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Carta Maior: o que o IBGE mostra e a ortodoxia despreza

Menos de 24 horas depois de o BC elevar a taxa de juro para 11,75% — medida profilática para desaquecer a economia e conter “pressões inflacionárias” decorrentes do descompasso entre oferta e demanda, explicam os consultores dos mercados financeiros —, o IBGE divulgou dados do PIB de 2010.

O confronto entre os sinais emitidos pela economia real e a decisão do BC deveria inspirar, no mínimo, alguma reflexão em círculos saltitantes, dentro e fora do governo, unidos pela ciranda-cirandinha do “corta-corta”. Vejamos:

a) o PIB brasileiro cresceu 7,5% no ano passado em relação a 2009;

b) a retomada em 2010, todavia, não se mostrou apenas vigorosa na recuperação do tempo perdido: ela foi sobretudo notável na sua consistência;

c) o crescimento do PIB foi puxado, com folgada dianteira, pela formação bruta de capital que registrou um crescimento histórico de 21,8% ;

d) mas foi principalmente a produção de máquinas e equipamentos que impulsionou esse salto na agregação de capacidade produtiva: o avanço nesse segmento atingiu 30,5% em 2010 (havia caído 13,1% no ano anterior);

e) sim, a expansão do consumo também foi robusta. Puxada por ganhos reais de salário e maior disponibilidade de crédito, subiu 7% no ano.

As grandezas, porém, são eloquentes: o investimento em estruturas e máquinas para promover a ampliação da oferta está crescendo a uma velocidade três vezes superior à da demanda corrente.

Diante desse desenho, o que faz o jogral ortodoxo?

Esquece-o para destacar os “desequilíbrios” observados no último trimestre de 2010, quando, de fato, o consumo cresceu quatro vezes mais que a média da economia e a taxa de investimento retrocedeu.

Nenhuma chance à possibilidade de ser um hiato em que o entusiasmo natalino do consumidor se descolou do freio empresarial, compreensível este, à véspera de um novo governo.

Não. Vaticina-se o caos, somente mitigável à base de longa e virulenta dieta de “pão e água”, leia-se, menos investimentos públicos, mais juros. Assim se torna uma profecia autorrealizável.

Fonte: Carta Maior