê da candidata pelo partido Força 2011.

Keiko Fujimori era a favorita na corrida pela presidência em junho de 2010, porém, ela ocupa atualmente o terceiro lugar nas intenções de voto, segundo pesquisas feitas em janeiro e fevereiro pelas agências CPI, IOP, Datum e Imasen. As eleições acontecem em abril de 2011.

Conforme informou o La Republica, que monitorou as movimentações em frente à sede policial durante 47 dias, os fujimoristas alugaram três casas vizinhas ao Diroes. Um dos imóveis imprime propaganda eleitoral; o outro, armazena material de campanha e brindes que o filho caçula de Fujimori, Kenji, entrega na campanha e o terceiro funciona como alojamento para os militantes. Além disso, a região externa da sede policial é um estacionamento do partido.

Após a divulgação da reportagem, publicada na terça-feira (08/02), políticos fujimoristas e pré-candidatos ao Congresso pelo Força 2011 confirmaram que fazem visitas a Fujimori na Diroes como um passo prévio para a formação da lista de aspirantes ao parlamento.

Percy Medina, secretário-executivo da Transparência, entidade de observação eleitoral, afirmou ao Opera Mundi que não há nenhum impedimento legal na atitude do Força 2011. “O ex-presidente só tem suspensos alguns direitos políticos, como o de votar e ser eleito, mas não o de opinar e estar filiado”, explicou.

Segundo ele, o ex-presidente ainda detém total controle de seus correligionários. “Para se envolver no processo eleitoral, é preciso fazer a visita de praxe à Diroes. Fujimori é o líder do fujimorismo. Os fujimoristas não vêem problema nisso, não é nada de mais para eles”.

Opera Mundi consultou a unidade de fiscalização do JNE (Jurado Nacional de Eleições), órgão que sanciona infrações à lei eleitoral do Peru, que explicou que em breve será feita uma investigação sobre o caso, porém, o tema compete à Polícia Nacional e ao Ministério da Justiça.

O Instituto Nacional Penitenciário, que administra a Diroes, pertence ao ministério. Recentemente, o ex-ministro de Justiça e o ex-ministro do Interior aprovaram a ampliação da área ocupada por Fujimori, passando de 404 para 10.050 metros quadrados. O ex-titular do Interior, Octavio Salazar, é candidato ao Congresso pelo Força 2011.

Uma investigação da revista Caretas revelou que, em 2010, Fujimori recebeu simultaneamente até 180 visitantes em um só dia, entre eles, congressistas que permaneciam até a madrugada.

Consultado por jornalistas sobre o escândalo, o presidente Alan García contemporizou. “Contanto que [Fujimori] cumpra suas restrições carcerárias e não saia de lá, vejo o regime de visitas como inevitável. Que aproveite para dar suas ordens e opiniões. Uma pessoa reclusa e sentenciada não perde a condição de ser humano e pode emitir opiniões. Não vejo nenhum problema.”

No entanto, para o secretário-executivo da Transparência, este “benefício” deveria ser estendido a todos os presos. “Será que todos têm um regime de visitas tão flexível? A regra diz que não há limites para visitas no horário estipulado. Mas os parlamentares se utilizam de um direito, que é o de ingressar em qualquer estabelecimento penitenciário para verificar violações de direitos humanos”. De acordo com Medina, fujimoristas aproveitam essa condição para ficarem até de madrugada com o ex-presidente, incluindo seu médico pessoal.

Alianças

O cenário pré-eleitoral peruano guarda outros acontecimentos peculiares. O governista APRA (Partido Aprista Peruano), agremiação com o maior número de militantes no Peru, não competirá pela presidência – somente ao Congresso. O presidente manifestou apoio tanto a Keiko Fujimori como ao o segundo colocado nas pesquisas, Luis Castañeda, ex-prefeito de Lima, da coalizão Solidariedade Nacional. García já manifestou o desejo de se reeleger em 2016.

O ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) ocupa atualmente o primeiro lugar nas pesquisas, com 27% (Apoyo), 31% (Imasen) e 29% (IOP), conforme os intitutos.

A candidatura de Toledo foi inscrita com o nome ‘Aliança Peru Possível’, que inclui seu partido (Peru Possível) e outras duas agremiações menores, em número de militantes e candidatos na lista: Ação Popular e Somos Peru (de direita e centro direita).

Por sua vez, a candidatura do ex-prefeito de Lima inclui seu partido, o Solidariedade Nacional, o Cambio 90 (uma dissidência do fujimorismo) e a União pelo Peru, organização política do ex-secretario geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Javier Pérez de Cuéllar, quando concorreu à presidência do Peru.

Fonte: Opera Mundi