Plínio Bortolotti – Twitter não faz revolução

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Há um equívoco, que transborda em euforia em alguns analistas, ao creditarem qualquer mobilização que ocorra hoje ao poder das chamadas mídias sociais, surgidas com a Internet (Twitter, Facebook, etc.). No Irã, na revolta que se seguiu à contestada eleição de Mahmoud Ahmadinejad, falou-se em "revolução do Twitter"

Agora, com a incrível façanha do povo egípcio, que em 18 dias pôs pra correr um ditador que há 30 anos mandava e desmandava no país, o argumento retorna revigorado " e se fala em "revolução do Facebook".

Lendo-se alguns artigos fica-se com a impressão de que os gadgets tecnológicos (celulares, notebooks, tablets) por si só têm o poder de arrastar multidões: basta um clique. Não é bem assim que a banda toca.

Basta olhar um pouco para trás e verificar que a humanidade em sua penosa história já enfrentou tiranos, já derrubou regimes, já fez revoluções – sem o concurso dessas tecnologias. Gandhi libertou a Índia do jugo britânico com a tática da não-violência: a rede social, ele a formava com suas longas caminhadas; do mesmo modo, Martin Luther King mobilizou milhões contra o apartheid americano. Nenhum dos dois dispunha dos dispositivos que conhecemos hoje. O que possibilitou o surgimento desses líderes foram fatos reais, realizados por pessoas reais, que formavam fortes laços de solidariedade.

As mídias sociais são isso mesmo que dizem o seu nome: meios. Afirmar que o Twitter faz revolução é o mesmo que atribuir aos sinais de fumaça resistência dos índios americanos contra a invasão e suas terras.

As coisas não fazem história. Os homens a fazem, usando os meios (materiais e imateriais) disponíveis em sua época. Se antes os estudantes e revolucionários reuniam-se em cafés fumarentos, escondendo-se da polícia política, hoje eles o fazem usando as assépticas telas os computadores.

Isso não quer dizer, óbvio, que eu desconsidere a importância das mídias sociais e a facilidade de comunicação que elas permitem.

Plínio Bortolotti é jornalista e Diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO

Fonte: O Povo

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